Mostrando postagens classificadas por relevância para a consulta PONTE METÁLICA. Ordenar por data Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens classificadas por relevância para a consulta PONTE METÁLICA. Ordenar por data Mostrar todas as postagens

9.10.11

PONTE METÁLICA, Adrião Neto


Velha ponte metálica
que num fraternal abraço
une Piauí e Maranhão
o trem que te cruza
é mais um fator de integração
entre os dois Estados.
Monumento histórico e paisagístico
não és apenas um cartão postal
que irmana Teresina a Timon
e sim, uma testemunha ocular,
do abandono, do descaso e da agressão
que o Parnaíba vem sofrendo:
seu leito que outrora
fora caudaloso
hoje é apenas um fio de lágrima
da mãe Natureza
chorando sua própria desgraça.
Comovida, pedes socorro
mas ninguém te escuta
enquanto isso, o Velho Monge
no auge da sua caduquice
transforma suas águas em coroas.


Adrião Neto
em Poesia teresinense hoje 
Teresina: FCMC, 1988

2.12.12

PONTE METÁLICA, Marcos Freitas


por aquela janela
alto do prédio
viam-se
carros / pedestres
famintos / sedentos
desenfreados
intenso ->vai-e-vem <-
o museu
com sua grandiosidade
em frente - barracas de camelôs
revoada de andorinhas
ao redor das torres do Amparo
anunciando o pôr-do-sol
no Parnaíba - ponte metálica


Marcos Freitas
em Urdidura de sonhos e assombros
Poemas escolhidos (2003 – 2007)
Rio de Janeiro: CBJE, 2010

23.11.15

ARNALDO ALBUQUERQUE [2]


O sujeito era tão intenso que uma crônica ou duas não dão conta da sua peregrinação num destino que carregava cravado no umbigo. Sua história nos quadrinhos e no desenho animado deixou herdeiros que reconhecem a filiação e uma tese de mestrado faz uma análise do seu lado marginal à marginalidade.

Fizemos um jornal na década de 1970, que circulou apenas duas vezes, mas nomeou uma geração: “Gramma”. E as duas capas eram dele. A do número um, aqui reproduzida, é uma obra prima. No nome Gramma detalhes podem ser acompanhados com uma lupa de cenas proibidas na nudez com erotismo digno de um Wolinski. Entre às cenas de sexo, o coração de Jesus pende do meio do primeiro M com a inscrição blasfêmica “o coração de Jesus era de pedra” e na última perna desse primeiro M a própria face do Cristo contrasta com o inferno que queima a lascívia do outro M. Mas no conjunto das letras o mal parece vencer o bem da religião. As outras letras parecem vencer o M do Cristo, mas é nele que se pode ler “a maior curtição”. O desenho central parece um autorretrato que arranca o coração do peito num rasgo tão grande que expõe as vísceras abdominais de forma chocante. Singelas flores emolduram o quadro.


Essa capa faz prescindir o conteúdo do jornal na temporalidade. É o que fica. É a transgressão que nos representa, toda uma geração, num desenho dele. Na mesma época era fundado o Charlie Hebdo na França, e aqui na terra “O Pasquim” já era reconhecido por dialogar com a contracultura. Era no desenho do Arnaldo que nós gritávamos, no estado mais atrasado da federação brasileira, que o sertão entrava no cenário da contracultura.


E ele continuou desenhando. Emplacou alguns cartuns n’O Pasquim. Fez ilustrações para livros de contos, como as que publicamos aqui. No traço a violência e o erotismo. Duas formas de protestos incontestes.


Mas foi agora, já depois de sua morte, que tomei conhecimento, pela internet, de um grande e futurista desenho. Um felizardo declara que ganhou o desenho do próprio Arnaldo em 1982. Em um cenário futurista, que lembra Metrópolis do Fritz Lang, prédios de Teresina e Timon (cidade fronteiriça do Maranhão) fazem um paredão às margens do Rio Parnaíba. O leito do rio secou e um fiapo de esgoto corre por baixo da Ponte Metálica (símbolo da cidade, quando ainda não tinha a ponte estaiada). Premonição do artista?


