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11.12.15

"As árvores da Avenida Santos Dumont"




As árvores da Avenida Santos Dumont
                dividem o céu entre sol e semáforos
Parece que a beleza esconde toda dor
                e descanso a cabeça cheia de nada
Suas folhas não ligam para o casal no bar
                nem os passageiros que decolam com medo
                em outro voo do Aeroporto Petrônio Portela
Passeio, sem pressa, respiro, o sangue circula
Minhas pernas percebem o cair da temperatura
Interessante percorrer a anatomia dos sentidos
Jamais entenderei tal alegria flutuante
                Todo limite é miragem nessa parte da cidade
Sem saber, as árvores crescem alterando
meu corpo por diferentes estados emocionais



Thiago E
poema enviado pelo autor

"As árvores da Rua Álvaro Mendes"




As árvores da Rua Álvaro Mendes
                não existem para o aprendizado dos hábitos
Na calçada quebrada em que caminho
                seus troncos engrossam, alheios às pessoas
Há profundas rachaduras nas cascas dos caules
Olhando aqui, ou tocando nelas, é possível
                conhecer suas rugas – as ruas do tempo vivido
O sol não tem ouvidos para reclamações.
Essa parte da cidade de brasa e sombra
                melhora o pensamento em modificação:
                aquele encanto claro de palavra nova
                transmitindo mais surpresas que entendimentos
Passei a ter resistência aos poluentes urbanos
e o impulso extremo de absorver tudo



Thiago E
poema enviado pelo autor

14.4.14

chuva® em teresina [ modo de usar ] ou [ o produto pra tomar ]




pesquisas confirmam que chuva® se apresenta na forma de pequenos caroços d’água que demoram que só... pra cair por aqui (ou virar um toró). haveria múltiplas aplicações para chuva® – porém existe o problema d’ela quase nunca aparecer, não podendo, assim, ser aplicada. sob esse céu-sol que sua nossa cidade, chuva® é um raro chiado, mas, quando chuvisca, bochicha e remexe a linguagem: pau d’água, pancada, ou procela varada, só com muita reza braba. seu joaquim, raimundim e seu vizim pedem um pouco de chuva® – acuda! mas veio foi um sereno e piorou o momento (repara o veneno): farelo d’água com sol de rachar faz é abafar; esquenta tudo e, mais ainda, a moleira que azucrina. estudos recentes atestam que chuva® é um cochicho – chiado baixinho, na boca do povo, talvez um boato que some de novo, um conceito empenado, bololô esculhambado, relaboque de desejos inventados: quem quer que chova está dentro de casa e não lavou roupa; quem não quer chuva® tem alguma mordomia ou resolve algo na rua. e, dependendo do que a pessoa está fazendo, ela muda o pensamento. neste entretanto de labacé e confusão, não há contraindicação: alguns fazem mandinga; outros passam os queixo, em teresina, dirdobrando – se não tem chuva® ou mar, vamos prum bar. ou vamos pra uma rede – uma rede social – de armador virtual brutal e total: no facebook compartilha-se a vontade por chuva®, até ciberprometendo pagar uma promessa, contudo, pós-moderna porque, o santo, depois a gente acerta; ou toda teresina trova no twitter toneladas da hashtag #chuvathe – entrando para o trending topics da tiração de "onda". e quem faz roça clama chuva® pra tentar matar a saudade da fartura. diz-se, apenas por aqui, na capital do piauí, chuva® tem o princípio ativo mais charmoso disponível – o de antever o incrível, o sublime intransferível – olhar pro céu, esperançoso, e o poema de um verso só dizer: tá bonito pra chover.



Thiago E
em Revista Piauí Terra Querida  
Agosto de 2012

Thiago E - síntese biográfica





Thiago E nasceu em Teresina, PI (1986). É poeta de testes, músico, layoutman. Autor de Cabeça de Sol em Cima do Trem (livro e disco). Integra a banda Validuaté, com a qual lançou os álbuns Pelos Pátios Partidos em Festa, Alegria Girar, Este Lado Para Cima e Validuaté ao vivo – DVD e CD. Graduou-se em Letras na UFPI. É editor da revista Acrobata.