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11.6.21

Let’s Rock da House!, por Laís Lustosa




Tudo aconteceu numa festa de aniversário. Os amigos estavam reunidos, conversando sobre novos projetos que surgiam no cenário artístico da cidade, como é o caso do Projeto Hooligans (projeto alternativo que acontece em dias de quinta), no Mercearia Pub Bar, e resolveram fazer o seu próprio. Foi assim que surgiu a base da Rock da House, festa com edições mensais voltadas para o público de Teresina.

A festa acontecia na casa de Pepa Hidd, produtora da famosa festa “Vinte e poucos anos” e uma das organizadoras da Rock’da’House, e os amigos resolveram fazer uma festa nova, diferente, para um público diferenciado, aproveitando o espaço daquela casa. “A gente pensou em um nome e surgiu a ideia de ‘sacudir a casa’, que no inglês seria ‘let’s rock the house’”, explica Gualberto Júnior, o outro organizador do evento.

Mas por que nessa casa? Segundo Gualberto, a localização era central e de fácil acesso a todos, além da ausência de vizinhos. Isso permitia um som mais alto e potente, favorecendo a apresentação de bandas.

A princípio, a festa seria uma espécie de vitrine, dando oportunidade para quem estava produzindo na época. E não só para música, mas para artes também, ou seja, além das apresentações das bandas, também poderiam ser encontradas exposições artísticas na Rock’da’House.

Primeiro Rock'da'House



Na primeira edição, por exemplo, foram escolhidas duas bandas que faziam suas próprias composições e tinham um estilo definido por diversas influências, como rock inglês e samba. As discotecagens animaram a pista com o melhor do rock dos anos 70 ao atual, e as exposições de artes traziam temáticas urbanas e contemporâneas. De lá para cá não mudou muito, os temas continuam atuais, mas não necessariamente os que estejam em voga na mídia.

Mas logo surgiram os primeiros contratempos. “A ideia da exposição de arte se desfez logo no início devido à falta de compromisso de alguns dos artistas que expunham em nossas dependências. Não foi uma relação boa. Então resolvemos cortá-la logo no início para evitar transtornos e chateações”, explica Gualberto.

Pascoa


Outro problema foi uma denúncia na Delegacia do Silêncio, já na terceira ou quarta edição. Os organizadores descobriram, então, que na casa vizinha à casa de Pepa, onde aconteciam as edições do Rock’da’House, funcionava uma pensão, justamente do lado aonde o palco era montado.

Para resolver o conflito, conversaram com a dona e decidiram que a festa teria apenas DJ’s, já que o som desses não incomodava tanto. A Rock’da’House passou então a ser nômade, mudando de casa nas festas em que teriam apresentações de bandas.

Festas juninas



A primeira edição da Rock’da’House aconteceu em junho do ano de 2007 e contou com um público de 50 pessoas. A partir daí, as edições chegam a ter de 150 a 200 pessoas, em média, por edição pequena (as que acontecem ainda na casa da Pepa) e cerca de 600 em edições especiais (as que trazem atração especial, como foi o caso das bandas Montage, de Fortaleza, da Las Bibas from Vizcaya e da DataBase, ambas de São Paulo).

B-r-o-bró



Um fato interessante sobre a Rock’da’House é que no início, as festas só aconteciam em noites de lua cheia. Em junho de 2007, aconteceu o evento chamado Blue Moon, quando há duas luas cheias no mesmo mês, e devido a isso, aconteceram duas edições da festa. Hoje, a festa é mensal.

A Rock’da’House já chegou em sua 20ª edição agora no dia 31 de outubro de 2009, com uma edição especial de Halloween. A diferença desse evento é o seu público alvo, ou seja, as pessoas que costumam ir à Rock’daHouse são aquelas que não frequentam o mainstream (festas mais populares). “O lema da festa é ‘A party for all’, com todos os trocadilhos, rock, house, forró (for all)”, revela Gualberto.

Halloween



A mídia usada para chamar a atenção dessas pessoas foram as redes sociais. “O advento do Orkut foi crucial nesse processo. Toda a nossa mídia foi baseada nele, não gastamos nem dinheiro nem papel com a impressão de flyers”, relata o organizador. E planos futuros? Gualberto já planeja uma festa de fim de ano, pretendendo trazer uma atração de peso, e afirma continuar o evento pelo próximo ano.

Para quem se interessou pela festa:

Comunidade no Orkut: http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=36309030
Perfil no Orkut: http://www.orkut.com.br/Main#Profile?uid=14099192978291558960
Fotolog: http://www.fotolog.com.br/rock__da__house/



Laís Lustosa <laislm@hotmail.com>
Em 04/11/2009
Postado originalmente aqui.