Depois silenciou. Parecia que a obra tinha ficado pronta. Só caminhava de casa para o botequim do meio do quarteirão. Tomava uma ou duas pingas. Bastavam. E o caleidoscópio do artista girava num mundo que ele não quis habitar por ter sempre se mantido à margem. Ele só saiu do nosso campo visual, mas continua à margem. Agora na terceira margem do rio, como no conto do Guimarães Rosa.

21.8.16

Teresina anivessariou: 164 anos

Teresina, por Dino Alves

Quando eu nasci Teresina ainda ia fazer 100 anos no ano seguinte. Palmeirais, meu berço, nem tinha dez anos que deixara de ser Belém. Sou filho de cidades novas. Quase contemporâneas. E nesta semana Teresina aniversariou em dezesseis. Cidade menina. Parece um passarinho que troca de penas ainda pela primeira vez. 

Conheci cidades na Europa que conservam suas ruas e algumas construções de muito antes dos portugueses chegarem por aqui. Mas Teresina está abandonado o traçado geométrico que o jovem Saraiva imaginou, antes de virar Conselheiro do Império. Oeiras, mesmo abandonada para dar lugar à nova capital resiste no seu casario colonial centenário. Teresina queimou suas casas de palhas antes de fazer 100 anos. E vai chegar ao segundo século absolutamente irreconhecível no seu passado. Tem jovens que nasceram na cidade nova que nunca puseram os pés na cidade velha.

Inexorável, Teresina atravessou o rio Poty para o leste e esqueceu a cidade velha. A festejada ponte estaiada funciona como um portal moderno que nos faz adentrar na cidade nova, o que para mim – que a deixei há quarenta anos – não faz qualquer sentido. Sou contemporâneo da ponte metálica que nos separava de Timon, da Avenida – que nem precisava chamar de Serafim –, da Igreja das Dores, da Amparo, da São Benedito, da Pedro II, do Clube dos Diários, da Rio Branco, da Estação, do Marquês, da Vermelha, da Piçarra, do Poty Velho, do Mercado Velho, do Mafuá, da Vila Operária, do Porenquanto – bairro de nome poético que era pra ser provisório e está perpetuado no esquecimento da cidade antiga.

A minha saudade está esmaecendo e ficando sem lugar.

Quando Teresina aniversaria me lembro do poeta Lucídio de Freitas:

Teresina apagou-se na distância,
Ficou longe de mim, adormecida,
Guardando a alma de sol da minha infância
E o minuto melhor da minha vida.

E eu sigo, e eu vou para a perpétua lida.
Espera-me, distante, em outra estância...
É a parada da luta indefinida,
É a febre, minha dor, minha ânsia...

Como são infinitos os caminhos!
E como agora estou tão diferente,
Carregado de angústias e de espinhos!...

Tudo me desconhece. Ingrata é a terra.
O céu é feio. E eu sigo para a frente
Como quem vai seguindo para a guerra...


em 21 de agosto de 2016

2.12.15

PALHA DE ARROZ




Capítulo XXXVII


[...]

Pau de Fumo ouviu toda aquela conversa do Comissário que dizia falar também pela boca do Delegado e do Chefe de Polícia. Ficou com água nos olhos e uma coisa apertando-lhe as goelas por dentro. E com vontade de perguntar como era que se deportava um brasileiro para outras terras também dentro do Brasil. O que significava aquilo? Exílio? Asilo! Banimento? Que Direito Interestadual seria aquele?! Aquilo não era nada mais nada menos do que safadeza. E por que não deportavam também Ceiça e os meninos?! (Por causa deles que roubava).

Em todo caso, ficar calado seria melhor. Bem conhecia de perto aquela polícia Civil.

— Seu Epitácio, eu quero ao menos permissão para me despedir da família.

— Que família, negro safado! Onde foi que já se viu um ladrão de sua estampa ter família?!

E os guardas riram a valer.

— (Miséria! Homo stupidus! Único animal do mundo que ri e chora. Chora infeliz! Ri, miserável! Chora das tuas desgraças! Ri das misérias dos outros!)



Capítulo XXXVIII


Lá se vai ele escoltado rumo Estação do Trem! Como estaria Ceiça àquelas horas? Os meninos... ?

O trem apitou. A mesma máquina velha, uma das mais antigas de todo o Brasil (do tempo de Mauá). A mesma que um dia levara seu amigo Parente para outras terras.

