AVIÃO
- Paizinho, me conta uma história.
- Era uma vez um doido muito bacana chamado Avião.
- Avião por quê?
- Ele vivia imitando barulho de avião. Assim: ãoãoão. E, com o braço, fazia acrobáticas piruetas, como se fosse um de verdade.
- Que legal! Que mais ele fazia?
- Ah, gostava de distribuir brinquedos para as crianças.
- Um Papai-Noel?
- Sim, o mais bondoso e simpático que já existiu.
- Você ganhou presentes dele?
- Muitos. Ele andava com um jacá cheio de brinquedo. Quando apontava na esquina da Lindolfo Monteiro, desembestávamos alegres para abraçá-lo. Recebia-nos sempre com um sorriso enorme no rosto. Era o mais feliz de nós todos.
- O que ele dava pra você?
- Bola, revólver, pião, carro, peteca...
- E as meninas não ganhavam nada?
- Claro, elas recebiam boneca, pulseira, casinhas para montar...
- Como ele conseguia todos esses brinquedos?
- Comerciantes do Mercado Velho e redondezas davam para ele.
- Por quê?
- Gostavam dele. Também se não dessem, ele pegava assim mesmo.
- Ele seria capaz disso?
- Claro, o Avião era capaz de tudo para ver uma criança feliz.
- Conta mais sobre ele, paizinho.
- Ele vivia pulando o rio Parnaíba da ponte metálica.
- Não acredito!
- Era sim. Ele dizia ser o Tarzan. Botava uma faca na boca e jogava uma boneca no rio. em seguida, batendo nos peitos e dando aqueles gritos, saltava para salvá-la.
- Que corajoso! Ele não tinha medo de morrer afogado?
- Não, salvar a jovem em apuros era o mais importante.
- Você não falou que era uma boneca?
- Falei sim. Mas para ele, que se achava Tarzan, ela era uma garota que precisava de ajuda. Afinal, para que servem os heróis?
- É mesmo! Agora sei por que você fala tanto nele.
- Ele era meu herói preferido.
- Mas por que você está chorando, paizinho?
- Porque ele traz de volta toda minha infância. Ele era para nós, garotos da Clodoaldo Freitas, uma pessoa muito especial.
em Por um triz
Teresina: Fundação Quixote, 2007
Comentários
Postar um comentário
Obrigado por comentar!