Mostrando postagens com marcador gregório de moraes. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador gregório de moraes. Mostrar todas as postagens

23.3.21

Aurorianas, Gregório de Moraes


               Sol de longe
               De cima da serra
               Dos lados distantes
               De mundos sem fim!
               Sol-menino
               Na janela - no quarto
               Que auroras trouxestes
               Que auroras - pra mim?


Manhãs dadivosas
Meu lar, minhas trovas
Histórias saudosas
Que o tempo guardou
Casinha esquecida
Nas flores perdida
Discreta - escondida
Canteiro de amor

Manhãs delirantes
Mamãe - como dantes
Saudosos distantes
Os tempos se vão
Meu pai trabalhando
Madeiras serrando
Auroras somando
No meu coração

Saudade-menina
Amor-Teresina
Assim pequenina
Tu lembras de mim?

Eu sou teu poeta
Teu grande profeta
Que luzes projeta
De Cantos assim!

Quintal de minha casa
Sobre o chão da cajazeira
enflorescida

..........................................................................
..........................................................................


Aquelas cantigas
De modas antigas
Amigos! Amigas

Catai outra vez
No chão alourado
De flores guardado
Cantai no passado
Quem forte me fez!

Cantai as bonanças
Cantai as esperanças
Alegres crianças
Cantai sem parar
Cabelos grisalhos
Os meus - qual retalho
São pingos de orvalhos
Viver - caminhar

Meu Deu que destino
"Do canto fiz hino"
Igreja meu sino
Relógio do "amém"!
Fiz louros versos
De sóis tão diversos
Cantei os inversos
Tristezas também.


Gregório de Moraes
em Auroras Perdidas
Rio de Janeiro: 1970

15.4.20

Em minha Terra, Gregório de Moraes


Noivado de divinas esperanças
Tranquilidade a vida vaticina
Que queres mais, além de Teresina?
Ouvir cantigas, embalar lembranças!

No teu desterro houve tais bonanças:
Amor no peito... Encanto na retina
Houve esta fé que a todos contamina
Que se nos vem dos risos das crianças?

Na imensidão de toda esta doçura
Tu afogarás o que te transfigura
E poderás voltar para teu mundo!

Aqui só existe paz, felicidade
Há Deus... A Natureza... Eternidade
O mais sereno amor de mãe, profundo.


Gregório de Moraes
em Auroras Perdidas
Rio de Janeiro: 1970

10.4.20

Canção do Exilado, Gregório de Moraes


De tarde o sol se pondo além das matas
Meu povo à porta conversando, rindo
O sol brincando se escondendo, lindo
O murmurar feliz das cataratas!
Meu pensamento chora estas lembranças
No exílio amargo são meu amuleto
Ó venturosos dias de bonanças
Benditas horas que guardar prometo.

A minha mãe trazendo a lamparina
Iluminando os rostos dos seus filhos
Os benfazejos derradeiros brilhos
Raios de sol banhando Teresina!
Meu pensamento chora estas lembranças
No exílio amargo são meu amuleto
Ó venturosos dias de bonanças
Benditas horas que guardar prometo.

Dos palmeirais, endeixas carinhosas
Frases de amor, aqui pelas estradas
Um boi mugindo além para as quebradas
Do Parnaíba as águas suspirosas
Meu pensamento chora estas lembranças
No exílio amargo são meu amuleto
Ó venturosos dias de bonanças
Benditas horas que guardar prometo.

Velhas casinhas à sombra da ventura
Há nisto tudo: amor, felicidade
Uma orvalhada vida de saudade
Quem em vão no exílio minha fé procura!
Meu pensamento chora estas lembranças
No exílio amargo são meu amuleto
Ó venturosos dias de bonanças
Benditas horas que guardar prometo.

Meu céu é triste, triste, meu calvário
Viver distante das glebas que quero
Quero voltar à terra que venero
Dai-me de casa o velho itinerário!
Meu pensamento chora estas lembranças
No exílio amargo são meu amuleto
Ó venturosos dias de bonanças
Benditas horas que guardar prometo!


