10.4.20

Canção do Exilado, Gregório de Moraes


De tarde o sol se pondo além das matas
Meu povo à porta conversando, rindo
O sol brincando se escondendo, lindo
O murmurar feliz das cataratas!
Meu pensamento chora estas lembranças
No exílio amargo são meu amuleto
Ó venturosos dias de bonanças
Benditas horas que guardar prometo.

A minha mãe trazendo a lamparina
Iluminando os rostos dos seus filhos
Os benfazejos derradeiros brilhos
Raios de sol banhando Teresina!
Meu pensamento chora estas lembranças
No exílio amargo são meu amuleto
Ó venturosos dias de bonanças
Benditas horas que guardar prometo.

Dos palmeirais, endeixas carinhosas
Frases de amor, aqui pelas estradas
Um boi mugindo além para as quebradas
Do Parnaíba as águas suspirosas
Meu pensamento chora estas lembranças
No exílio amargo são meu amuleto
Ó venturosos dias de bonanças
Benditas horas que guardar prometo.

Velhas casinhas à sombra da ventura
Há nisto tudo: amor, felicidade
Uma orvalhada vida de saudade
Quem em vão no exílio minha fé procura!
Meu pensamento chora estas lembranças
No exílio amargo são meu amuleto
Ó venturosos dias de bonanças
Benditas horas que guardar prometo.

Meu céu é triste, triste, meu calvário
Viver distante das glebas que quero
Quero voltar à terra que venero
Dai-me de casa o velho itinerário!
Meu pensamento chora estas lembranças
No exílio amargo são meu amuleto
Ó venturosos dias de bonanças
Benditas horas que guardar prometo!


Gregório de Moraes
em Auroras Perdidas
Rio de Janeiro: 1970