8.2.13
POR QUÊ, PACATUBA?
Por que a Pacatuba
Agora São João
Deságua no Parnaíba
Molha a lembrança
Renasce no coração?
Climério Ferreira
em Artesanato Existencial
Teresina: Corisco/Sapiens, 1998
ESTAÇÃO TERESINA
27.1.13
"O rio deságua em mim!", por Ednólia Fontenele
O rio deságua em mim!
algum braço do Parnaíba
prende minha intenção de viver longe.
Estou aqui
mas permaneço lá,
suando com o calor
de suas tardes quentes
que se afogam nas águas do mar.
O RIO PARNAÍBA DESÁGUA EM MIM
Organização, introdução e notas por Assis Brasil
Teresina / Rio de Janeiro: FCMC / Imago, 1995
2.1.13
PAISAGEM AMARELA
maria
todo dia
ia
de encontro ao cais.
trouxa na cabeça
ia maria lavrar planos
que há anos
o rio enxaguou.
levava um sorriso pálido
pra dar sentido
à roupa amarelada.
Wilton Santos
em CERCA DE ARAME
Teresina: 1979
PRETA MALUCA
preta, a virgem mais clara
da paissandu
deu pra exótica
quando sentiu
bater à porta
a velhice.
pintou na boca
agitou um fino
enquanto se enrugava
depressa se alegrava
da ativa...
- sonhava...
Wilton Santos
em CERCA DE ARAME
Teresina: 1979
CIDADE VERDE, Wilton Santos
quanta maldade
cidade verde
esta cidade!
fruto da ilusão medíocre
da razão insensata
na proporção da verditude
das fardas
amarrotadas, fedorentas e desbotadas
como é esta cidade.
...esta crueldade
amedronta os ratos.
Wilton Santos
em CERCA DE ARAME
Teresina: 1979
1.1.13
TRAJETÓRIA, Nathan Sousa
Nathan Sousa
enviado pelo autor
TOMBAMENTO, Nathan Sousa
Os estacionamentos privativos
Nathan Sousa
enviado pelo autor
31.12.12
O MALA, Hélio Soares Pereira
A onda anda mansa
nas bocas da maré
sem o agito das moitas
Um mala
pinta no pedaço
na cola
de quem tem trampo
Alguém dá o berro
- Cadê meu cruza?
A boca esquenta
O cana vai fundo
pisando nos calos
do brasuca cara de pau
que tenta
fugir da raia
É a maré
que não tá pra peixe
só pra anzol
O mala é fisgado
com um berrante na cuca
que se funde nos grilos
Mas muito vivaldino
saca na fuça do cana o chapa
que se liga em cascata
E deixa cair de leve
a gaita
na boca do balão
SAUDADE, Hélio Soares Pereira
Hélio Soares Pereira
em "Onde o horizonte vem esconder-se..."
Brasília: Gráfica e Editora Esteio, 1982
TERESINAMADA, Hélio Soares Pereira
De noite
vejo brigitte bardot
na casa de shows
Enquanto o ônibus não vem
valquírias vão e vêm
Vou ao teatro
de arena
sem ponte de safena
e o bloco do amor
que fica
promove
o gera samba
da raça brasileira
Elba Zé e Alceu Valença
no pavilhão de feira e eventos
se aventuram
etcetera e tal
Teresina
assim derramada
é amada
e marca a vida
num esquema certo
de artesãos
Hélio Soares Pereira
em Passarela de escritores (coletânea)
Teresina: Edições Jacurutu, 1997
TERESINA QUE ME FASCINA, Hélio Soares Pereira
Quem cortou tuas tranças
te deixou mais linda
Cabelos soltos
ao vento
olhar penetrante
Teus pontos de encontro
são tantos!
De quando em quando
vestem novas roupas
feitas de sol e de lua
Toda nua
vejo-te às vezes
e te penetro
no eco faminto
de mim
lendo Torquato Neto
quebrando a monotonia
dos passos
além da vidraça
embaçada
no tempo
Relax total
entre amigos
no shopping
ou com a garota
que surfou minhas ondas
sonoras
e calientes
Gelar a garganta
num ponto antigo
em blablablás
confortantes
Saborear sorvetes
na avenida
bacuri cajá
ou murici
São prazeres
que tenho de ti
São caminhares curtidos
fins de semana
potycabana
Ao sol de largo olhar
bebo meus dias
Naturais lembranças
ainda me resguardam
do estresse
bombardeando nas veias
o colesterol
das horas vazias
Teu sol de agora
brilha
novos horizontes
e deixa
guardados na sombra
teus passos cansados
Hélio Soares Pereira
em Antologia escritores III
Teresina: UBE / PI, 2003
ÁGUAS DO PARNAÍBA, Hélio Soares Pereira
Águas do Parnaíba
ensaboando as pedras
deitando-se nas margens
umedecendo manhãs
emoldurando
saudades
Hélio Soares Pereira
em em Antologia escritores III
3.12.12
SEGUNDA FOTOGRAFIA VIVER TERESINA, Elizabeth Oliveira
Quem visita o bairro Poti Velho pode ver as casinhas
miseráveis presas à terra.