Lá se vai embora o negro Pau de Fumo! Num vagão de terceira classe. (De terceira não, que uma imundície daquelas não era classe nenhuma).

O trem apitando, mas não era o mesmo apito do dia da despedida de Parente. D modo algum nem de longe parecia com despedida de quem parte para outras terras. Parente um dia podia voltar. Ele, nunca! Era assim como se uma despedida eterna, - deste para o outro mundo. Ainda mais que o sino da viatura badalando. Como se fosse dobres de finado. Também lhe recordando os alarmes nos incêndios.

Seria que os demais planetas fossem também habitados?! Seriam tão desumanos quando aos da Terra seus habitantes? Haveria algum fundamento nas deduções de Flamarions e outros astrônomos? As fogueiras de Marte... Astronomia... Mecânica celeste...

Que saudade do colégio! Que vida aquela sua! Genoveva, Zefinha, Ceiça, os meninos... Maria Preá, 
dr. Leovigildo, a mulher dele... professor Cagliostro, Teresa Caga-no-caneco, Zefa Traíra, Chica Pote, Maria Sapatão...

Assim num momento, toda sua vida passando em seus sentidos como se uma gravação.

Pôs a cabeça a uma janela. Tudo escuro ainda. Mas sentia como se os vagões se retorcendo como um monstro pré-histórico nas curvas dos trilhos.

Que saudade dos tempos de estudante!

Seriam habitados os outros planetas? Na certa!

Noite ainda. Perto da ponte metálica do Parnaíba velho, pelejava mas não podia ouvir a cantoria dos sapos. Naturalmente que eles ainda estavam cantando, que o dia não havia ainda amanhecido. Mas o diabo do ruído do trem não deixava ninguém ouvir outra coisa. Mas sentia, perfeitamente, que àquela hora, com tudo ainda em plena escuridão, os sapos ainda estavam cantando. Cantando de fome. Fome de luz, que o dia não havia amanhecido. A luz ainda não havia chegado. E mesmo sem ouvir, mas apenas sentindo que os sapos ainda estavam cantando, a recordação dos filhos veio-lhe mais aguda do que tudo que até então sentia. É que cantiga de sapo parece com choro, especialmente com choro de menino que chora de fome. Decerto que àquela horas seus filhos estavam chorando. Ceiça também. Também eram sapos. Eles sapos pequenos, ela sapa velha. Sapos que choravam de fome. De fome, porque não havia ainda luz na terra. E também com pena do sapo velho dono da casa que partia. E este era que estava com fome de verdade. Fome de barriga. Fome de justiça. E a zoada do trem dizia direitinho:

— Tô com fome! Tô com fome! Tô com fome!



em Palha de Arroz (trechos),
Teresina: Oficina da Palavra, 2004, 4ª edição
Fotografia via blogue ÁgoraDaTaba

6.4.14

"o amor se instalou", Renata Flávia


o amor se instalou
embaixo da ponte metálica
fugiu de todas as cores holofotes e estradas
disse ser contra o mirante, o elevador e a escada
preferiu ficar no velho esquecido
do que ter o peito partido
em bamba estaiada.


Renata Flávia
enviado pela autora

22.10.13

AVIÃO




- Paizinho, me conta uma história.

- Era uma vez um doido muito bacana chamado Avião.

- Avião por quê?

- Ele vivia imitando barulho de avião. Assim: ãoãoão. E, com o braço, fazia acrobáticas piruetas, como se fosse um de verdade.

- Que legal! Que mais ele fazia?

- Ah, gostava de distribuir brinquedos para as crianças.

- Um Papai-Noel?

- Sim, o mais bondoso e simpático que já existiu.

- Você ganhou presentes dele?

- Muitos. Ele andava com um jacá cheio de brinquedo. Quando apontava na esquina da Lindolfo Monteiro, desembestávamos alegres para abraçá-lo. Recebia-nos sempre com um sorriso enorme no rosto. Era o mais feliz de nós todos.

- O que ele dava pra você?

- Bola, revólver, pião, carro, peteca...

- E as meninas não ganhavam nada?

- Claro, elas recebiam boneca, pulseira, casinhas para montar...

