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24.1.12

PRAÇA PEDRO II




Praça Pedro II, outrora Aquidabã. Não entendi a mudança do nome, que era mais sonoro, romântico e original para o local. Historicamente, não há como se justificar, pois o Imperador jamais pusera os pés no Piauí, nem mesmo os olhos. Tampouco a sua consorte, a quem deram o nome da capital. Falta de imaginação ou puxa-saquismo. Resquício da bajulação reinante no Império.

Foi ali que vi o maior ajuntamento de gente na cidade. Aconteceu no show com vários cantores famosos do Rio, patrocinado pela Vigorelli. Se tudo do Rio de Janeiro já exercia fascínio, aquele espetáculo com os melhores intérpretes da música popular, como Nélson Gonçalves, Orlando Silva, Ângela Maria e Adelaide Chiozzo, dentre outros - só vistos no cinema - era algo encantador, deslumbrante. Arrebatador de público. Ainda mais gratuitamente. Naquela noite, ninguém permaneceu na porta da rua, fugindo do calor e das muriçocas.

Desde cedo, a praça foi recebendo gente. De todos os quadrantes. O palco armado na sua parte superior. À hora marcada para o início do show, a massa presente. As figueiras lotadas de espectadores que não deixaram espaço, nem permitiam que outros subissem, o que me irritava, porque, não encontrando uma posição que me desse visibilidade, ainda não podia subir numa. A molecada não deixava e até me cuspia. Foi quando, providencialmente, apareceu o Cacique que, já acomodado num galho e vendo meu desespero, me chamou e me ajudou a trepar na que estava, embora sob os protestos dos ocupantes. Esse meu companheiro da Quinta Velha, de índio só possuía o apelido. Tipo magricelo, alto, uma barriga que não tinha mais tamanho, calmo, falava pouco e gozava da fama de valente, mas nunca o vi brigando. Dificilmente tomava partido nas discussões e, quando consultado, opinava com ar professoral, sentindo-se importante. E sua opinião era acatada, valia. Por ser o mais velho do grupo, os novos acreditavam nele, tanto que, havendo jogo fora, era levado para atuar como consultor, protetor. Gostava dessa deferência. Mas, aos poucos, ele foi ficando esquisito e sumindo do nosso meio. Falava menos ainda. Passou a se fechar em si, não saindo de casa. Chegou ao ponto de que nem a cara punha na janela. Diziam que adoecera da cabeça porque se masturbava muito

Da figueira, eu avistava nitidamente os artistas, até os detalhes de seus trajes, apesar do desconforto. Mas não importava. Melhor do que ficar no meio da multidão, fuçando lugar feito tatu e levando empurrões. O inconveniente era não poder me mexer, daí me doíam as costas, porém a beleza do espetáculo compensava o sacrifício, tirando-me o pensamento da dor. E eis Adelaide  Chiozzo, em cena, cantando e tocando acordeão. Babaquice geral. Seu jeitinho manhoso. Cabelos médios e lisos. Conquistou a multidão. Naquele momento, então, ouvi um estalo no galho em que estava montado. Foi tão rápido que não tive tempo de pular. O mesmo despencou trazendo a cambada em cima de mim. Caí zonzo. Formou-se um pequeno tumulto, com gente correndo, pensando que fosse briga. No chão, ainda, fui pisado e acreditei que ia ser massacrado. Dei sorte. Consegui levantar-me, meio aéreo e fui mancando para casa, com alguns arranhões no corpo, sem mais querer saber do show.

Aquele recorde de gente superou de longe o público dos comícios. Até no que compareceu Adhemar de Barros, disputando, pela segunda vez, a Presidência da República, com o Marechal Lott e Jânio Quadros. Adhemar, no seu jeitão de alemão e com sotaque paulista, passou o tempo todo expedindo ofensas pessoais contra Jânio, chamando-o inclusive, de maricas. Nada de coisa séria na sua fala, mas o povo vibrava com os xingamentos. No entanto, Jânio, empunhando a bandeira da UDN, ganhou em disparada. Uma loucura de votos para sete meses depois abortar, sem dor, o cargo, pondo a nação confusa com uma batata quente nas mãos. Aliás, Jânio foi a maior e a pior piada deste País. E piada chula, cheirando a álcool.