Os meninos do Rio Poti brincam em completa alegria,
alheios ao abandono.
Têm o corpo marcado pela desnutrição.
Esquecidos, a cidade não lhes repara.
Nem o país observa sua própria miséria.
Os meninos do Rio Poti dependurados no horizonte.
Comigo-não-se-pode ironizam o homem,
acidente circunspecto em céu aberto.
Por que a vida aqui parece uma fotografia pardacenta
onde o tempo parou?
O primeiro bairro da cidade anualmente
confirma a tradição pública festejada:
acompanhado pelos fiéis,
São Pedro percorre as ruas em procissão.
O povo lhe devota o sagrado sentimento,
na intenção de dias melhores,
que as aves de rapina lhes prometem no período eleitoral.
O Cabeça de Cuia escuta a fome em danças,
crianças em roda, ao encontro do Rio Parnaíba
com o Rio Poti de braços dados com a gente ibiapiana.
Ao se tornarem adultos, os meninos do Rio Poti
(e os do Brasil) verão com espanto sua lembranças,
a infância tomada, de doídas medidas.
Que futuro pode ter o país
com essa massa (ignorada) de miseráveis?
EU E O BAR, Elizabeth Oliveira
Estou no Bar Nós e Elis. Vou ao encontro da vida.
Tento compreendê-la.
O que dizem as luzes, o clima festivo?
Garçom, uma música romântica,
pois não entendo meu coração.
O que mostram as pessoas, em sua trivialidade?
Estou entre olhares indiscretos, ao som da MPB.
Mistérios me espreitam: como suportá-los?
(compor poemas talvez resolvesse!)
A cidadezinha inventa o mundo entre sorrisos de bares
e me estranha a moça só, produzindo incessantemente
o poema da madrugada.
Mas, o que se passa com a terna cantora de noites "rolantes"?
Sou a moça da farda,
pioneira de muitos goles sozinhos,
detentora de tantos senões.
Garçom, um gole de Mallarmé,
pois estou com a cara suja de Fernando Pessoa espia a mim.
Estou com a boca cheia de estrelas e
ninguém vai ficar imune a isso.
Sou palavras e sua presença é meu costumeiro vampiro.
De fato a eternidade é muito extensa
pode conter a infinitude de certos momentos.
Onde quer que vá, segue-me a poesia, pretexto de vida,
me diz; "onde tu fores, te seguirei".
Com meu canto teço sementes à terra,
que é meu veredicto ser-lhe testemunho.
Garçom, uma dose de Ezra Allan Pound ou um duplo
Florbela Espanca Drummondiano.
Meus vampiros precisam de orgias,
para o texto que se segue e que me rege.
2.12.12
PONTE METÁLICA, Marcos Freitas
por aquela janela
alto do prédio
viam-se
carros / pedestres
famintos / sedentos
desenfreados
intenso ->vai-e-vem <-
o museu
com sua grandiosidade
em frente - barracas de camelôs
revoada de andorinhas
ao redor das torres do Amparo
anunciando o pôr-do-sol
no Parnaíba - ponte metálica
Marcos Freitas
em Urdidura de sonhos e assombros
Poemas escolhidos (2003 – 2007)
Rio de Janeiro: CBJE, 2010
MATURAÇÃO DAS ROMÃS ou H. Dobal revisitado, Marcos Freitas
"Quatro vezes mudou a 'stação falsa
Poemas escolhidos (2003 – 2007)
Rio de Janeiro: CBJE, 2010
25.10.12
Nathan Sousa - síntese biográfica
20.10.12
TRESIDELAS, Durvalino Filho
19.9.12
RODRIGO M. LEITE E A MUSA ESQUECIDA, por Elmar Carvalho
Tempos atrás, através de e-mail, mantive contato com o poeta Rodrigo M. Leite. Chamou-me a atenção o fato de que ele selecionou os meus poemas, publicados no A Musa Esquecida, da coletânea Poemágico – a nova alquimia. Por essa razão, mandei-lhe alguns de meus livros, cujo recebimento ele acusou. Elogiei os poemas que dele conhecia. Pediu-me escrevesse algo a respeito, pois pretendia publicá-los. Por causa de alguns contratempos, sobretudo relacionados com o assoberbamento de serviços em minha Comarca, mas também por causa de alguns compromissos de ordem pessoal, demorei a cumprir o prometido. Tento fazê-lo aqui e agora.
Tomei conhecimento da existência e do trabalho do poeta por intermédio de seu importante blog A Musa Esquecida, para o qual chamo a atenção de meus poucos e seletos leitores. Nesse espaço literário virtual, Rodrigo vem estampando belos poemas de autores piauienses, quase todos imersos em injusto esquecimento – daí o nome do sítio internético. Apesar do título – A Musa Esquecida – o blog não é nada esquecido, e tem retirado do olvido poetas valorosos. Desejo apenas que essa Musa continue a se lembrar dos poetas esquecidos.