- Como ele conseguia todos esses brinquedos?

- Comerciantes do Mercado Velho e redondezas davam para ele.

- Por quê?

- Gostavam dele. Também se não dessem, ele pegava assim mesmo.

- Ele seria capaz disso?

- Claro, o Avião era capaz de tudo para ver uma criança feliz.

- Conta mais sobre ele, paizinho.

- Ele vivia pulando o rio Parnaíba da ponte metálica.

- Não acredito!

- Era sim. Ele dizia ser o Tarzan. Botava uma faca na boca e jogava uma boneca no rio. em seguida, batendo nos peitos e dando aqueles gritos, saltava para salvá-la.

- Que corajoso! Ele não tinha medo de morrer afogado?

- Não, salvar a jovem em apuros era o mais importante.

- Você não falou que era uma boneca?

- Falei sim. Mas para ele, que se achava Tarzan, ela era uma garota que precisava de ajuda. Afinal, para que servem os heróis?

- É mesmo! Agora sei por que você fala tanto nele.

- Ele era meu herói preferido.

- Mas por que você está chorando, paizinho?

- Porque ele traz de volta toda minha infância. Ele era para nós, garotos da Clodoaldo Freitas, uma pessoa muito especial.

- Não é melhor, paizinho, você dormir comigo esta noite?



Wellington Soares
em Por um triz
Teresina: Fundação Quixote, 2007

18.3.20

Inauguração do Metrô de Teresina, Renée Moura


Hoje pela manhã fui à inauguração do Metrô de Teresina, na estação do Shopping da Cidade. Afinal, não é todo dia que se inaugura alguma coisa aqui, em especial algo que vá trazer algum benefício ao "povão". O metrô "novo" passou quando eu estava a caminho da estação, mais ou menos na altura da ponte Metálica. Lá na frente vinham os senhores imperadores de Teresina e do Piauí. Achei "zuada" do "novo" metrô bem menos incômoda.

Caminhei mais um pouquinho, até chegar à estação, sempre atenta ao olhar de curiosidade das pessoas. O comentário do dia era a inauguração. Cheguei na estação mais ou menos umas 9 e alguma coisa. Lotada. Tinha gente representante de todas as espécies que se imagina: políticos, trombadinhas, jornalistas, civis atacando de jornalistas, estrangeiros, o pessoal da época do Alberto Silva... Ah sim, o pessoal da época do Alberto Silva... Que bonitinhos! Estavam todos bem arrumadinhos, demasiadamente felizes por conta da ocasião. Até eu fiquei feliz em ver.

Tava rolando aquele besteirol de políticos e também uma homenagem ao idealizador da obra, o lendário Alberto Silva. Mas acho que faltou uma homenagem ao pessoal que trabalhou na obra durante esses sete anos, debaixo dessa lua maravilhosa que ilumina esse pedaço de chão chamado Teresina.

Enfim, fui lá dar uma sacada no meio de transporte. É um metrô recauchutado, com alguns detalhes feitos em péssima qualidade - como por exemplo o silicone do isolamento das janelas, que dizem ser blindadas. As portas já estavam quebradas porque sempre tem um pessoal que é naturalmente inquieto com o próprio benefício. Algumas das lâmpadas estavam sem o plástico de isolamento lateral, expondo alguns fios. Mas o "novo" metrô é infinitas vezes melhor que o rudimentar que rodava por esses tempos.

O pessoal todo já sentadinho nas cadeirinhas "novas", pintadinhas de azul (em especial o pessoal bonitinho o qual me referi anteriormente). Eu fiz o mesmo e descobri o porque: o ar-condicionado é ótimo! Essa etapa, ao menos, deu certo.

Um dos vagões centrais estava fechado, ainda estava em "reforma" (sem os acentos, lâmpadas, câmeras...nem o chão tinha sido limpo. Ah sim, câmeras de segurança vigiam cada vagão. Espero que sirva pra alguma coisa, porque as pessoas aqui tem essa mania de querer destruir as coisas - é um povo sem costume, como diz minha avó.

A estação em si tem uma boa estrutura. Escadas rolantes, muito espaço. Mas senti falta de informações e outras coisas úteis. Por exemplo, um lixeiro. Debaixo das toneladas de ferro da estação não havia um cestinho sequer. O metrô também não contava com nenhum tipo de orifício destinado aos despejos variados de seus passageiros.