Sempre foi a praça favorita para os grandes eventos, dadas a sua amplitude e centralização. Ela era dividida em dois planos. No superior, com iluminação fraca, ficava o coreto, onde a banda da Polícia Militar executava chorosos dobrados, cujo quartel central localizava-se defronte. Era a parte preferida por soldados e empregadas domésticas, que namoravam nos bancos semiescondidos pelos canteiros de plantas.

Só dava curicas naquele pedaço, como diziam as moças de família, referindo-se às empregadas domésticas. Na parte inferior havia os tanques, enfeitados por garças e algas marinhas. E o desfile em roda.

Moças de um lado, andando em círculo, e os rapazes do outro, em sentido contrário. Ou então eles ficavam parados, paquerando as meninas que passavam, geralmente, em dupla, de risinhos, cochichos e lançando olhares convidativos. Para alguns, a parte de cima era melhor, tinha futuro, porque o namoro começava na hora e já avançado - sem inibição e preconceito.



José Ribamar Garcia
em Imagens da Cidade Verde
Rio de Janeiro: Litteris ed, 2008

12.8.11

Praça Pedro Segundo, dos anos 30 à década de 90, Diva Maria Freire Figueiredo


A atual Praça Pedro II, que nasceu como Praça João Pessoa e foi rebatizada, sucessivamente, com os nomes de Independência e Aquidabã. Desde cedo demonstrou sua vocação para centro artístico e cultural, quando se instalou o Teatro Concórdia nas meias águas do prédio do Quartel de Polícia, em 1879. Essa tendência é confirmada pela construção do Theatro 4 de Setembro, em 1894; do Clube dos Diários, em 1927 e do Cine Rex, em 1939. Todas essas obras estão localizadas no perímetro da praça ou na sua vizinhança imediata.

Em 1936, um pouco antes do inicio da construção do Cine Rex, quando dominava entre as construções da época o estilo Art Déco, foi transformada por lei em Praça Pedro II, ao tempo em que sofre uma reforma para a implantação de um projeto paisagístico, cujas intervenções arquitetônicas e o mobiliário são representantes desse estilo, passando a se constituir na área principal de lazer da cidade. Entre os serviços previstos pelo projeto, destacam-se como identificadores da obra realizada: a construção de um coreto, da escadaria de acesso à parte alta, do revestimento dos pisos, do calçamento da rua diagonal, da balaustrada de proteção entre os dois níveis da praça, da fonte luminosa; a instalação de sistema de iluminação com distribuição de postes por toda a área e de cinquenta e seis bancos de concreto; a transferência e instalação da estátua do imperador, antes colocada na Praça João Luiz Ferreira; o plantio de 41 fícus.

Nova reforma sofrida no final da década de 50 introduz algumas novidades. A mais marcante, sem dúvida, e bastante documentada, consiste no pitoresco lado cortado por uma imitação de tronco caído, construído em concreto, que se transforma no cenário preferido dos fotógrafos para a confecção de retratos dos teresinenses. É provável que seja também dessa época uma representação de globo terrestre, construída em estrutura de metal, bastante referenciada por pessoas que vivenciaram os passeios na praça durante os anos 50 e 60. No entanto, essas intervenções preservam as principais características da praça até a década de 70, quando a última grande intervenção, de caráter renovador, descaracteriza totalmente a proposta paisagística anterior, inaugurada quatro décadas atrás, bem como os acréscimos introduzidos com o decorrer do tempo.

Em 30 de novembro de 1998, a execução de um novo projeto resgata esse seu antigo desenho e os elementos arquitetônicos mais significativos da década de 30. Assim, cumpre-se mais uma etapa do projeto de recuperação do Sítio Histórico da Praça Pedro II, iniciado um pouco antes, em 21 de novembro de 1996, com a obra de reestruturação do Clube dos Diários e de sua integração ao Theatro 4 de Setembro, reformado e inaugurado, por sua vez, em 26 de abril de 1999.

A realização desse conjunto de obras, realizada ora pelo Governo do Estado, ora pela Sociedade de Amigos do Theatro 4 de Setembro, com o apoio da Fundação Estadual de Cultura e do Desporto do Piauí – FUNDEC, é uma realidade. Ela se tornou possível graças ao financiamento direto do Ministério da Cultura, através de recursos do Tesouro, a recursos alocados pelo Governo do Estado, bem como ao patrocínio da Empresa Brasileira de Telecomunicação – EMBRATEL, através do programa de financiamento da cultura – MERCENATO – também do MINC.

