25.10.12
Nathan Sousa - síntese biográfica
20.10.12
TRESIDELAS, Durvalino Filho
19.9.12
RODRIGO M. LEITE E A MUSA ESQUECIDA, por Elmar Carvalho
Tempos atrás, através de e-mail, mantive contato com o poeta Rodrigo M. Leite. Chamou-me a atenção o fato de que ele selecionou os meus poemas, publicados no A Musa Esquecida, da coletânea Poemágico – a nova alquimia. Por essa razão, mandei-lhe alguns de meus livros, cujo recebimento ele acusou. Elogiei os poemas que dele conhecia. Pediu-me escrevesse algo a respeito, pois pretendia publicá-los. Por causa de alguns contratempos, sobretudo relacionados com o assoberbamento de serviços em minha Comarca, mas também por causa de alguns compromissos de ordem pessoal, demorei a cumprir o prometido. Tento fazê-lo aqui e agora.
Tomei conhecimento da existência e do trabalho do poeta por intermédio de seu importante blog A Musa Esquecida, para o qual chamo a atenção de meus poucos e seletos leitores. Nesse espaço literário virtual, Rodrigo vem estampando belos poemas de autores piauienses, quase todos imersos em injusto esquecimento – daí o nome do sítio internético. Apesar do título – A Musa Esquecida – o blog não é nada esquecido, e tem retirado do olvido poetas valorosos. Desejo apenas que essa Musa continue a se lembrar dos poetas esquecidos.
Pedi, por bilhete virtual, que o poeta me mandasse sua síntese biográfica. Ele, demonstrando ser uma pessoa desprovida de empáfia e empavonamento, me mandou uma verdadeira “mini-síntese”, se é que se pode usar a expressão, de apenas duas linhas. Foi então que fiquei sabendo a sua idade. Tem ele apenas vinte e pouquíssimos anos. Nessa idade, eu praticamente não tinha biografia, exceto a que todos temos, mas tinha o coração cheio de sonhos e a alma repleta de ilusões. Pude realizar alguns de meus sonhos; de outros, me despojei, e alguns, perdi pelo caminho de minha vida. Algumas ilusões apegaram-se a mim, e ainda, teimosamente, me acompanham; outras, feneceram; aqueloutras, morreram, por mais que eu as aguasse.
Espero que o poeta tenha um grande baú cheio de sonhos, e que todos se realizem. Na sua idade, é proibido não sonhar. Tenho observado que alguns jovens literatos, para se sobressaírem ou para chamarem a atenção, gostam de aplicar bordoadas nos mais velhos. Não foi o método que escolhi. Não foi o caminho escolhido por Rodrigo M. Leite. Ao contrário, seu notável blog tem distinguido poetas bem mais velhos que ele. Isso parece demonstrar que é ele infenso à inveja e à provocação de escândalos e tumultos literários, que invariavelmente levam de nada a coisa nenhuma, posto que o eventual brilho não passa de efêmero fogo fátuo.
Sem dificuldade percebi que os seus poemas, embora inseridos no que existe de mais atual, não se perdem em vãs vanguardas, em superados formalismos. Também não enveredam em pretensiosos hermetismos, com que muitos pretendem adquirir a glórias de poeta sábio, filósofo, profundo, ou sibilino, quando muitas vezes não passam de mistificadores, inflados de presunção e bazófia. Igualmente não desejou seguir a trilha dos chamados poemas visuais, que nunca foram novidade, uma vez que em épocas remotas já se urdia o carmen figuratum, e já, faz várias décadas, que se comete o poema concretista.
Fiquei sabendo que ele só publicou até hoje uma plaqueta com seus versos. Isso denota que não é preocupado com quantidade, mas com qualidade. Pude sentir que seus poemas, embora sejam produtos da contemporaneidade, são impregnados das eternas lições da lírica de todas as épocas, da tradição que se mantém viva, porque amálgama da própria vida, porquanto embebida dos sentimentos que sempre existiram em todos os homens, a despeito de épocas, “ismos” e rincões.
Os seus versos cantam a vida, com seus encantos e vicissitudes. Suas metáforas são assimiláveis, e harmônicas ao conteúdo a que se referem. Por outro lado, não contêm imagens gastas, repisadas, inócuas, como comprimidos que já perderam o efeito. São límpidas e vívidas, e revestidas de novas substâncias, mesmo quando se reportam aos eternos temas da lírica de ontem e de sempre. Como Drummond, Rodrigo canta o tempo presente, as coisas e os homens presentes; mas como bom poeta, trata também de todos os tempos, até do des-tempo de um tempo sem tempo, “de um tempo sem medida, fugitivo / de ampulhetas e relógios”, como assinalei no meu Noturno de Oeiras.