Além disso, senti falta dos avisos de proibido fumar, dos sinais de reserva de acentos para idosos, gestantes, deficientes, ect. Não havia um mapa ou qualquer tipo de informação sobre o trajeto, os horários e os telefones para contato. E o mais importante: não haviam instrumentos que facilitassem a fuga em caso de acidente, não existiam extintores de incêndio, enfim, nenhum aspecto básico de segurança.

"Andei" no metrô novo até a estação Central, onde voltamos à realidade local: longas esperas e, claro, nenhuma informação.

Mas, esperamos agora que a inauguração traga alguma noção de cidadania pra´s pessoas. Vamos ver quanto tempo dura o não lançamento da primeira pedra!


Renée Moura
Via reneemoura.blogspot.com
Em 19 de março de 2010

15.10.18

Palha de Arroz, Capítulo XXXIX, Fontes Ibiapina


XXXIX

Sobre a ponte metálica do Parnaíba Velho. Os dois guardas ali de lado. Iam com ele até a estação de Timon.

— (Timon... origem grega. Genitivo plural – plural – das honras. Honras de quê?! De quem?!... Diabo, pra que estudei?!...)

Aí pau de Fumo sentiu que se era de um sapo viver chorando de fome ouvindo a sapa velha e seus sapinhos chorando de fome a vida toda, melhor morrer. E o melhor lugar era aquele. Também a hora era oportuna, que o dia não havia ainda amanhecido. Ali nas águas, ele se transformaria num sapo de verdade. E ficaria chorando com os sapos de verdade, esperando um Natal cheio de luzes, para todos os sapos do mundo cantarem de barriga cheia.

Fechou os olhos. Fez de conta que ali era o Poço da Usina. E fez de conta que os dois guardas que estavam ali a seu lado – armados até os dentes – perseguiam-no numa carreira maluca e desatinada. Aterrou os pés e correu. E, da prancha entre os dois vagões, gritou:

— Filhos duma puta!


em Palha de Arroz, 
Teresina: Oficina da Palavra, 2004, 4ª edição

27.12.18

"impressão ela tá sempre com a gente", por Rodrigo M Leite




depois da descida com as casas de palha armaram um circo quando apareceu aquela neblina na quebrada lembrei de escrever ainda tenho amigos que constroem casas em árvores

e são instigados, apesar

a gente rodou tanto amanheceu num posto aquele som fudido desconhecido comentando que entre o natal e a virada de ano menos idiotas na cidade porque menos gente na cidade

agora antes disso acontece coisa bicho escapar de cada convite atravessar intacto o lagosta sacou esse movimento uma vez a anna raquel chegou falando que o lance agora era ideia limpeza total ficamos uns minutos imersos nessa atravessando a ponte metálica de madrugada indo pra timon

criaturas de tocaia tem tanto fantasma ali

mas voltando o lagosta tava numa de making off nessa noite a galera depois de cantar fragmentos de metrópole lembrou do júpiter maçã aquele menino perdido faz um tempo que não encontro o lagosta mas a impressão ela tá sempre com a gente



(Rodrigo M Leite / inédito em livro)

29.9.11

TERESINA, V. de Araújo


Teresina:
contornos sensuais, anatômicas formas;
árvores que balouçam, máquinas que trafegam;
firmamento verde, cáustica chapada;
teu anoitecer é como um tapete d'ouro,
linhas energéticas, relâmpago tece...
festival etéreo, canto de pardais.

Teresina:
posto avançado, indômita sentinela;
silo d'esperança, invencível guerreira;
artérias multicores, luminárias vivas;
teus edifícios erguidos, projetos ao vento,
são como velas, ao desafio do tempo,
de velozes jangadas... navegando céus.

Teresina:
(Metálica Ponte, Poti, Parnaíba...);
celeiro de bardos, sinfônica orquestra;
fagueiros meneios, viçosa menina;
teus olhos verdes, no irromper d'aurora,
são como casais que, unidos, oram...
sinos retumbantes, catedrais de fé.


V. de Araújo
Poemágico, a nova alquimia
Teresina: Projeto Petrônio Portela, 1985