Pedi, por bilhete virtual, que o poeta me mandasse sua síntese biográfica. Ele, demonstrando ser uma pessoa desprovida de empáfia e empavonamento, me mandou uma verdadeira “mini-síntese”, se é que se pode usar a expressão, de apenas duas linhas. Foi então que fiquei sabendo a sua idade. Tem ele apenas vinte e pouquíssimos anos. Nessa idade, eu praticamente não tinha biografia, exceto a que todos temos, mas tinha o coração cheio de sonhos e a alma repleta de ilusões. Pude realizar alguns de meus sonhos; de outros, me despojei, e alguns, perdi pelo caminho de minha vida. Algumas ilusões apegaram-se a mim, e ainda, teimosamente, me acompanham; outras, feneceram; aqueloutras, morreram, por mais que eu as aguasse.
Espero que o poeta tenha um grande baú cheio de sonhos, e que todos se realizem. Na sua idade, é proibido não sonhar. Tenho observado que alguns jovens literatos, para se sobressaírem ou para chamarem a atenção, gostam de aplicar bordoadas nos mais velhos. Não foi o método que escolhi. Não foi o caminho escolhido por Rodrigo M. Leite. Ao contrário, seu notável blog tem distinguido poetas bem mais velhos que ele. Isso parece demonstrar que é ele infenso à inveja e à provocação de escândalos e tumultos literários, que invariavelmente levam de nada a coisa nenhuma, posto que o eventual brilho não passa de efêmero fogo fátuo.
Sem dificuldade percebi que os seus poemas, embora inseridos no que existe de mais atual, não se perdem em vãs vanguardas, em superados formalismos. Também não enveredam em pretensiosos hermetismos, com que muitos pretendem adquirir a glórias de poeta sábio, filósofo, profundo, ou sibilino, quando muitas vezes não passam de mistificadores, inflados de presunção e bazófia. Igualmente não desejou seguir a trilha dos chamados poemas visuais, que nunca foram novidade, uma vez que em épocas remotas já se urdia o carmen figuratum, e já, faz várias décadas, que se comete o poema concretista.
Fiquei sabendo que ele só publicou até hoje uma plaqueta com seus versos. Isso denota que não é preocupado com quantidade, mas com qualidade. Pude sentir que seus poemas, embora sejam produtos da contemporaneidade, são impregnados das eternas lições da lírica de todas as épocas, da tradição que se mantém viva, porque amálgama da própria vida, porquanto embebida dos sentimentos que sempre existiram em todos os homens, a despeito de épocas, “ismos” e rincões.
Os seus versos cantam a vida, com seus encantos e vicissitudes. Suas metáforas são assimiláveis, e harmônicas ao conteúdo a que se referem. Por outro lado, não contêm imagens gastas, repisadas, inócuas, como comprimidos que já perderam o efeito. São límpidas e vívidas, e revestidas de novas substâncias, mesmo quando se reportam aos eternos temas da lírica de ontem e de sempre. Como Drummond, Rodrigo canta o tempo presente, as coisas e os homens presentes; mas como bom poeta, trata também de todos os tempos, até do des-tempo de um tempo sem tempo, “de um tempo sem medida, fugitivo / de ampulhetas e relógios”, como assinalei no meu Noturno de Oeiras.
Elmar Carvalho
Publicado originalmente no Blogue do Autor
BEIRA RIO BEIRA VIDA, Marcos Freitas
beira de rio
açucenas
Casa Marc Jacob
Armazém Paraíba
lavadeiras
fogão e geladeira
troca-troca cais
beira de rio
pescador na CEPISA
manguezal no São Pedro
balsas em travessia
lavadores em agonia
beira rio
quase morto
assoreado
noite e dia
Marcos Freitas
em Urdidura de sonhos e assombros
Poemas escolhidos (2003 – 2007)
Rio de Janeiro: CBJE, 2010
18.9.12
PRIMEIRA FOTOGRAFIA VIVER TERESINA
Tentar compreender este sinal esquecido na vastidão do país.
Povoam-lhe um mundo próprio e professo calor humano.
A uniformidade da cidade, as ruas pequenas,
casas tímidas; seus quarenta graus mostram tenacidade
dessa gente em mudar seu destino.
A natureza proclama as águas do cenozóico rio,
ela pede respeito ao Velho Monge.
Mas, como esquecer a classe medianamente comprometida
com oligárquicas posições?
Cidade que é outro lado também aponta, a vida fácil
e colunável e superfídia,
percebida no volume que auferem algumas rendas
e a massa submersa em carências.
Invadem em rios subterrâneos, luzes que são espírito e ponte,
os artistas da cidade - contemporâneos do mundo:
os pés na história local
e o rosto voltado para o universal.
O povo recolhe sua presença nos fins de semana e
finge não ver suas raízes fincadas ao chão.
Não é possível compreender-lhe a razão: elegem
seus candidatos como quem aguarda redentor.
Teresina, Verde Cidade menina,
teu solo é paixão, dor e terno afeto.
Caminha. A felicidade se esconde aqui,
mas só se mostra quando estamos no exílio.