21.3.20

Geraldo Brito e a história da música no Piauí: entrevista, por Laís Lustosa


"O #Abraçaço chega em Teresina, Piauí.
Na foto, com o poeta Geraldo Brito em Teresina, em 1979"
Fonte: Caetano Veloso via Facebook

Geraldo Brito é uma pessoa de múltiplos talentos: violinista, guitarrista e arranjador desde a década de 1970. Ele fez a primeira versão de Go Back, de Torquato Neto e traz muitas influências de jazz e blues. É professor de violão e guitarra da Escola de Música de Teresina desde 1984.

O senhor acha que o piauiense tem consciência da história da música do Piauí, dos anos 60 pra cá?

G: Não, não tem. Hoje ninguém tem. Eu acho que agora, a partir da década de 2000, houve essa procura, está se formando mais essa coisa do apanhado histórico. A faculdade resgatando, os alunos indo atrás. Eu acho que a partir dessa década de 2000 a gente pode retomar isso. Eu quero lançar um livro com coisas que eu escrevi, informações dessas décadas passadas. Nos anos 60, começaram a aparecer os chamados conjuntos, depois passou a ser grupo, hoje é banda. Mas eles estão copiando, tipo cover, faziam uma banda para tocar música que ouviam no rádio. Eu acho que essa minha geração nem se preocupou com isso, bateu essa coisa de fazer tudo autoral, fazer composições próprias.

O senhor acha que os músicos piauiense de hoje tem preocupação em estudar música?

G: Há. Hoje tem mais essa preocupação. Por exemplo, no tempo que eu comecei e outros músicos bem antes de mim não tinham essa facilidade que tem hoje. Hoje você pega uma música que você se interessa, vai ver na Internet, está tudo divulgadinho. Tablatura, partitura, letra, do jeito que você quer. Vídeo aula, por exemplo, os alunos veem exatamente o que os músicos estão fazendo. Então, isso tem proporcionado bons músicos. Hoje só não toca bem quem não quer, basta ter uma inclinação para tocar. A nossa formação era percepção auditiva. Botava o disco com aquelas vitrolas que tinham a rotação 45 rpm. Hoje não, está tudo aí.

Dos anos 70 pra cá, quais foram as principais variações de estilo da música piauiense, que o senhor pode perceber?

G: Quando a gente começou a fazer música, no meio dos anos 60 começou aquela coisa dos Festivais universitários. E só aconteciam no Rio de Janeiro, São Paulo, aqueles festivais famosos onde apareceram Chico Buarque, Caetano Veloso. Mas a partir dessa década surgiram vários em várias outras universidades. E, com essa facilidade, com essa adesão e explosão dos festivais, ficou em alta essas músicas do Fagner, Belchior, Geraldo Azevedo, música mais regionalista. Então nós absorvemos essa informação, de ouvir essa música. A gente fazia muita música mais regional. Aí vieram outras correntes que faziam músicas tipo blues. Tinha a corrente que fazia mais rock’n’roll e corrente que fazia a MPB mais tradicional. Hoje tem pessoas que começaram a trabalhar com xote, com baião. Hoje já tem até maracatu que é um ritmo de Recife, de Pernambuco.

Na sua opinião, quais são os três maiores nomes da música piauiense nos anos 70? E quais são os três maiores nomes de hoje?

G: Eu gostava muito do Cruz Neto, do Magno Aurélio, que é compositor e do Aurélio com o Zé Rodrigues. Esses três eu gostava muito. Hoje, eu estou ouvindo muito as músicas do Wagner Lacerda.  Eu gostei do disco novo, é o primeiro que eu gostei.  Acho legal essa coisa meio nordeste meio rock’n’roll. E tem um disco agora que eu achei legal, de um parceiro meu, chamado Glauco Luz, cantado pela Carol Costa. É um disco muito legal.

Na década de 70, havia uma preocupação de intelectualizar as letras das músicas. O senhor acha que isso aconteceu no Piauí também?

G: Isso era uma coisa geral. Começou com o Geraldo Vandré, Chico Buarque. Isso lá em 68, só veio eclodir aqui nos 70. As músicas da época faziam protestos. Antes de um show, tinha que passar todas as letras e levar na polícia federal. Chegando lá, eles passavam uma semana pra julgar, pra censurar ou não. E na hora do show, aquela música que você mais tinha mais gostado, chegava a hora de tocar e havia a censura. Então isso marcou. Ainda bem que quando foi em 85, na época que o Tancredo era presidente, realmente acabaram com a censura. Apesar de nesse governo terem censurado o filme Je vous salue Marie, de um cineasta francês chamado [Jean Luc] Godard. Foi um absurdo, a Igreja entrou na questão. Viram o filme como algo muito pejorativo e houve essa censura. Mas de lá pra cá não. Semana passada, o Caetano Veloso chamou o Lula de analfabeto. Eu não gostei muito, apesar de eu gostar muito do Caetano. É o outro lado da liberdade de imprensa, coisas que você jamais imaginaria ver ou ouvir nos anos 60 até 80.