Praça Pedro II, reconstruída, desempenha um papel especial no contexto urbano do centro de Teresina: o caráter exemplar na consecução do objetivo maior do projeto de revitalizar toda a sua vizinhança, destacando a vocação natural da área para o desenvolvimento de atividades ligadas às artes, ao lazer e ao turismo.


Diva Maria Freire Figueiredo
Arquiteta e diretor da 1ª SubRegional do IPHAN
P2: Teresina, 2001

16.10.13

A. Tito Filho - síntese biográfica




José de Arimathéa Tito Filho [ ✰ 27/10/1924 - † 23/06/1992 ] nasceu em Barras - PI, faleceu em Teresina - PI. Bacharel em Ciência Jurídicas e Sociais, professor, jornalista e escritor. Bibliografia: Combustível e alimento (1951); O problema social da infância (1952); Da atualidade do Latim Vulgar (1958); Viagem ao dicionário (1972); Esmaragdo de Freitas - homens e episódios (1973); Deus e a natureza em José Coriolano (1973); Zito Batista - o poeta e o prosador (1973); Lima Rebelo – o homem e a substância (1973); Teresina, meu amor (1973); Gente e humor (1974); Sermões aos peixes” (1975); Praça Aquidabã, sem número (1975); Teresina, ruas, praças e avenidas – roteiro turístico (1976); Crônica da Cidade Amada (1977); Carnavais de Teresina (1978); A Igreja do Alto da Jurubeba (1978 e 1986); José de Freitas, comunidade exemplar (1978); Sua Excelência O Egrégio (1978 e 1991); A Augusta casa do Piauí (1978); Memorial da Cidade Verde (1978); O Piauí no Congresso Nacional (1980); Anglo-Norte-Americanismos no Português do Brasil (1986); Governos do Piauí; Crônicas (1989); Temas Atuais (1992), entre outros. 

1.1.16

De Uruguaiana à Rio Branco, de Aquidabã à Pedro II: a mudança de nome é também ressignificação das liturgias e ritos das sociabilidades, por Nilsângela Cardoso Lima



As primeiras décadas do século XX são marcadas por sensíveis transformações no espaço urbano brasileiro, através da revitalização das cidades.

No Piauí esse processo se configura pela alegação de novos hábitos e costumes relacionados ao viver em cidade. Particularmente em Teresina a onda progessista se dá por meio da criação e valorização de espaços de convivência e lazer: praças, ou passeios públicos, salas de cinema, bares, teatros, cafés, clubes etc. Ruas cada vez mais limpas e saneadas, iluminação com luz elétrica e telefone, são avanços da mesma época que também chegam. Permaneceriam ainda por muitos anos outros espaços tradicionais de sociabilidade, tendentes a ser menos valorizados, tipo adros e salões das residências da aristocracia.

Bem exemplifica essas mudanças, a reconstrução da praça Uruguaiana, depois Rio Branco, entre os anos 1909 e 1913; reconstrução que lhe confere a condição de passeio público predileto da capital; na década seguinte, esse logradouro se tornaria centro da atividade comercial local. Note-se que a valorização urbana da área dos fundos da velha matriz do Amparo em detrimento da parte da frente – o adro das festas de antes – é emblemática das transformações mentais do tempo.


Igreja de Nossa Senhora do Amparo, vista da Praça da Bandeira
/ fonte: página TERESINA MEU AMOR)

Em especial, a juventude de elite frequentava esse espaço das sete às dez da noite, quando, ouvindo o ‘sinal’ do apito da usina elétrica se recolhia aos lares. A Praça Rio Branco, ajardinada e com coreto, atrai a elite, mas também setores populares marginalizados; a segmentação é bem evidente, conforme o uso das áreas mais ao norte ou mais sul, por uns e outros.


Praça Rio Branco / fonte: página TERESINA MEU AMOR)

Por estar localizada num ponto central da cidade e próximo a outros pontos de aglomeração e lazer, como por exemplo, a própria Igreja do Amparo, o Café Avenida e o Bar Carvalho, a Rio Branco caracterizava-se também como sala de espera de encontros previamente marcados, antes de dirigirem-se as pessoas aos referidos cinemas, teatros, cafés, bares e a outros locais de entretenimento da cidade.

