"O RIO", por Herculano Moraes
O rio de minha terra é um deus estranho.
Ele tem dentes e tem braços e sabe rir,
como sabe chorar nas noites de solidão.
É muito calmo o rio de minha terra.
É muito calmo o rio de minha terra.
Suas águas são feitas de argila e de mistério,
sua alma é profunda e tão cheia de pecados homicidas...
(foi ele que levou o meu irmão).
O rio do meu mundo é um deus estranho.
Um dia ele deixou o monótono galopar de corpo mole
O rio do meu mundo é um deus estranho.
Um dia ele deixou o monótono galopar de corpo mole
e foi subindo as poucas rampas do seu cais,
e foi ver o movimento da cidade
e visitar as taperas marginais.
Tão fogoso e tão potente estava o rio
Tão fogoso e tão potente estava o rio
que todo um povo se juntou para enfrentá-lo.
Mas ele prosseguiu indiferente
Mas ele prosseguiu indiferente
carregando nos seus braços bois e gente
até roçados de arroz e de feijão.
Depois subiu os degraus da Igreja Santa
e postou-se horas sob os pés do Criador.
E voltou devagarinho...
até deitar-se novamente no seu leito.
Mas toda noite o seu olhar de rio
fica boiando entre as luzes da cidade.
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