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23.3.21
Aurorianas, Gregório de Moraes
Sol de longe
De cima da serra
Dos lados distantes
De mundos sem fim!
Sol-menino
Na janela - no quarto
Que auroras trouxestes
Que auroras - pra mim?
Manhãs dadivosas
Meu lar, minhas trovas
Histórias saudosas
Que o tempo guardou
Casinha esquecida
Nas flores perdida
Discreta - escondida
Canteiro de amor
Manhãs delirantes
Mamãe - como dantes
Saudosos distantes
Os tempos se vão
Meu pai trabalhando
Madeiras serrando
Auroras somando
No meu coração
Saudade-menina
Amor-Teresina
Assim pequenina
Tu lembras de mim?
Eu sou teu poeta
Teu grande profeta
Que luzes projeta
De Cantos assim!
Quintal de minha casa
Sobre o chão da cajazeira
enflorescida
..........................................................................
..........................................................................
Aquelas cantigas
De modas antigas
Amigos! Amigas
Catai outra vez
No chão alourado
De flores guardado
Cantai no passado
Quem forte me fez!
Cantai as bonanças
Cantai as esperanças
Alegres crianças
Cantai sem parar
Cabelos grisalhos
Os meus - qual retalho
São pingos de orvalhos
Viver - caminhar
Meu Deu que destino
"Do canto fiz hino"
Igreja meu sino
Relógio do "amém"!
Fiz louros versos
De sóis tão diversos
Cantei os inversos
Tristezas também.
Gregório de Moraes
em Auroras Perdidas
Rio de Janeiro: 1970
18.2.16
PÉS-DE-VENTO, Cinen de Sousa
Pelas quintas, quintais e passeios
ainda o benevolente
verde da cidade.
Carnaubeiras da Antonino Freire,
na Vila Poti, amendoeiras,
oitizeiros resistem pelas calçadas do centro
e alamedas.
O caneleiro secular! Algarobas, jatobás, figueiras.
Por que não dizer num alto-falante
que há mais que o verde
um roseiral, colibris e pôr-do-sol
entremeio
a esta Cidade-planeta
de risco aberto, um caso de amor e mil amantes
e esta cor do sol pelo firmamento
como pés-de-vento
que brota livre e engravida pessoas.
Cinen de Sousa
em TERESINA: Um Olhar Poético
Teresina: FCMC, 2010
Organização de Salgado Maranhão
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2.9.14
TERESINA
para Luis Romero
Procuro meu rosto
desgarrado em tuas vias;
caminho sob os oitis
da Praça da Bandeira
(que me não viram chegar
numa manhã de domingo)
com a solidão no calcanhar.
(Ali, ao sol de novembro
em que assinei sem saber
o preço da poesia).
Procuro de porta
em porta
(onde vendi sonho a crédito)
tuas ínfimas impressões
no intraduzível ontem.
Procuro por toda a parte,
no aroma dos quintais,
no desenredo das ruas,
nos espelhos desarmados,
essa íntima refulgência
com que forjaste meu caule.
Salgado Maranhão
via Piauinauta
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