Os anos 1930 chegam e com eles a perda de hegemonia da Rio Branco como lugar privilegiado do lazer dos teresinenses, isto em função da reforma da Praça Pedro II, antes chamada Aquidabã, em 1936. Com a reconstrução da Pedro II, e também a construção de prédios de arquitetura moderna ao redor dela, como o Cine Rex e o Cinema São Luis, além da revalorização do tradicional Teatro 4 de Setembro, torna-se ainda mais aprazível o clima da P2 para o “footing” da sociedade teresinense.

Do mesmo modo que a Praça Rio Branco oferecia um espaço propício a “namoricos” e ao desfile das moças com as últimas novidades da moda do Rio de Janeiro e dos cinemas, a Praça Pedro II se revela como o mais novo espaço para o divertimento da sociedade. O clima atrativo da praça, com seus jardins floridos e carnaubal decorativo, era ponto de encontro e desencontro de rapazes e moças, senhoras e senhores, constituindo-se na “única praça do mundo na qual jovens da época desfilavam em redor de um círculo, para deleite de seus admiradores”.


Praça Pedro II
/ fonte: página TERESINA MEU AMOR

As noite na Praça Pedro II decantavam uma iluminação pública, com animação de bandas da polícia e do exército, nas quintas-feiras e aos domingos, executando peças musicais. Nessa praça também eram promovidas as comemorações cívicas da cidade, além de comícios e outro agitos; palco, também, onde, em determinada época, certa intelectualidade trocava ideias e sabedorias.

Deve-se ressalta que a própria estrutura física original da praça resultava em contribuir, a exemplo da Rio Branco, para uma segregação social, quanto à sua utilização. Separada transversalmente por uma “rua”, tinha dois ambientes: a “praça de baixo”, local privilegiado para as chamadas ‘moças da sociedade’, enquanto que a “praça de cima”, também chamada de “praça das curicas”, era frequentada, em geral, por empregadas domésticas e pessoas do mesmo nível social. Era comum ouvir-se falar que na “praça de cima” as classe populares se divertiam, sendo ponto onde as moças mais pobres e soldados se encontravam.

O passei público de Teresina, também, pode ser visto como um refúgio para o público feminino que se encontrava no limite do espaço privado. O traçado requintado e atrativo das praças proporcionava um encontro de sociabilidades e de conveniências sociais. Mas é inafastável que o passeio público foi marcado por esse “apartheid” social invisível, mas muito presente dentro dos espaços de lazer e convivialidade da capital.

De outra parte, as festas e bailes eram atrativos que faziam parte do lazer teresinense, sendo realizados por ocasiões de aniversários, casamentos, viagens, vitórias políticas, dentre outras ocasiões que promovessem o encontro da “fina flor da sociedade” local. Tais festas possibilitavam que rapazes e moças demonstrassem os requintes da sua educação, bem como, consistiam em lugares elegantes, entre outras coisas, dadas as vestimentas da pessoas que os frequentavam. Os bailes eram festas tradicionais do lazer na cidade feitos em casas particulares, em decorrência da falta de locais apropriados para o divertimento na cidade.

A partir de 1920, eventos do tipo passaram a ser realizados em casa particulares e vão sendo transferidos para os clubes e salões que surgem na cidade. Pode-se destacar o Clube dos Diários, fundado em 1922, que passa a ser o local de encontro, lazer e diversão da elite teresinense, constituindo-se em local mais apropriado para os grandes bailes, também para as magnas sessões solenes da cidade, conferências e congêneres, além de récitas, concertos etc.

Voltando ao teatro e sobretudo ao cinema, como se viu, desde as primeiras décadas do século XX estão eles incorporando aos ritmos da cidade, sendo o Royal e Olímpia destacados cinemas da cidade, - ainda antes da idas e vindas da P2 e da abertura do moderno Cine Rex, inaugurado em 1939. Ambos apresentavam filmes mudos, exibidos de forma seriada. Devido a isto, as casas de espetáculo conseguiam manter uma clientela animada e constante, uma vez que as pessoas não queriam perder nenhum capítulo do filme. Entretanto, o cinema falado em Teresina é inaugurado em 12 de dezembro de 1933, com a exibição do filme americano “Doce como Mel”, no teatro 4 de Setembro. Este cinema apresentaria posteriormente filmes americanos e filmes de caubói. A chegada do cinema falado provocou mudanças no comportamento da sociedade, na medida em que as casas de cinema, até então existentes, começam a perder público para o 4 de Setembro, pois a elite e as pessoas de maiores recursos passam a assistir filmes ali.

