POST CARD - TERESINA, Paulo Machado

POST CARD 57
na praça marechal deodoro
às nove horas falavam
da u d n e do american-can
um louco jaime fazia ponto no cruzamento
da barroso com a senador pacheco sem saber
que há tempos existia a guerra fria
quinta-feira era dia de matar o tempo
na praça pedro segundo enquanto sapos
copulavam nos lajedos do tanque
nas tertúlias do clube dos diários
uma geração embarcava no marasmo
esquecendo tudo mais
nos canteiros da avenida frei serafim
os cupins construíam suas casas
fiando estranha quietude
no bar carnaúba o sol roía o marrom
das tabículas das mesinhas ao passo que
os homens de casimira cinza faziam planos
na paissandu os bêbados
pregavam a subversão
e um bolero esquentava as entranhas da noite
nas calçadas da simplício mendes
um rosto magro madalena deixava brotar
estranhamente um sorriso largo de espera
no mercado central pretas carnudas
vendiam frito de tripa de porco
fígado picado e caninha
no caís do parnaíba piabas
cor de prata saltavam das águas salobras
como no sonho dos meninos
POST CARD 77
na marechal deodoro
às nove horas há velhos com suas memórias
recompondo o tempo
quinta-feira é um qualquer
e na praça pedro segundo a mudança notável
é a da posição da estátua que parece sorrir
no cruzamento da barroso com a senador pacheco
há um sinal que não raro
encrenca desafiando a rotina
não há tertúlias no clube dos diários
as baratas medrosas saem das boca-de-lobo
admiram os caixotes de cerveja empilhados e fogem
nos canteiros da avenida frei serafim
putas acenam com gestos medidos
a fome é mais forte que o medo
não há bar carnaúba mas os homens
de casimira cinza continuam fazendo planos
cogitando não aceitando irreverências
a paissandu agoniza
os bêbados já não falam tanto
e a frieza da noite venceu o calor dos boleros
madalena morreu de câncer
e nas calçadas da simplício mendes
não há nada que lembre a sua presença
no mercado central negrinhos descarnados
catam laranjas e limões podres
em plena manhã de maio
o parnaíba continua lavando as almas pagãs
dos meninos fujões
roendo as pedras do cais com a mesma raiva
Paulo Machado
em Post Card
de casimira cinza continuam fazendo planos
cogitando não aceitando irreverências
a paissandu agoniza
os bêbados já não falam tanto
e a frieza da noite venceu o calor dos boleros
madalena morreu de câncer
e nas calçadas da simplício mendes
não há nada que lembre a sua presença
no mercado central negrinhos descarnados
catam laranjas e limões podres
em plena manhã de maio
o parnaíba continua lavando as almas pagãs
dos meninos fujões
roendo as pedras do cais com a mesma raiva
Paulo Machado
em Post Card