Gregório de Moraes
em Auroras Perdidas
Rio de Janeiro: 1970

5.4.20

Vareiro, Gregório de Morais


Chamar de bravo, de gigante, é pouco
Pois mil tormentas a sorrir domina
Este é o Vareiro, sim de Teresina
Do Parnaíba, desvairado, louco

O velho Rio se revira, rouco
Ruge. A garganta fétida, assassina
Grita o Vareiro: o céu se ilumina!
E não lhe importa o combater, tampouco

Depois do batalhar naquelas águas
Depois de disputarem suas mágoas
Vão mundo afora, vão tranquilos, mansos

São companheiros que nem Deus separa
Segue o Vareiro, épico, assim, não pára
De cara em punho a dominar remansos!


Gregório de Moraes
em Auroras Perdidas
Rio de Janeiro: 1970

4.4.20

Espécie de Amor, Gregório de Moraes


Quando eu encontro
por estes corredores do pensamento
os gritos da minha meninice
através das células da alma
chamando os colegas
gritando os colegas
caindo na água
do parnaíba;
pulando estas cercas de buriti
de um bucolismo subdesenvolvido
que fere as entranhas
e
gera saudades
..............................................................................

Quando tudo isto
de apagar mangas
e cajus
e
sentar no tamborete
de madeira
inclinado contra a parede,
surge assim
de mansinho
dentro de mim mesmo
eu me alargo em dores
e
morro de tristeza.


Gregório de Moraes
em Auroras Perdidas
Rio de Janeiro: 1970

1.12.15

REMANSO, Gregório de Moraes


O Parnaíba imenso, adormecido
Pelas beiradas balsas deslizando
Balouçam leves, vão além singrando
Ao pôr do sol, do meu torrão querido

Velhas lembranças tenho revivido
O Mafuá, o Boi, os Reis, cantando
Pelo Cabral, tambores soluçando...
O canto do capote, vão, perdido!

É, tudo, sei, de outrora uma lembrança
Do meu alegre tempo de criança
Fazendo pescarias e caçadas!

Quisera ver outra vez minha terra
Andar a esmo qual pássaro que erra
Na imensidão perdida das chapadas!


Gregório de Moraes
em Auroras Perdidas
Rio de Janeiro: 1970

16.4.14

NATAL EM TERESINA, Gregório de Moraes


Amo esta gente. A terra, seus destinos...
Os mangueirais, o Mafuá contente
Amo este sol que nasce de repente
Glebas que cantam tão sagrados hinos

Natal no povo. Repicar de sinos
As sombras deslizando lentamente
Luzes no altar, no coração da gente
Cantos de amor, cheios de fé, divinos!

Natal de minha terra para o mundo
Um coração repleto de venturas
Dizendo: Deus, no vento, nas alturas.

É o simbolismo deste amor fecundo
Que se revela até nos arvoredos
Como entre nós no entrelaçar de dedos.


Gregório de Moraes
em Auroras Perdidas
Rio de Janeiro: 1970

13.2.12

CASA DE PALHA, Gregório de Moraes


Acenderam a luz da lamparina
A casa vibra tenra, iluminada
Tanta doçura, tanta, em quase nada
Espelha esta gigante Teresina!

É noite! A paz em todo lar domina
Casa de palha, velha, desbotada
Eis minha vida em versos decorada
Pobreza que tão tarde me fascina

Eu venho de outros mundos soluçando
Estas lembranças que me foi roubando
O tempo que passava loucamente!

Casa de palha: marcos de bondade
Que vão somando, vão pela cidade
Lastros de amor no coração da gente.


Gregório de Moraes
em Auroras Perdidas
Rio de Janeiro: 1970

28.10.11

TERESINA, Gregório de Moraes


Mangueirais, minha velha Teresina
O povo alegre, sorridente, vivo
O Mafuá num batucar festivo
Saudade, mestra e mãe que amar ensina

Falar de minha terra me fascina;
Meu Deus, é tudo um eternal motivo
O Parnaíba marulhando esquivo
O Barrocão; a luz da lamparina...

Correr, subir veloz num oitizeiro
Tentar erguer meu papagaio primeiro
Lembrança das casinhas. Há quem esqueça?

Vivi no meu desterro esta lembrança
Ó saudade do tempo de criança
Dos maternais beijinhos na cabeça.


Gregório de Moraes
em Auroras Perdidas
Rio de Janeiro: 1970