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16.5.20

"fui tragada", Renata Flávia



fui tragada. me levaram em um dia cheio daquele sal que fica grudado na nossa pele em frente ao mar. nesse dia, nesse sal, fui tragada. um pedaço meu não quer voltar – nunca mais –, outro nem poderia. fiquei embaixo de escombros, um passado cheio de entulho e bagagens que nunca serão desfeitas. perdi os ossos. massa mole e crua digerida. quero a fórmula fácil. não suporto ameaça. quero o tato, o fogo de volta a esse corpo tragado. carnaval na esquina. teu corpo-poema se revirando em meu pensamento que rebola, bunda, costas, em tua cara de náufrago. meu corpo isca puxando de leve, de leve assim como o sal daquele dia pouco a pouco grudado e que já não sai. e já é pele sobre pele. calei quando explodi meu último artifício bélico. aos seus pés eu gritei músicas rápidas. três acordes, profanidades pelos pátios de guerra. meu sistema coronário parou de funcionar, baby. sou fogo. leoninamente fênix da cidade mais quente do mundo. nasci ali, entre o trago e a brasa. nasci ali na forma mais difícil de se segurar. faísca, caos, ar. uma mistura pronta pra



Renata Flávia, em Mar Grave, Editora Moinhos: 2018