Mostrando postagens com marcador literatura brasileira. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador literatura brasileira. Mostrar todas as postagens
15.10.18
Dobalina, por Elias Paz e Silva
lembrança de curral
na tarde oval
feixe de palavras
sobre o verão de arder
ao sol seca o tempo
chove o silêncio
na cidade infante
Elias Paz e Silva
A POESIA PIAUIENSE NO SÉCULO XX | Antologia
Organização, introdução e notas por Assis Brasil
Teresina / Rio de Janeiro: FCMC / Imago, 1995
31.3.16
ESTUDO DO RIO, por Rubervam Du Nascimento
Saiu outra palavra
pra completar a lei
sobre a navegação
pelo rio seco
que exige do porto
a segurança dos produtos
transportados
ou chegados
nunca permanecidos
uma outra palavra
sobre a quantidade do produto
o peso
sobre a explicação dos problemas
de divisas
da força
da moeda
da destinação
em circuito fechado
a lei quase que ninguém conhece
mas existe
quando os navegantes
também são transportados
a palavra não faz menção alguma
ao corpo
nem à cabeça
Rubervam Du Nascimento
em O RIO - Antologia Poética
Edições Corisco, 1980
18.2.16
BALADA DOS MORTOS NA PAREDE ETC., por Menezes y Morais
teus mortos
estão nas paredes
nos álbuns
memórias
dramas
te espiamudos
denunciam calados
o crime q comeste
teus mortos
não perdoaram
eles vivem
todo dia
quando reparas
nos álbuns
paredes
memórias
dramas
é inútil tentar/remover os mortos/
dessas paragens
eles estão em ti
te acompanham
procriam na sala
quarto lembranças
convive com os mortos
é mais seguro do q conviver com os
vivos
a vida é túmulo em via
Menezes y Morais
em DIÁRIO DA TERRA (1984)
23.1.16
DEFINIÇÃO, por Torquato Neto
Teresina:
ausência
de uma presença...
presença
da mesma ausência
só memória na memória
sempre viva.
só saudade... só distância
só vontade.
...e um ardor medonho no peito.
(Rio, 23/08/62)
18.1.16
TRIBUTO A TORQUATO NETO
hoje que você se foi
e ninguém pode negar
o que está feito,
as palavras guardadas no peito
são flores navalhas
no chão do real
e um poeta conhece
o tamanho da fúria
capaz de gerar um furor
que as palavras são flor e punhal.
hoje que você se foi
e o tempo de chorar
também já foi-se embora
no verde final da nossa flora,
as palavras são flores de fogo.
e um poeta conhece o tamanho do verso
capaz de abolir o acaso,
que as palavras são lances de dardos.
hoje que você se foi
os bois que berravam na chapada
viraram sócios do açougue.
as mídias e os midas de sempre
silen$ifraram a nossa dor.
e neste cenário de real pavor,
como num lance de touradas,
o troféu é entregue ao matador.
Salgado Maranhão
em Punhos da Serpente
Achiamé: Rio de Janeiro, 1989
SOL DE MINHA TERRA
Trago n'alma o sol de minha terra
a luz maior, claridade em mim
no som do Parnaíba que se encerra
o trilhar de um caminhar sem fim
carrego, imune, a força mais pura
a saudade do amor eternal
traçada nas glórias da loucura
do meu sonho alegre e jovial
trago, enfim, a lembrança das ruas
os quintais da infância e as luas
que no Poti vivem em transe
e sufoco as tormentas cruas
que fizeram as dores nuas
da dor de ti que me confrange.
Afonso Lima
Palmas/TO, julho de 2009
em A CIDADE EM CHAMAS: poema trágico de um crime impune
Teresina: Multiservice, 2010
Marcadores
afonso lima,
literatura brasileira,
literatura brasileira contemporânea,
literatura piauiense,
poema,
rio parnaíba,
rio poti,
sol
17.1.16
PESCADOR DE MITO, Wellington Soares
O pescador já pensava em desistir, pois não fisgara nada até ali, depois de horas brincando com a paciência, quando sentiu a vara envergar de repente, sob um peso insuportável, mergulhando a cara no fundo do rio.
Como os anos de pescaria falam mais alto, resolveu cansá-lo primeiro para, em seguida, tirá-lo fora. Só aí deparou-se, para espanto dele, não com um peixe grande, como era o mais provável, mas com a figura disforme do Cabeça de Cuia, mito de sua terra natal, apresentado geralmente como temor dos filhos malcriados.