20.4.12
SEMELHANÇA
O rio é como a gente,
se vai o tempo inteiro.
Sempre está ali:
à margem de nós,
passando.
Laerte Magalhães
15.4.12
TRISTEESINA
Marcos Freitas
em Urdidura de sonhos e assombros
Poemas escolhidos (2003 – 2007)
Rio de Janeiro: CBJE, 2010
10.4.12
VISTA DE TIMON, por Francisco Miguel de Moura
Onde o teu verde olhar, mulher?
No corpo não, nos olhos não.
Quanto asfalto, lixo, TV, esgoto, favela.
Prédios do INPS (agora INAMPS), do Hotel (Luxor)
Piauí e da Associação Comer-cia(I), entre
- mangueiras que não dão mangas -
perdido a gente se vê.
Do lado de cá te olhando
Como se admira um postal
bem nos olhos esta canção
senti.
Canção menor, de amor de mais
de quinze anos e um filho,
e dos dias já vencidos.
Volto a fita dos meus sonhos,
Ponho-me no âmago Poti/Parnaíba,
bem onde as águas se irmanam escuras
e os desejos se perdem,
e me declaro réu:
- Narciso em teus espelhos.
Francisco Miguel de Moura
em 145 anos: Teresina cidade futuro
Teresina: FCMC, 1997
19.3.12
TERESINA, Laerte Magalhães
A cidade é pequenina,
mas o sonho é imenso,
feito o rio mais extenso,
que nos banha e nos fascina.
Ao dobrar de cada esquina,
sob o céu que nos socorre,
cada rua que nos percorre
para o bairro a que se destina.
Barcos que, sob pontes,
conduzem também destinos,
homens, iguais a meninos,
são afluentes e fontes.
Nas veias correm também
veios de luz, raios vivos,
os rios passando altivos
são rios de querer bem.
No bulício da quermesse,
o calor que desatina,
o coração de Teresina
é o sol que nos aquece.
Laerte Magalhães
17.3.12
O PARNAÍBA, Martins Vieira
Vem de longe, tangendo alvacentas espumas
Ao sabor da corrente, eriçando cachoeiras;
Aqui, se aperta; ali, se espraia, enquanto as plumas
De leques vegetais baloiçam nas palmeiras.
Leva a flor que tranquila adormece entre as brumas
E se deixa impelir como as balsas fagueiras,
Onde geme o violão do embarcadiço, e algumas
Das cordas vão ferir as cordas verdadeiras...
- Ó rio lá de casa, ó Pai velho das crianças,
Águas que vão molhar, o solo e as belas tranças
Da noiva que se banha em ti, ao vento e à luz,
Ó rio benfazejo, aplacarás a sede
Do mar, deixando aqui o pão em cada rede
E a nós, pelo batismo, o nome de Jesus.
Martins Vieira
em Canto da Terra Mártire (1977)
apud A POESIA PIAUIENSE NO SÉCULO XX | Antologia
Organização, introdução e notas por Assis Brasil
Teresina / Rio de Janeiro: FCMC / Imago, 1995
16.3.12
O SONHO POSSÍVEL, Hardi Filho
Mil novecentos e oitenta e oito
Pra seu final o século caminha.
Mais um milênio! A festa se avizinha,
E é tema deste soneto afoito.
O tempo é de inflação (sobre o biscoito,
o pão, a carne, a banana, a farinha...)
Mas é também de avanço (antes não tinha
Moça donzela pronta para o coito).
A vida está um caos, um pardieiro
onde se faz de “tudo por dinheiro”
e a honra é um mar que quase já secou.
Em Teresina – Piauí – Brasil,
11.3.12
IGREJAS E AVENIDAS
Das Dores guardo pra sempre
São Benedito dentro de mim
Nossa Senhora seja Amparo
Que eu serei Frei Serafim
7.3.12
O RIO
O rio não é mais
um veio de esperança
nem o livre caminho
que nos conduz ao mar.
O rio é um fio de sujeira
- cemitério aberto –
que na tarde se funde
com as cloacas da cidade.
V. de Araújo
em POESIA TERESINENSE HOJE
Teresina: FCMC, 1988
6.3.12
O BAR DO PICOLÉ
5.3.12
O CASO DO BUROCRATA MR-7 E SUA AMANTE LEE DIAMOND, Chico Castro
"Sou chefe de pessoal de uma
grande empresa,
dessas que têm autorização especial
dos órgãos estatais
para a exploração da flora da fauna
piauienses.
"Possuo um apartamento
financiado pela Caixa Econômica Federal
nas melhores condições de
pagamento do mercado:
* 4 quartos
* living com varanda
* suíte com vídeo deck e bar
integrados
* sauna e sala de repouso
* salão de ginástica equipado
* quadra de esportes
* sala de estudos para crianças
* playground e jardim
* salão de recepções
* lavanderia exclusiva e vaga na
garagem".
"De segunda a sexta-feira trabalho
que nem um condenado,
enquanto minha mulher tenta
mudar de cara
na Emê Clínica e Estética
sonhando em fazer aquela
viagem ais EUA
que eu havia prometido ano
passado".
