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20.5.21

02 Poemas/Momentos no Café Art Bar







CAFÉ ART BAR


da tarde que segue nervosa
homens surgem suados
carregados de preocupações
destinos a esmo
me vê uma antártica gelada
lá fora praça pedro segundo
a claridade destrói o asco
ferrugem que incendeia o portão velho
na entrada de um estacionamento
a urbe urge roncos trôpegos
a tarde é consumida dentro de um café




Rodrigo M Leite, publicado na Cidade Frita, Teresina: 2013, Versão atualizada



(...)



ENTRE BANCOS SORRI CAFÉ ART BAR


entre bancos sorri café art bar
as vontades da vista da praça
cheia de saudade do que não vimos.
entre postes
entre hippies
sorri meu mais novo amor
rodeado dos antigos
de restos e velhas construções
armações que o tempo preserva feito bibelôs
feito coração velho já amargo e frágil
com portas grandes e coisas sem valor.
entre bancos, pedras, rochedos velhos
sorrir meu novo amor.




Renata Flávia, enviado pela autora

9.4.20

Hotel São Francisco, em frente à Rodoviária, Rodrigo M Leite


combinamos
aquele hollywood o último
você pediu para fumar primeiro
que eu o acendesse 
na sua boca
bein não quero morrer igual aquele cowboy
da marlboro? relaxa
sobejo manchado de vermelho
tragadas esparsas cômodo sem luz
ainda não morremos tuf tuf tuf
não deixamos de fumar
mas aquele último cigarro 
que amamos juntos


Rodrigo M Leite, na A Cidade Fritaem janeiro de 2013

Chico Castro responde ao poema "Vermelha Vila Vagarosa", de Rodrigo M Leite


Em 27 de agosto de 2013, enviei por e-mail, ao poeta Chico Castro, o seguinte poema:


Vermelha Vila Vagarosa

entre cacarejos dos galos vizinhos
dança metálica das folhas secas no átrio
alto-falante a caminhonete anuncia
ESTREIA DO CAMPEONATO DE FUTEBOL MUNICIPAL
aderimos ao musgo
lesmas de uma antiga parede esverdeada que somos
quintal da casa empestada de netos
frutas airosas, inocentes desejos
tudo bem
um pouco mais de velocidade
meninos afoitos ao rio
redes com renda de crochê balouçando nos alpendres
movimentos despropositados da argila manhosa, dos aguapés chapados de erva:
num aluvião onírico
todos executamos ritmo das águas


A resposta do poeta, em verso:


muito bacana
a composição
linhas retas corações tortos
cidades cheias de corações mortos

a vermelha é foda
eu, nonato, mestre dim
a lua o sol a esquina
os anjos de mestre dezim
a luz do arrebol

a poesia é bobagem pura
coisa de malandro ocupado
não há remédio para a sinecura
ofício para quem vive desligado

e ponto final quando ainda não morreu a vírgula
uma exclamação que não interroga
um verbo que não vacila
uma reticência que não derroga

Chico Castro
Petrópolis, em 28 de Agosto de 2013

1.4.20

ser movediço, de Rodrigo M Leite (Download)


03 poemas

(...)

frio

perder-se entre panos encardidos
domésticas oníricas dunas
tender ao deslocamento
ao canal desabitado
ao sabor do cimento com lodo
com os testículos tímidos
quebrar o gelo do teu sexo depilado
lamber a tua febre: adorar os musgos

as lesmas foder

(...)

teu corpo feito um rio
águas turvas arrepios
minha saída naufragar
teu sexo feito peixes
cardumes cardumes
o meu desejo ir pescar

(...)

sob o ford amarelo que rumina
entre marquises, mel mercado

da noite ganhei frio e promessas do álcool
recriei o caminho da volta

quarteirões de vandalirismos abandonados
para namorar entre frutas podres neon


Ser Movediço, 
poemas de Rodrigo M Leite
ilustrações de Gabriel Archanjo
1ª edição

ESCOLA DE DATILOGRAFIA REMINGTON




Arquivo pessoal Rodrigo M Leite



21.3.20

"esfoliar os calos dos pés no concreto da quadra", Rodrigo M Leite




Ainda nem alcançava os pedais, mas gostava daquele jogo de cintura, alternando de um lado para o outro, o varão bem lisinho. Todo mundo comemorando a inauguração do ginásio. Eu só queria o vento nos peitos. Até voltar para pegar o boné no chão era divertido. Imagina. Ficava mirando ele na volta, de butuca, preparando o bote. Pescava de primeira, meu pé o arpão. Nem descia da bicicleta. A inauguração da nova quadra atraiu tudo quanto é parente e aderente. Os tios vieram da zona rural. Aquele dia, a casa cheia de primos, ninguém falou sobre a doença do vovô. O cimento fascinava: nós que vivíamos com ciscos nos olhos, poeira nos cabelos. Sempre comigo aquela sensação de esfoliar os calos dos pés no concreto da quadra. O suor forte por cima misturado com do vigia



Rodrigo M Leite, via blogue do autor,
Da série: Estrelas ou Poemas Esquecidos Incrustados no Ferro



Naquele dia mamãe apareceu mais cedo na escola. Acabara de sair do leito de vovô, no HGV. Não fizemos perguntas, já sabíamos que ele havia partido. Caminhamos abraçados pela Frei Serafim, suando, na cola de um caldo de cana com pastel. Tudo vai ficar bem, ficaremos mais unidos. A gente segurando o choro. Depois do caldo, mamãe comprou uns quadrinhos antigos ao lado dos correios. Ainda hoje comigo aquelas histórias