Sob protestos da mulher, que alegava tratar-se de uma lenda e não de um peixe, mandou prepará-lo no capricho, com leite de coco e muito tempero, degustando-o com enorme apetite.
Ao final, apresentou-se no museu da cidade como o homem que tinha comido o Cabeça de Cuia. Hoje as pessoas que visitam o museu observam, com certa estranheza, aquele homem rude, de sorriso aberto e inscrição no peito, e não entendem o motivo de sua alegria.
em LINGUAGEM DOS SENTIDOS
Teresina: 1991
12.1.16
A CIDADE PERDIDA, Álvaro Pacheco
Sobrevivem alguns terraços
mas não as madrugadas
e nem as melodias dos boleros.
Conversam os fantasmas
com medo de lembrarem
os instrumentos do edifício
da vida que veio depois.
Os pórticos
à luz do dia e os terraços
ao entardecer informam:
mudaram-se
Álvaro Pacheco
Teresina, agosto de 1986
em O SONHO DOS CAVALOS SELVAGENS (1967)
13.12.15
A CIDADE MORTA
IX
Um dia escavarão esta cidade
nas sobras do futuro
mas não encontrarão o sorriso da garota da praia
nem o instante de felicidade que tiveram um homem e uma
[mulher numa noite de intenso verão.
Acharão talvez um slide colorido da paisagem
mas que não dará ideia do que foi a cidade
nem o seu povo
microfilmado dia a dia
em congestões de tráfego, abusos de poder e falta de amor.
É difícil que encontrem um documento válido
da incompreensão que gerou
tantas incompreensões
mas encontrarão pedras fundamentais e pedras finais
e talvez vestígios de uma catástrofe de concreto
mas
— e as catástrofes íntimas
e o que cada um em si morreu no cada dia,
o que restará?
E o que encontrarão do esforço de eternidade
que (cada um) fizemos para não morrer?
E de nossa linguagem, quem terá os cantos?
E dos nossos destinos, quem reconstituirá os sonhos?
E de nossa angústia, quem verá os traços?
E de nossa solidão, qual será a ruína?
Passarão pelos escavadores apenas fantasmas inapreensíveis
e a memória repousará incógnita
sob árvores de pedra
e estilhaços de metal.
dez. 66
Álvaro Pacheco
em O SONHO DOS CAVALOS SELVAGENS (1967)
Marcadores
álvaro pacheco,
literatura,
literatura brasileira,
literatura brasileira contemporânea,
literatura piauiense,
poema,
poesia
11.12.15
"As árvores da Rua Álvaro Mendes"
As árvores da Rua Álvaro Mendes
não existem para o aprendizado dos hábitos
Na calçada quebrada em que caminho
seus troncos engrossam, alheios às pessoas
Há profundas rachaduras nas cascas dos caules
Olhando aqui, ou tocando nelas, é possível
conhecer suas rugas – as ruas do tempo vivido
O sol não tem ouvidos para reclamações.
Essa parte da cidade de brasa e sombra
melhora o pensamento em modificação:
aquele encanto claro de palavra nova
transmitindo mais surpresas que entendimentos
Passei a ter resistência aos poluentes urbanos
poema enviado pelo autor
Marcadores
calçadas,
literatura brasileira,
literatura brasileira contemporânea,
literatura piauiense,
poema,
rua álvaro mendes,
sol,
thiago e
3.12.15
"Deburraram"
Deburraram
nossa casa de barro
Lot(e)aram
nossa cada de carro
Un s carro
Kilito Trindade
em HOT... ...ATIVO
Teresina, 2015
24.11.15
O RIO PARNAÍBA
Gargarejo de mortes de afogados
e brilho de luar sobre o silêncio
ruídos sem barulho de asas brancas
invisíveis na esteira do mistério.
Embarcações fantasmas com seus remos
violentando o espelho da corrente
e a história dos antigos moradores
que perlustraram a estrada do degredo.
Nas margens as perguntas os inquéritos
o tiro a interjeição e a morte cinza:
gargalhada de álcool nas bodegas.
A indiferença escorre como gosma
e o rio na derrota da incerteza
leva faunas estranhas no seu ventre.