"Nos fins de semana eu me divirto.
Pego o meu carrinho comprado
numa dessas concessionárias da vida
e vou para o Nós e Elis. Lá eu
bebo, bebo, bebo, até
ficar quase de porre, os braços, as
pernas, a cabeça
aos trancos e barrancos, depois de
conversar sempre com a mesma
gente".
"No sábado à tarde, recebo e faço
algumas ligações, marco encontros,
vejo alguma revistas e jornais que
eu não pude ler no decorrer da semana,
e no domingo a minha sogra vem
almoçar aqui em casa
para o bel-prazer da minha mulher
que tem, finalmente, com quem
conversar".
"Depois do Fantástico, eu vou
dormir
pensando no meu benzinho, porque
amanhã é segunda-feira
e a vida, dizem os meus amigos, não
está para brincadeira".
Chico Castro
3.3.12
ALUCINAÇÃO
O que mais me alucina
é não saber onde plantei minha sina
se foi em minha terra ou se foi em Teresina.
Adrião Neto
28.2.12
TERESINA NA DISTÂNCIA
O rio
palhoças nos beirais
pavios de castiçais
anos cinquenta
Teresina
dos incêndios corriqueiros
- lamúrias ao vento
Vermelha Tabuleta
Palha de Arroz ou Barrinha
na faísca mortal
da fênix
Bairros pobres
do puxa-encollhe
ancas nas ruas
e a vida porre
a escorrer pelo rio
O tempo andou devagar
Depois das enchentes
gente de todo lugar
Ah! - que a primavera não tarde
para as perdizes transparentes
Hélio Soares Pereira
em Passarela de escritores (coletânea)
Teresina: Edições Jacurutu, 1997
22.2.12
VERBICIDADE
EU teresino
TU teresinas
ELE teve sina
NÓS teresinamos
VÓS tereis sinais
ELES teresinam
Durvalino Filho
em 145 anos: Teresina Cidade Futuro
21.2.12
CARNAVAL, CARNAVAL
13.2.12
CASA DE PALHA, Gregório de Moraes
Acenderam a luz da lamparina
A casa vibra tenra, iluminada
Tanta doçura, tanta, em quase nada
Espelha esta gigante Teresina!
É noite! A paz em todo lar domina
Casa de palha, velha, desbotada
Eis minha vida em versos decorada
Pobreza que tão tarde me fascina
Eu venho de outros mundos soluçando
Estas lembranças que me foi roubando
O tempo que passava loucamente!
Casa de palha: marcos de bondade
Que vão somando, vão pela cidade
Lastros de amor no coração da gente.
Gregório de Moraes
em Auroras Perdidas
Rio de Janeiro: 1970
12.2.12
NO OLHO DA RUA
no calçamento da cidade
tropeça
o pensamento do poeta
(já vai longe o tempo
em que se corria no meio da rua
e o loucos
só atiravam pedra na lua
só atiravam na lua
se retiravam na lua)
quem se importa com a porta?
há tantas e tortas para se abrir
cai a primeira pétala
por sobre a pérola do olhar perdido
- é o infinito que termina
no incidente da próxima esquina
é o espelho que reflete (vermelho)
a rosa par (t) ida
a ilha ferida
no último bote da serpente ocidental
(qual é o mar
em que homens azuis carregam fuzis
e descarregam mísseis
nas costas do povo?)
é hora de botar as barbas de molho
abrir o olho e erguer o malho
porque à noite
os cães rosnam como cães
a cidade dorme como um anjo
e o poeta está no olho da rua
o sol não tarda a raiar
Laerte Magalhães
11.2.12
RESISTENCIAL, Francisco Miguel de Moura
Teresina, oh Chapada do Corisco,
sofro de ver teu corpo de pobreza,
desfolhada no meio da luxúria,
quando a chuva desmancha-se na areia.
Sem serras e sem montes, te dominam
os demorosos vales dos meus rios
Parnaíba e Poti, líquidas mágoas -
- Piauí danado, sem correr.
Vizinho, o Maranhão é a nossa vista,
em verdes copas de palmeiras verdes.
Este consumo de calor - aqui.
Do cearense, irmão mais sertanejo,
sofrido em sol e seca e serra, houvemos
este exemplo feroz: de resistir.
Francisco Miguel de Moura
em 145 anos: Teresina cidade futuro
Teresina: FCMC, 1997
5.2.12
Cine Rex, Graça Vilhena
Rex
Mentex
007
Os goldfingers
a minissaia
o jeans
o sexo
braços mecânicos
e olhos de eternos diamantes
4.2.12
BARRINHA QUE JÁ SE FOI, João Ferry
Barrinha, minha Barrinha
Viraste Palha de Arroz!
A palha não era minha
O rio levou depois
O rio, assim como o vento,
Depressa doido ficou.
Não houve chuva a contento
E o rio também secou.
Quando houve chuvas a granel
O rio sem paciência,
Cumpriu seu triste papel,
Levou tudo sem demência!
