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2.4.16
MEMÓRIA, Álvaro Pacheco
Deixar a memória
cumprir sua parte
juntar os pedaços
compor os seus itens
então reverter-se
do tempo e da carne
tornando-se apenas
um puro fluir
deixar que a memória
performe e execute
e sermos apenas
processing data
(e indeléveis registros).
Álvaro Pacheco
em outubro de 1972, Rio de Janeiro/RJ
via Jornal da Poesia
12.1.16
A CIDADE PERDIDA, Álvaro Pacheco
Sobrevivem alguns terraços
mas não as madrugadas
e nem as melodias dos boleros.
Conversam os fantasmas
com medo de lembrarem
os instrumentos do edifício
da vida que veio depois.
Os pórticos
à luz do dia e os terraços
ao entardecer informam:
mudaram-se
Álvaro Pacheco
Teresina, agosto de 1986
em O SONHO DOS CAVALOS SELVAGENS (1967)
13.12.15
A CIDADE MORTA
IX
Um dia escavarão esta cidade
nas sobras do futuro
mas não encontrarão o sorriso da garota da praia
nem o instante de felicidade que tiveram um homem e uma
[mulher numa noite de intenso verão.
Acharão talvez um slide colorido da paisagem
mas que não dará ideia do que foi a cidade
nem o seu povo
microfilmado dia a dia
em congestões de tráfego, abusos de poder e falta de amor.
É difícil que encontrem um documento válido
da incompreensão que gerou
tantas incompreensões
mas encontrarão pedras fundamentais e pedras finais
e talvez vestígios de uma catástrofe de concreto
mas
— e as catástrofes íntimas
e o que cada um em si morreu no cada dia,
o que restará?
E o que encontrarão do esforço de eternidade
que (cada um) fizemos para não morrer?
E de nossa linguagem, quem terá os cantos?
E dos nossos destinos, quem reconstituirá os sonhos?
E de nossa angústia, quem verá os traços?
E de nossa solidão, qual será a ruína?
Passarão pelos escavadores apenas fantasmas inapreensíveis
e a memória repousará incógnita
sob árvores de pedra
e estilhaços de metal.
dez. 66
Álvaro Pacheco
em O SONHO DOS CAVALOS SELVAGENS (1967)
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20.7.15
A PONTE (O RIO) ENTRE AS CIDADES
Rio de duas cidades
dividido entre tristezas
uma ponte assim as une
não de aço, de pobrezas
Álvaro Pacheco
Teresina, maio de 1965
em MARGEM RIO MUNDO
Artenova: Rio de Janeiro, 1965
DOMINGO DO RIO
O rio technicolor
aos domingos (todos os domingos
de sol na Coroa).
Moças vermelho
coxas branquinhas
homens cinzentos
meninos azuis.
Depois da missa, purificada,
a cidade descia para o rio
e docemente sonhava com o pecado
nas areias de veludo da Coroa.
E um domingo, no fundo da canoa,
perdida, entre a verde canarana,
o menino viu o sexo conjugado
(o rio, o domingo, o espanto).
Álvaro Pacheco
Teresina, maio de 1965
em MARGEM RIO MUNDO
Artenova: Rio de Janeiro, 1965
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