Clóvis Moura
em "Argila da Memória" (1962)
Marcadores
bodega,
clóvis moura,
literatura brasileira,
literatura brasileira contemporânea,
literatura piauiense,
poema,
poesia,
rio parnaíba,
teresina
A CHAPADA DO CORISCO E SEUS ACLIVES
I
Teres Ina - Teresina florave
aveflor momento e movimento
enigma dos frutos e da terra
- finito instante infinito
Vens de longe moiçola grave
a começar de um tempo antigo
(Portugal nobreza brazões)
mas não tenhas sangue azul
II
Vê agora quando o sono
quando à tarde quando à noite
quando à madrugada à manhã
se eleva às ervas sangue de antanho
Vede o campo verde e sua porta
ah! quanto de luz há em ti
como tens e cresces só em sol
e brilhas no sal do teu banho
Assim, descalça e menina,
percorrer teu ventre e o colo
é-me a hóstia teu mistério
e meu sonho teu ar estranho
III
Teresina, dorme sutil menina.
Frágil/forte moiçola dorme.
Veste de vento teus ares,
esfria-te-me nesta noite enorme.
Estica-te-me os pelos soturnos
pomares e luzes disformes.
Teresina solene de amores,
imensa tranquila e sombria.
Evocas menina/moiçola
retretas bailes romarias,
jardins e bosques e flores.
Teresina - solene colores.
em SÁBADO ÁRIDO
Teresina: 1985
Marcadores
1980,
chapada do corisco,
jamerson lemos,
literatura brasileira,
literatura piauiense,
poesia,
poesia teresinense
22.11.15
(sem título)
I.
Hoje é dramático e não encontro terapia nos pombos
A praça - esse mosaico - é ainda mais densa
Tudo é movimento nessa praça lenta
Eu sou peça solitária e torta
Destacada do cenário
Permaneço
À espera de um milagre:
Virar paisagem.
II.
Converso com os carros no centro confuso da cidade
Estou mais dentro das coisas do que de mim
O barulho do tráfego morde minha orelha
As luzes dos postes falam do meu escuro
O asfalto é meu amigo, talvez o único
As gentes que passam não sei se sentem
Meu cheiro forte de centro antigo
Ariane Pirajá
Inédito em livro
Enviado pela autora
Marcadores
arianne pirajá,
literatura brasileira,
literatura brasileira contemporânea,
literatura piauiense,
poema,
poesia,
teresina
14.4.14
chuva® em teresina [ modo de usar ] ou [ o produto pra tomar ]
pesquisas confirmam que chuva® se apresenta na forma de pequenos caroços d’água que demoram que só... pra cair por aqui (ou virar um toró). haveria múltiplas aplicações para chuva® – porém existe o problema d’ela quase nunca aparecer, não podendo, assim, ser aplicada. sob esse céu-sol que sua nossa cidade, chuva® é um raro chiado, mas, quando chuvisca, bochicha e remexe a linguagem: pau d’água, pancada, ou procela varada, só com muita reza braba. seu joaquim, raimundim e seu vizim pedem um pouco de chuva® – acuda! mas veio foi um sereno e piorou o momento (repara o veneno): farelo d’água com sol de rachar faz é abafar; esquenta tudo e, mais ainda, a moleira que azucrina. estudos recentes atestam que chuva® é um cochicho – chiado baixinho, na boca do povo, talvez um boato que some de novo, um conceito empenado, bololô esculhambado, relaboque de desejos inventados: quem quer que chova está dentro de casa e não lavou roupa; quem não quer chuva® tem alguma mordomia ou resolve algo na rua. e, dependendo do que a pessoa está fazendo, ela muda o pensamento. neste entretanto de labacé e confusão, não há contraindicação: alguns fazem mandinga; outros passam os queixo, em teresina, dirdobrando – se não tem chuva® ou mar, vamos prum bar. ou vamos pra uma rede – uma rede social – de armador virtual brutal e total: no facebook compartilha-se a vontade por chuva®, até ciberprometendo pagar uma promessa, contudo, pós-moderna porque, o santo, depois a gente acerta; ou toda teresina trova no twitter toneladas da hashtag #chuvathe – entrando para o trending topics da tiração de "onda". e quem faz roça clama chuva® pra tentar matar a saudade da fartura. diz-se, apenas por aqui, na capital do piauí, chuva® tem o princípio ativo mais charmoso disponível – o de antever o incrível, o sublime intransferível – olhar pro céu, esperançoso, e o poema de um verso só dizer: tá bonito pra chover.
Thiago E
Thiago E
em Revista Piauí Terra Querida
Agosto de 2012
9.12.11
2 DE NOVEMBRO, Caio Negreiros
2 de novembro
no centro da cidade
a solidão
Caio Negreiros
em Livreto do XVI Sarau Lítero-Musical Ágora
Teresina, 2009
Assinar:
Postagens (Atom)