Na Vermelha, do Laurindo
Tanta gente brincou lá,
Que a Vermelha foi caindo
Descendo pro Mafuá:
O Mafuá cresceu tanto,
Mas, fez tantas confusões,
Que se acabou por encanto,
Como os bons Três Corações
Buraco da Velha foi
Também zona de alegria
Mas, adeus Bumba-meu-boi
Busca-pés e cantorias
O querido barrocão
Que nos deu Doutor Boeiros
Sucumbiu-se, foi ao chão
Dando vida aos Cajueiros.
Minhas saudades, porém,
Confesso, não me dão trégua,
Quando na mente me vem
O sol da Baixa da Égua.
São Raimundo! São Raimundo!
Frautas, luar, sonho e farra,
Virou poeira no mundo
Trazendo após a Piçarra!
Poti Velho, Teso Duro!
Poções, Noivos, e o Pau-Dágua!
Vamos ver, se temos furo,
Sem ter choro, sem ter mágoa.
Catarina e São Joaquim
Matadouro e Pirajá
Passeios bons do Angelim
Já não existem por cá.
Já não tem rua do Amparo
Nem da Estrela, nem da Glória,
Tudo mudou sua história.
Ficou tudo ao desespero!
Tudo se foi - Retrocesso!
Com fonte rara e divina
Veio em seguida o progresso
Engalanar Teresina.
Pedro Silva! Hoje tudo
Tudo! Tudo é diferente!
Tudo é grande e não me iludo,
Só nós dois somos gente!
Até mesmo a Não-Se-Pode...
Também assim é demais!
A nossa alma não sacode,
Ai, nunca mais! Nunca mais!
em A GERAÇÃO PERDIDA
de M. Paulo Nunes
São Cristovão/RJ: Artenova
2.2.12
MOROU (OU TÁ-NA-BOCA), Fontes Ibiapina
- Morou, Tá na boca!
Fontes Ibiapina
1.2.12
PRAÇA PEDRO SEGUNDO NOS TEMPOS DA LAMBADA
pernas à vista
pessoas indo e vindo, engraxates, cervejas
uma gatinha vendendo charme
meninos, amendoins e esmolas
olhos injetados
mãos amarelas vendem cigarros e bombons
uma turma de canas da civil
"lambada: botando fogo na noite"
em cartaz no cine rex
senhora com mais de quarenta vende espetinho à brasa
gordura fumacificada impregnando tudo
uma morena de seios lindíssimos
quatro mãos num diálogo de trejeitos
gays ao lado da banca de revistas
um bêbado diz que é o tal, que faz e acontece, e enche o saco
olhares de todos para todos os lados:
troca de projéteis silenciosos
fui atingido à altura do peito, mas já estou recuperado
um rapaz encabulado que tropeça
batedores de carteira relaxam na hora do descanso
(a hora do descanso é sagrada!)
doido varrido dorme na calçada do Teatro
sonha?
música em volume acima do suportável por uma vitrola rouca
caldo de cana
lambada para dar nos nervos de qualquer mortal razoável
paralisado um homem olha as formas da mulher que passa
gritos, assobios, acenos e copos contra a garrafa:
a disputa da atenção do garçom que, impassível, demora
o colega que tirou a tramela da língua após o terceiro copo
conversa animada
comentários diversos
um poste metálico no meio da praça:
herança inexplicável de um relógio digital que não vingou
especulações em torno do passado da praça
um casal que se beija
homem andando com toda pressa
trombadinhas perto da fonte
observação visual, táctil, gustativa e olfativa
observados patéticos
sons que muito lembram um inferninho
o próprio inferno
mãos que se tocam
palmadas nas costas:
demonstração de carinho ou virilidade?
impressos devorados por taciturnos leitores de prateleira
o bar do cuspe, à distância
uma turma de canas fardados
a galeria do Teatro, no local onde existia o bar Carnaúba?
anotação em papéis
convite para a inauguração de um bar
alguns vão ao Clube dos Diários
jornal das oito, seu Marcelino e A. Tito jogando conversa, Flávio na bandeja,
gente rara
um homem cuspindo a todo instante
motoqueiro sem noção do ridículo sobe a praça com sua máquina
e continua acelerando:
indisfarçável vocação para dono do mundo
a colega que só agora noto ser uma gata
conversa sobre o tempo e outras amenidades
convite para uma festa engajada e nas decências
colegiais de procedência indeterminada
lebres em pele de lobas
uma mulher com embrulhos
garota sensual usa saia curta estampada
picolés, pipocas e sorvetes
roupas coladas ao corpo
lua anunciando para breve encher-se de claridade arrasadora
o garçom que cobra a despesa além da conta
debates, negociações e acordos
pagamento em cheque
hora de levantar âncora
vamos em frente, a todo pano,
desbravar outras praias:
a noite é uma seda!
Manoel Ciríaco
30.1.12
ESPERAR A TARDE CAIR
Esperar a tarde cair
e atirar os olhos na grande avenida
como um animal faminto.
Assim como o sol que vai fugindo,
fugindo vai meu coração.