Elmar Carvalho
Publicado originalmente no Blogue do Autor
BEIRA RIO BEIRA VIDA, Marcos Freitas
beira de rio
açucenas
Casa Marc Jacob
Armazém Paraíba
lavadeiras
fogão e geladeira
troca-troca cais
beira de rio
pescador na CEPISA
manguezal no São Pedro
balsas em travessia
lavadores em agonia
beira rio
quase morto
assoreado
noite e dia
Marcos Freitas
em Urdidura de sonhos e assombros
Poemas escolhidos (2003 – 2007)
Rio de Janeiro: CBJE, 2010
18.9.12
PRIMEIRA FOTOGRAFIA VIVER TERESINA
Tentar compreender este sinal esquecido na vastidão do país.
Povoam-lhe um mundo próprio e professo calor humano.
A uniformidade da cidade, as ruas pequenas,
casas tímidas; seus quarenta graus mostram tenacidade
dessa gente em mudar seu destino.
A natureza proclama as águas do cenozóico rio,
ela pede respeito ao Velho Monge.
Mas, como esquecer a classe medianamente comprometida
com oligárquicas posições?
Cidade que é outro lado também aponta, a vida fácil
e colunável e superfídia,
percebida no volume que auferem algumas rendas
e a massa submersa em carências.
Invadem em rios subterrâneos, luzes que são espírito e ponte,
os artistas da cidade - contemporâneos do mundo:
os pés na história local
e o rosto voltado para o universal.
O povo recolhe sua presença nos fins de semana e
finge não ver suas raízes fincadas ao chão.
Não é possível compreender-lhe a razão: elegem
seus candidatos como quem aguarda redentor.
Teresina, Verde Cidade menina,
teu solo é paixão, dor e terno afeto.
Caminha. A felicidade se esconde aqui,
mas só se mostra quando estamos no exílio.
20.4.12
SEMELHANÇA
O rio é como a gente,
se vai o tempo inteiro.
Sempre está ali:
à margem de nós,
passando.
Laerte Magalhães
15.4.12
TRISTEESINA
Marcos Freitas
em Urdidura de sonhos e assombros
Poemas escolhidos (2003 – 2007)
Rio de Janeiro: CBJE, 2010
10.4.12
VISTA DE TIMON, por Francisco Miguel de Moura
Onde o teu verde olhar, mulher?
No corpo não, nos olhos não.
Quanto asfalto, lixo, TV, esgoto, favela.
Prédios do INPS (agora INAMPS), do Hotel (Luxor)
Piauí e da Associação Comer-cia(I), entre
- mangueiras que não dão mangas -
perdido a gente se vê.
Do lado de cá te olhando
Como se admira um postal
bem nos olhos esta canção
senti.
Canção menor, de amor de mais
de quinze anos e um filho,
e dos dias já vencidos.
Volto a fita dos meus sonhos,
Ponho-me no âmago Poti/Parnaíba,
bem onde as águas se irmanam escuras
e os desejos se perdem,
e me declaro réu:
- Narciso em teus espelhos.
Francisco Miguel de Moura
em 145 anos: Teresina cidade futuro
Teresina: FCMC, 1997
19.3.12
TERESINA, Laerte Magalhães
A cidade é pequenina,
mas o sonho é imenso,
feito o rio mais extenso,
que nos banha e nos fascina.
Ao dobrar de cada esquina,
sob o céu que nos socorre,
cada rua que nos percorre
para o bairro a que se destina.
Barcos que, sob pontes,
conduzem também destinos,
homens, iguais a meninos,
são afluentes e fontes.
Nas veias correm também
veios de luz, raios vivos,
os rios passando altivos
são rios de querer bem.
No bulício da quermesse,
o calor que desatina,
o coração de Teresina
é o sol que nos aquece.
Laerte Magalhães
17.3.12
O PARNAÍBA, Martins Vieira
Vem de longe, tangendo alvacentas espumas
Ao sabor da corrente, eriçando cachoeiras;
Aqui, se aperta; ali, se espraia, enquanto as plumas
De leques vegetais baloiçam nas palmeiras.
Leva a flor que tranquila adormece entre as brumas
E se deixa impelir como as balsas fagueiras,
Onde geme o violão do embarcadiço, e algumas
Das cordas vão ferir as cordas verdadeiras...
- Ó rio lá de casa, ó Pai velho das crianças,
Águas que vão molhar, o solo e as belas tranças
Da noiva que se banha em ti, ao vento e à luz,
Ó rio benfazejo, aplacarás a sede
Do mar, deixando aqui o pão em cada rede
E a nós, pelo batismo, o nome de Jesus.
Martins Vieira
em Canto da Terra Mártire (1977)
apud A POESIA PIAUIENSE NO SÉCULO XX | Antologia
Organização, introdução e notas por Assis Brasil
Teresina / Rio de Janeiro: FCMC / Imago, 1995
16.3.12
O SONHO POSSÍVEL, Hardi Filho
Mil novecentos e oitenta e oito
Pra seu final o século caminha.