Ressalte-se que, embora o cinema falado constituísse num dos importantes focos de entretenimento da cidade, não houve, de imediato, uma preocupação de se construir um lugar um lugar apropriado para a exibição de filmes. Os locais onde funcionavam os primeiros cinemas eram geralmente casas particulares e adaptadas. Nesse sentido, a inauguração do Cine Rex, casa de espetáculo própria e literalmente cinematográfica, dá orgulho aos teresinenses, sendo considerado “o mais bonito e moderno” que possuía a cidade.


Praça Pedro II, ao fundo Teatro 4 de Setembro (à esquerda) e Cine Rex (à direita)
/ fonte: página TERESINA MEU AMOR

Todavia, desde sua chegada, o escurinho do cinema foi alvo de reclamações de alguns setores da sociedade teresinense, principalmente daqueles ligados à igreja católica, por ser considerado um lugar de perdição para as moças de família. Logo, o ambiente do cinema propiciava a intensificação de flertes entre rapazes e moças. Do mesmo modo que o cinema, através de suas histórias romanescas, influenciava o imaginário do público feminino referindo-se aos relacionamentos amorosos.

Nesse contexto, a febre avassaladora do cinema, proporcionada pelo poderio dos Estados Unidos, faz com que a representação dramática teatral perca lugar para tal, não só pela concorrência, mas por falta também de quem a levasse adiante.

Nesse sentido, nos anos trinta do século XX, a arte cênica perde ainda mais espaço no lazer cultural de Teresina, quando o T4S é arrendado aos irmãos Ferreira, Alfredo e Miguel, para, como referido acima, a exploração do cinema na cidade. Tal medida criou um desestímulo maior aos amadores que demoravam a montar algum espetáculo. Além do que, o teatro em Teresina caracterizava-se como uma forma de lazer cara, dado o elevado preço dos ingressos e pela exigência do toalete. O T4S, única casa teatral da cidade, não permitia, assim, uma maior participação popular.

Uma dimensão interessante do lazer em Teresina ligado à revalorização e/ou criação desses novos espaços de sociabilidades, é o carnaval, a que se dá, então, uma nova roupagem e novas linguagens. As mudanças se deram, inclusive, na sua forma de apresentação, pois perde alguns elementos considerados ‘levianos’ para a participação do público feminino e católico, sobretudo na percepção da igreja, para quem o carnaval era “um atentado à moral e aos bons costumes, um perigo para as famílias cristãs e mesmo um causador de muitas ruínas”. Mas o carnaval se imporá desde então, ganhando a crescente participação da elite que, organizada em bailes, corsos e carros ornamentados, desfilava pela Praça Rio Branco, depois pela PedroII, e em tempo recentes, na Avenida Frei Serafim e, atualmente, com bastantes diferenciações, na Marechal Castelo Branco.

Durante a década de 1920, reitere-se, um dos elementos de muita valorização dos corsos foi o automóvel, então incorporado ao cenário urbano. Nas manifestações carnavalescas de rua participavam todas as camadas sociais que queriam se divertir. Todavia, sobreviviam as festas patrocinadas pela elite, geralmente feitas em clubes fechados ou em residências familiares, configurando-se num carnaval elegante e de acesso limitado. Eram bailes à fantasia ou máscaras, onde as pessoas se divertiam ao “som de orquestras que tocavam marchas e tangos”. Embora consideradas uma festa profana por excelência, os bailes carnavalescos, à medida que iam tomando um caráter ‘civilizado’ e familiar, facilitariam a presença das mulheres.

Uma pergunta se impõe: e o povo pobre da cidade, as classes populares como se divertiam? Embora essas formas de lazer em Teresina implicassem, em geral, no entretenimento da elite, as pessoas menos favorecidas, quando não participavam perifericamente dele, forjavam outras formas de lazer. Vale ressaltar que todas as camadas sociais foram, senão inseridas, influenciadas por esses novos símbolos do progresso e da civilização que as cidades ditas modernas ditavam.



Nilsângela Cardoso Lima
via Teresina 150 anos – 1852/2002 / Fonseca Neto (coord.)
Teresina: Gráfica e Editora Júnior, 2002