Até quando os mortos me lembrarão?
Quero apenas ver o mar,
Mas há tanto concreto nesse horizonte!
Pessoas vivem além das árvores
Com segredos e mistérios
Cortados pelos cantos dos pássaros.
Uma morte não acabará com o reino,
Nem o reino acabará com as mortes.
As horas não correm ontem
Porque hoje não tenho compromisso,
Mas meu desejo não é parar o tempo
Porque este vive em minhas veias.
Francisco Miguel de Moura Júnior
em A POESIA TERESINENSE HOJE
Teresina: FCMC, 1988
29.1.12
O garrafeiro, Graça Vilhena
o garrafeiro era apenas um homem
que sobrava das ruas
também sujo de terra e esquecido
como as garrafas e cacos no quintal
suas mãos de cuidado
tangiam aranhas, lagartixas
e vez por outra
um escorpião afiado
depois arrumava as garrafas
lado a lado
âmbares, azuis, verdes, transparentes,
num arco-íris pobre
"essas são de vinho tinto"
dizia-me ele embriagado de vazios
e as de fundo côncavo serviam
para pescar piabas no Poti
o mundo é duro e frágil, eu aprendia
mas nele lições pequenas eternizam
piabas prateadas nas garrafas
como rútilos presos nos cristais
Teresina, Nova Aliança e Entretextos, 2013
28.1.12
AQUELA CIDADE
Os habitantes daquela cidade andam pensando os seus caminhos;
ajeitam na dureza da terra, o porvir de novas bocas.
Acordam o dia com olhos de melancolia
e tateiam a cintura das meninas sensualmente.
No que atinge o Halley as suas vidas?
Nos grossos colarinhos desbotam manchas solares,
e nem sempre vestidos estão de esperanças
mas carregam consigo seus filhos presos as suas tetas.
Os habitantes daquela cidade andam audazes de lentidão.
Ao futuro consultam a tática da luta ou alguém,
um feroz que realize o mágico?
Os habitantes daquela cidade ficam
dopados de tenra candura por uma cidade que se guarda em dizer-se.
26.1.12
EXCERTO DE BALADA DO SANATÓRIO MEDUNA
Paisagem! É a nova coluna do helesponto erguida
Em suave gradação, depois desce um aclive, pára
E se estende até às margens do rio Poti;
Aí ficam a deveza e as ravinas, atravessando
A faixa que mãos nipônicas trabalharam,
Olhos oblíquos voltados para o Império do
Sol nascente. Cerejeiras em flor, lembranças.
A entrada está franqueada por “flamboyants”
E vivendas que sugerem, sugerem sempre
Coisas da França Antiga, romântica. Ao alto
Vasta cidade quadrangular, simétrica,
Com ornatos e recamos, longos corredores;
Ao lado se entremostra a pequena igreja
Acolhedora, refúgio dos aflitos...
Fabrício de Arêa Leão Carvalho
24.1.12
PRAÇA PEDRO II
Praça Pedro II, outrora Aquidabã. Não entendi a mudança do nome, que era mais sonoro, romântico e original para o local. Historicamente, não há como se justificar, pois o Imperador jamais pusera os pés no Piauí, nem mesmo os olhos. Tampouco a sua consorte, a quem deram o nome da capital. Falta de imaginação ou puxa-saquismo. Resquício da bajulação reinante no Império.
Foi ali que vi o maior ajuntamento de gente na cidade. Aconteceu no show com vários cantores famosos do Rio, patrocinado pela Vigorelli. Se tudo do Rio de Janeiro já exercia fascínio, aquele espetáculo com os melhores intérpretes da música popular, como Nélson Gonçalves, Orlando Silva, Ângela Maria e Adelaide Chiozzo, dentre outros - só vistos no cinema - era algo encantador, deslumbrante. Arrebatador de público. Ainda mais gratuitamente. Naquela noite, ninguém permaneceu na porta da rua, fugindo do calor e das muriçocas.