Mais um milênio! A festa se avizinha,
E é tema deste soneto afoito.
O tempo é de inflação (sobre o biscoito,
o pão, a carne, a banana, a farinha...)
Mas é também de avanço (antes não tinha
Moça donzela pronta para o coito).
A vida está um caos, um pardieiro
onde se faz de “tudo por dinheiro”
e a honra é um mar que quase já secou.
Em Teresina – Piauí – Brasil,
11.3.12
IGREJAS E AVENIDAS
Das Dores guardo pra sempre
São Benedito dentro de mim
Nossa Senhora seja Amparo
Que eu serei Frei Serafim
7.3.12
O RIO
O rio não é mais
um veio de esperança
nem o livre caminho
que nos conduz ao mar.
O rio é um fio de sujeira
- cemitério aberto –
que na tarde se funde
com as cloacas da cidade.
V. de Araújo
em POESIA TERESINENSE HOJE
Teresina: FCMC, 1988
6.3.12
O BAR DO PICOLÉ
5.3.12
O CASO DO BUROCRATA MR-7 E SUA AMANTE LEE DIAMOND, Chico Castro
"Sou chefe de pessoal de uma
grande empresa,
dessas que têm autorização especial
dos órgãos estatais
para a exploração da flora da fauna
piauienses.
"Possuo um apartamento
financiado pela Caixa Econômica Federal
nas melhores condições de
pagamento do mercado:
* 4 quartos
* living com varanda
* suíte com vídeo deck e bar
integrados
* sauna e sala de repouso
* salão de ginástica equipado
* quadra de esportes
* sala de estudos para crianças
* playground e jardim
* salão de recepções
* lavanderia exclusiva e vaga na
garagem".
"De segunda a sexta-feira trabalho
que nem um condenado,
enquanto minha mulher tenta
mudar de cara
na Emê Clínica e Estética
sonhando em fazer aquela
viagem ais EUA
que eu havia prometido ano
passado".
"Nos fins de semana eu me divirto.
Pego o meu carrinho comprado
numa dessas concessionárias da vida
e vou para o Nós e Elis. Lá eu
bebo, bebo, bebo, até
ficar quase de porre, os braços, as
pernas, a cabeça
aos trancos e barrancos, depois de
conversar sempre com a mesma
gente".
"No sábado à tarde, recebo e faço
algumas ligações, marco encontros,
vejo alguma revistas e jornais que
eu não pude ler no decorrer da semana,
e no domingo a minha sogra vem
almoçar aqui em casa
para o bel-prazer da minha mulher
que tem, finalmente, com quem
conversar".
"Depois do Fantástico, eu vou
dormir
pensando no meu benzinho, porque
amanhã é segunda-feira
e a vida, dizem os meus amigos, não
está para brincadeira".
Chico Castro
3.3.12
ALUCINAÇÃO
O que mais me alucina
é não saber onde plantei minha sina
se foi em minha terra ou se foi em Teresina.
Adrião Neto
28.2.12
TERESINA NA DISTÂNCIA
O rio
palhoças nos beirais
pavios de castiçais
anos cinquenta
Teresina
dos incêndios corriqueiros
- lamúrias ao vento
Vermelha Tabuleta
Palha de Arroz ou Barrinha
na faísca mortal
da fênix
Bairros pobres
do puxa-encollhe
ancas nas ruas
e a vida porre
a escorrer pelo rio
O tempo andou devagar
Depois das enchentes
gente de todo lugar
Ah! - que a primavera não tarde
para as perdizes transparentes
Hélio Soares Pereira
em Passarela de escritores (coletânea)
Teresina: Edições Jacurutu, 1997
22.2.12
VERBICIDADE
EU teresino
TU teresinas
ELE teve sina
NÓS teresinamos
VÓS tereis sinais
ELES teresinam
Durvalino Filho
em 145 anos: Teresina Cidade Futuro
21.2.12
CARNAVAL, CARNAVAL
13.2.12
CASA DE PALHA, Gregório de Moraes
Acenderam a luz da lamparina
A casa vibra tenra, iluminada
Tanta doçura, tanta, em quase nada
Espelha esta gigante Teresina!
É noite! A paz em todo lar domina
Casa de palha, velha, desbotada
Eis minha vida em versos decorada
Pobreza que tão tarde me fascina
Eu venho de outros mundos soluçando
Estas lembranças que me foi roubando
O tempo que passava loucamente!
Casa de palha: marcos de bondade
Que vão somando, vão pela cidade
Lastros de amor no coração da gente.
Gregório de Moraes
em Auroras Perdidas
Rio de Janeiro: 1970