O senhor acha que os piauienses não valorizam a música feita aqui, os artistas locais?

G: É. Eu não vejo isso com tanto gosto como eu vejo com a música do Ceará. Você chega lá, toca muito, principalmente nas rádios, universitárias. Por onde eu ando no nordeste, eu vejo que toca bastante. Aqui que eu acho que não. A rádio Cultura toca mais, outras rádios alternativas… Mas, mesmo assim, ninguém se liga muito. Que isso mude, daqui pra frente, que haja mais procura, maior interesse nas músicas. Houve uma lei daquela vereadora, Trindade, na época que era vereadora dela que obrigava as rádios a tocarem 20% da programação de música piauiense.  Mas elas ficaram com raiva e não tocavam na programação normal, tocavam no domingo, num momento qualquer rapidamente. Agora até toca muita música brasileira, mas a música americana é bem mais forte. Mas mesmo assim, as rádios tocam uns forrós que vêm de Fortaleza, e não tocam nada da gente.

Quanto aos recursos técnicos disponíveis para gravação e distribuição da música piauiense, você acha que são satisfatórios?

G: Antes não tinha, mas hoje já tem vários estúdios, como o estúdio do Márcio Menezes, que fica lá na Morada do Sol, é o Bumba Records. Eu, por exemplo, estou gravando um projeto instrumental no estúdio da Rádio Pioneira. Hoje já dá pra fazer isso legal.

O senhor foi contemporâneo de Torquato Neto. Como o senhor avalia a contribuição dele para a música popular local e nacional como um dos expoentes do movimento tropicalista?

G: Eu fui contemporâneo assim, quando eu estava começando a fazer música, ele morreu, de maneira que eu só o vi de longe por aqui. Houve essa aproximação por parte dele com um grupo que estava fazendo jornal. Mas o interesse dele era de gente que estava começando a compor, e o Torquato saiu daqui logo. Tinha conhecido Caetano e Gil na Bahia, e daí surgiu o movimento Tropicalista com momentos muito marcantes naquela fase do Brasil, ao mesmo tempo em que faziam uma ponte com as coisas que estavam acontecendo lá fora, como os Beatles e Jimi Hendrix.

Como foi atuar no cenário cultural piauiense marcado pela censura militar?

G: Na época braba da ditadura mesmo, no tempo do AI-5, ano 68, não tinha ainda ninguém fazendo essas coisas. Quando se começou a fazer música, já estava no governo Geisel, tudo tinha censura. Então foi uma barra muito pesada que se passou. Tinha um jornal chamado Chapada do Corisco que acabou porque era muito perseguido. Se você tivesse um livro vermelho era censurado, tirado de circulação, porque se era vermelho, você era considerado socialista. Cheio de bobagem. Mas aí houve a anistia em 79. Já nos anos 70, o pessoal que tinha sido exilado começou a voltar.

O senhor sofreu algum tipo de represália nessa época?

G: Sofri, como eu já falei, fui censurado pelo governo. Fazia a música, mandava, ensaiva, e na hora eles não liberavam.

Mas eles diziam já na hora do show?

G: Por exemplo, hoje é sexta e o show seria domingo. Eu levo a música hoje, sexta. Liberavam ou não amanhã ou um dia antes. Já é sábado e não tem nem mais como ensaiar coisas novas. Era irritante por isso. Era uma coisa que violava os direitos humanos.

Eu vi que o senhor é formado em Administração pela UFPI. Por que o senhor resolveu seguir a carreira musical e não a carreira de administrador? O que pesou na escolha?

G: Eu comecei a compor em 72. Quando foi em 74 eu passei no vestibular. Foi uma época que a faculdade era uma coisa muito valorizada, todo mundo tinha que fazer. E eu também tinha interesse. Eu gostava de economia, queria entender economia, mas não tinha. O que mais se aproximava, onde a gente estudava teoria econômica, era administração. Não tinha nem o curso aqui, eu tive que fazer em Parnaíba, no campus da Universidade Federal. Quando eu estava no terceiro ano, a música já começou a ser algo muito forte. No terceiro ano, passei no vestibular para música, mas tinha que terminar administração. Mas a música me pegou mais de uma maneira muito forte. Hoje, não que eu me arrependa de ser músico, mas eu queria ter visto as coisas por um outro lado mais racional.

(...)

Geraldo Brito entrevistado por Laís Lustosa (laislm@hotmail.com)
Publicado originalmente em Entretenewsmento