Rodrigo M Leite, via blogue do autor,
Da série: Estrelas ou Poemas Esquecidos Incrustados no Ferro

19.3.20

"ocaso na praça com fantasmas elegantes", por Rodrigo M Leite







ainda dentro da tarde quase todos lugares assaltados personagens noturnos na noite prematura outras coisas estão quietas esperam que acenem desejo qualquer pernoite sobre elas noturnos vendedores de mel pedintes de cigarro ocaso na praça com fantasmas elegantes de boresta no cinema ainda que os corpos em silêncio xícara vazia no cômodo movediço a noite adensa provocações [convites



(Rodrigo M Leite via blogue do autor)

24.4.19

Riscar com o assobio o gatilho dos cachorros, por Rodrigo M Leite


Quando saía da cidade, ainda na transição das zonas, guardião de uma casa abandonada, um jumentinho triste

Sobre as cicatrizes, flores amarelas caíam

O caminhante na estrada com morros, neblina nos picos envolvidos; o caminhante com mochila pequena de criança, colorida, mas encardida

Um sonho: a quinta na hora das borboletas, acerolas no chão molhado de chuva

O pensamento: encontrar a velha na tapera na metade da manhã

Riscar com o assobio o gatilho dos cachorros: tem um cão com a corda no pescoço

No posto de gasolina campeão, um ônibus sempre encostado. Na infância, excursões aos minadouros de água. O isopor cheio de dindin, cheiro de protetor solar

Àquela época, tão amparado, mas as águas secaram

Ou mudaram de lugar

27.12.18

"impressão ela tá sempre com a gente", por Rodrigo M Leite




depois da descida com as casas de palha armaram um circo quando apareceu aquela neblina na quebrada lembrei de escrever ainda tenho amigos que constroem casas em árvores

e são instigados, apesar

a gente rodou tanto amanheceu num posto aquele som fudido desconhecido comentando que entre o natal e a virada de ano menos idiotas na cidade porque menos gente na cidade

agora antes disso acontece coisa bicho escapar de cada convite atravessar intacto o lagosta sacou esse movimento uma vez a anna raquel chegou falando que o lance agora era ideia limpeza total ficamos uns minutos imersos nessa atravessando a ponte metálica de madrugada indo pra timon

criaturas de tocaia tem tanto fantasma ali

mas voltando o lagosta tava numa de making off nessa noite a galera depois de cantar fragmentos de metrópole lembrou do júpiter maçã aquele menino perdido faz um tempo que não encontro o lagosta mas a impressão ela tá sempre com a gente



(Rodrigo M Leite / inédito em livro)

Poética do Espaço (trecho), Gaston Bachelard


Fotografia de Rodrigo M Leite

As verdadeiras casas da lembrança, as casas aonde os nossos sonhos nos levam, as casas ricas de um onirismo fiel, são avessas a qualquer descrição. Descrevê-las seria fazê-las visitar. Do presente, pode-se talvez dizer tudo, mas do passado! A casa primeira e oniricamente definitiva deve guardar sua penumbra. Ela surge da literatura em profundidade, isto é, da poesia, e não da literatura eloquente que tem a necessidade do romance dos outros para analisar a intimidade. (...) Mas, além das lembranças, a casa natal está fisicamente inscrita em nós. Ela é um grupo de hábitos orgânicos. (...) Mais confusas, menos delineadas, são as lembranças dos sonhos que só a meditação poética nos pode nos ajudar a encontrar. (...) É no plano do devaneio e não no plano dos fatos que a infância permanece viva em nós e poeticamente útil. Por essa infância permanente, mantemos a poesia do passado. Habitar oniricamente a casa natal é mais que habitá-la pela lembrança, é viver na casa desaparecida como nós sonhamos. 

Gaston Bachelard,

16.10.18

PROIBIDAS AS LUZES MODERNAS, Rodrigo M Leite


proibidas as luzes modernas

os bêbados sem dor

ao toque dos cadeados nos velhos portões
ao brilho do ferro antigo estacionado
ao beijo nos temperos do mercado

esfrego as mãos nos vestígios de tinta e cola com papel
[ressecados nos postes

singrar por uma cidade onde as ruínas ruminem
em 2015, inédito em livro

20.12.16

Cidade Frita, qual teu itinerário nesta tarde? um epílogo, por Chico Neto




Cidade Frita, qual teu itinerário nesta tarde? É certo que girarás no espaço, margeando o abismo, com teu Caronte Cabeça de Cuia, um dos guias neste inferno. Mas por quais caminhos do passado, do presente, do futuro teus pés escaldantes irão nesta tarde? Em quais poemas ressurgirá o choro que tua beleza uma vez provocaste? Aqueles corpos apaixonados que deitaram no leito de teus rios para nunca mais surgirão em que fotografia? Cidade Frita e os teus. O calor purifica feito água, faz esquecer e suar tudo quanto carregamos de memória, vida, morte. Mas, por um artifício, tu permaneces com tua penca de gente, de praças, de ruas, de momentos. 

Teu artifício: Cidade Frita.


Texto de Chico Neto, que acena no vídeo
Filmagem de Rodrigo M Leite, nas
Torres da Igreja de São Benedito, Alto da Jurubeba, Teresina - Piaui

"cidade frita", Rodrigo M Leite


cidade frita entre rios
asfalto brita calafrios
idade grita entre pernas
sal limão sangue menstruação


Rodrigo M Leite
em A Cidade Frita
Teresina: 2013, versão atualizada