Desde cedo, a praça foi recebendo gente. De todos os quadrantes. O palco armado na sua parte superior. À hora marcada para o início do show, a massa presente. As figueiras lotadas de espectadores que não deixaram espaço, nem permitiam que outros subissem, o que me irritava, porque, não encontrando uma posição que me desse visibilidade, ainda não podia subir numa. A molecada não deixava e até me cuspia. Foi quando, providencialmente, apareceu o Cacique que, já acomodado num galho e vendo meu desespero, me chamou e me ajudou a trepar na que estava, embora sob os protestos dos ocupantes. Esse meu companheiro da Quinta Velha, de índio só possuía o apelido. Tipo magricelo, alto, uma barriga que não tinha mais tamanho, calmo, falava pouco e gozava da fama de valente, mas nunca o vi brigando. Dificilmente tomava partido nas discussões e, quando consultado, opinava com ar professoral, sentindo-se importante. E sua opinião era acatada, valia. Por ser o mais velho do grupo, os novos acreditavam nele, tanto que, havendo jogo fora, era levado para atuar como consultor, protetor. Gostava dessa deferência. Mas, aos poucos, ele foi ficando esquisito e sumindo do nosso meio. Falava menos ainda. Passou a se fechar em si, não saindo de casa. Chegou ao ponto de que nem a cara punha na janela. Diziam que adoecera da cabeça porque se masturbava muito
Da figueira, eu avistava nitidamente os artistas, até os detalhes de seus trajes, apesar do desconforto. Mas não importava. Melhor do que ficar no meio da multidão, fuçando lugar feito tatu e levando empurrões. O inconveniente era não poder me mexer, daí me doíam as costas, porém a beleza do espetáculo compensava o sacrifício, tirando-me o pensamento da dor. E eis Adelaide Chiozzo, em cena, cantando e tocando acordeão. Babaquice geral. Seu jeitinho manhoso. Cabelos médios e lisos. Conquistou a multidão. Naquele momento, então, ouvi um estalo no galho em que estava montado. Foi tão rápido que não tive tempo de pular. O mesmo despencou trazendo a cambada em cima de mim. Caí zonzo. Formou-se um pequeno tumulto, com gente correndo, pensando que fosse briga. No chão, ainda, fui pisado e acreditei que ia ser massacrado. Dei sorte. Consegui levantar-me, meio aéreo e fui mancando para casa, com alguns arranhões no corpo, sem mais querer saber do show.
Aquele recorde de gente superou de longe o público dos comícios. Até no que compareceu Adhemar de Barros, disputando, pela segunda vez, a Presidência da República, com o Marechal Lott e Jânio Quadros. Adhemar, no seu jeitão de alemão e com sotaque paulista, passou o tempo todo expedindo ofensas pessoais contra Jânio, chamando-o inclusive, de maricas. Nada de coisa séria na sua fala, mas o povo vibrava com os xingamentos. No entanto, Jânio, empunhando a bandeira da UDN, ganhou em disparada. Uma loucura de votos para sete meses depois abortar, sem dor, o cargo, pondo a nação confusa com uma batata quente nas mãos. Aliás, Jânio foi a maior e a pior piada deste País. E piada chula, cheirando a álcool.
Sempre foi a praça favorita para os grandes eventos, dadas a sua amplitude e centralização. Ela era dividida em dois planos. No superior, com iluminação fraca, ficava o coreto, onde a banda da Polícia Militar executava chorosos dobrados, cujo quartel central localizava-se defronte. Era a parte preferida por soldados e empregadas domésticas, que namoravam nos bancos semiescondidos pelos canteiros de plantas.
Só dava curicas naquele pedaço, como diziam as moças de família, referindo-se às empregadas domésticas. Na parte inferior havia os tanques, enfeitados por garças e algas marinhas. E o desfile em roda.
Moças de um lado, andando em círculo, e os rapazes do outro, em sentido contrário. Ou então eles ficavam parados, paquerando as meninas que passavam, geralmente, em dupla, de risinhos, cochichos e lançando olhares convidativos. Para alguns, a parte de cima era melhor, tinha futuro, porque o namoro começava na hora e já avançado - sem inibição e preconceito.
José Ribamar Garcia
13.1.12
TERESINA
Ela lá
espraiada entre pernas
negras, longas
entre céu
e sol
eu sul e frio
cotruco tijubina lapiana
fere, saudade
meu coração!
Keula Araújo
9.1.12
ODE ÀS COCOTINHAS
um dia desses sonhei
que de repente virei
imaginem, o latorraca.
as seis horinhas da tarde
caminhei descontraído
pelo canteiro central
da iluminada frei serafim.
vi aquela aglomeração
na altura do colégio
das nossas santas irmãs.
era um enxame gigante
da mais bela espécime
a vicejar na paróquia
elas me viram
eu lhes vi
e qual não foi o ouriço
que o trânsito daquela hora
fez parar e engarrafou.
me dá um autógrafo de cá
me dá um beijo de lá
me mete a mão por aqui
que eu sei também que é ali.
o sonho que tava lindo
foi virando pesadelo.
eu, no sufoco de terna boca um chiclete
um sorvete, um picolé,
acordei gritando
acode, mamãe.
Zeferino Alves Neto
em Revista Cirandinha
Número 1, Teresina: 1977
2.1.12
LEMBRANÇAS DE TERESINA
fui feliz como o Marajá de Burundi
embora tivesse uma odalisca só
acabei com o estoque de paçoca
/e cajuína
fiz piqueniques imaginários
à sombra das palmeiras
e vi que o Piauí é parecido com
/o Havaí
porque passei todo o tempo surfando
só não sei onde nem quando
Geraldo Carneiro
em TERESINA: Um Olhar Poético
Teresina: FCMC, 2010
Organização de Salgado Maranhão
25.12.11
AOS VIAJANTES
Ó tu, viajante!
que ora estás
no meu Piauí.
Se passares por Teresina
e beberes no cálice
o amor materno
matarás no peito
a sede de afeto
que vive em ti
Hélio Soares Pereira
em Onde o horizonte vem esconder-se...
Brasília: Gráfica e Editora Esteio, 1982