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17.10.13

DA CIDADE I




o poeta sobidesce
um arranha céus
outro caminho torto
na rua
espias casas

há um visível con
traste
entre o que é e o estar:
existir por cisma
já não vinga!




em Percurso do verbo
Teresina: 1987

DA CIDADE II




existe um canto
que sobrevive
à (b) usina de todos os dias
acalanto da memória
que a cidade descongela.

que é a barra / a barca
tremulando nos espaços
do arquiteto imóvel

a noite cobre aflitiva
a cidade:
o poema não se vence;
um homem bebe cicuta!



em Percurso do verbo
Teresina: 1987

DA CIDADE III




teresina se inclina
e uma névoa brusca
torna frágil o caminho

como custas a vir (meu amor)

ontem éramos nácar e sol
                                 hoje orvalho:
quanta coisa a te dizer
muito que fazermos
na aquarela escura
da cidade



em Percurso do verbo
Teresina: 1987

16.10.13

"o amor é recreio feito nos pastos verdes"




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o amor é recreio feito nos pastos verdes
da tristerezina
não tenha esses tantos medos
(que acho tão belos
em suas essências intocáveis)
porque o amor omnibus idem
e há tempos em que somos apenas amor
tudo em nós aí se imanta desse doce flagelo
e por ele respiramos
como se não existira nada além

aí reside a mudança das luas
devemos alçar o coração abaixar a cabeça
e participar dessa comunhão
cantando loas
correndo campoadentro
à toa...



em Percurso do verbo
Teresina: 1987

CENAS DE MORTE SOBRE O RIO




quando a gente tá nessas noites de ansiedade
e sai madrugada afora com um litro de chave de ouro
sob a camisa, comprimindo a lágrima na estação da saudade
descobre que a poesia ajuda a viver e quer que nosso poema
fira a carne dos mortais mas traga boas doses de riso
quem detém sobre a alba o sorriso perdido?
quem detém na vida a luz da saída?
quando a gente descobre que está só no mundo
está nu sobre o rio, e que a brutalidade das margens
compressas faz com que a água venha transbordando
dos olhos nos alhos, quer chorar sob a lua...
quem chamou por mim lá no longe?
quem me olhou chorar sob a ponte?
a vida é mesmo essa multidão de rostos inválidos
que a gente precisa ressuscitar. o poema é a melhor
maneira de falar para os meninos perdidos na escuridão
do rio e para as meninas da vida cingidas de cio...
quem viu meu poema no horizonte?
será que a vida me garante?


em Percurso do verbo
Teresina: 1987

TEREZIENSTADT




o muro da vergonha separa cidade da miséria
em ondulações de granito e flores de concreto
escondem os mafuás e malungos
frau tijubina não sabe
que a beleza é aparente
apenas pressente a separação
como dolorosa incisão
de um bisturi impiedoso



em Percurso do verbo
Teresina: 1987

"meu silêncio é planície morta"




meu silêncio é planície morta
do verde grandes lenços de linho
balançam a relva e assopram gemidos mudos
silvo de violino / aguilhão quando descansa

meu silêncio é a beira do poty
margens com-pressas
sussurrando loucuras / bandeirinhas vegetais
remando contra o re-mar

meu silêncio lençol horizontal
estendido no parnaíba
grande fala de poder falar e não precisar mais



em Percurso do verbo
Teresina: 1987

Ramsés Ramos - síntese biográfica





Ramsés Bahury de Sousa Ramos [ ✰ 28/12/1962 - † 20/09/1998 ] nasceu em Teresina - PI, faleceu na Rússia. Poeta, músico, jornalista, tradutor, tradutor e crítico de arte. Bibliografia: Dois gumes (1981); Envelope de poesia (com outros autores); Dança o caos (1981 - com outros autores); Percurso do verbo (1987); Baião de todos (1996 - com outros autores); Poema da paixão (1992).