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9.1.12
ODE ÀS COCOTINHAS
um dia desses sonhei
que de repente virei
imaginem, o latorraca.
as seis horinhas da tarde
caminhei descontraído
pelo canteiro central
da iluminada frei serafim.
vi aquela aglomeração
na altura do colégio
das nossas santas irmãs.
era um enxame gigante
da mais bela espécime
a vicejar na paróquia
elas me viram
eu lhes vi
e qual não foi o ouriço
que o trânsito daquela hora
fez parar e engarrafou.
me dá um autógrafo de cá
me dá um beijo de lá
me mete a mão por aqui
que eu sei também que é ali.
o sonho que tava lindo
foi virando pesadelo.
eu, no sufoco de terna boca um chiclete
um sorvete, um picolé,
acordei gritando
acode, mamãe.
Zeferino Alves Neto
em Revista Cirandinha
Número 1, Teresina: 1977
28.1.16
UM ESTRANHO EM TERESINA, Cunha e Silva Filho
Estive há pouco em Teresina e desta feita me achei um peixe realmente fora d’água, um estranho no ninho. Não que o desejasse, mas a culpa, leitor, é unicamente minha. Quem manda não a ter frequentado mais amiúde.
Da janela do hotel, lá fora, dava uma espiada para o que poderia ver que valesse a minha atenção ou curiosidade. Pois não é que procurei e achei. Era a visão de uma mulher, em plena tarde de um sol escaldante, caminhando, caminhando, caminhando, debaixo de uma sombrinha. Claro que não foi só aquela mulher que portava uma sombrinha para abrigar-se do sol abrasante. Não me lembro de outras vezes que andei por Teresina de reparar nesse costume local, aliás, bem justo e necessário, de usar uma sombrinha contra o rigor solar. Esse hábito me parece ser apenas feminino, já que não vira nenhum homem utilizando um guarda-sol.
Aqui no Rio de Janeiro, usar uma sombrinha ou guarda-chuva, em pleno calorão, não é comum como na “Cidade Verde”. Lá é hábito; aqui, é exceção, chega mesmo a ser constrangimento para quem dele faz uso com receio de se ver vítima de um gaiato qualquer perguntar-nos se está por acaso chovendo. O carioca sofre, mas não abre o guarda-sol. “Os cariocas somos pouco dados” aos guarda-chuvas, ou chapéu de sol ou muito menos a uma sombrinha, para nos intrometermos, sem sermos chamados, no labiríntico intertexto machadiano.
Das últimas vezes que fui a Teresina não me passava pela cabeça um persistente temor de violência. Não me queira por isso na conta dos paranoicos, dessas criaturas que, nas grandes cidades, passam a ter medo de tudo diante da disparada da violência dos últimos anos.
Confesso-lhe, leitor, porém, que, em Teresina, só andei mais em carro particular que, no meu caso, era do meu amigo, o ensaísta M. Paulo Nunes, de sorte que não me expus à sanha de algum pivete ou assaltante.
Num final de manhã, notei que, no hotel, não dispunha de papel para escrever, nem de caneta; a que trouxera comigo na viagem se perdeu não sei onde. Lá fui às ruas de Teresina. Algumas delas eu conhecia de priscas eras. Com o tempo, a gente perde um certo traquejo de andar por ruas de nossa cidade. Entretanto, o “eu” do presente era outro, e as ruas, à altura em que as podia identificar, não ficavam em trechos por mim palmilhados com assiduidade no passado.
Mesmo assim, criei coragem e, vendo o nome de uma rua e de outra, alguma, conhecida, outra, não, fui dar na bela Av. Frei Serafim, que divide dois lados de parte da cidade. Indaguei aqui, ali e, por fim, consegui encontrar uma papelaria. Comprei um caderninho escolar de poucas folhas e uma caneta azul. Lembrei-me, então, que teria que comprar um exemplar da edição daquele dia do jornal Meio-Norte. No hotel, depois do café, já havia passado uma vista no exemplar que me interessava, aquele no qual havia uma reportagem sobre mim a propósito de conferência que iria fazer na Academia Piauiense de Letras. A reportagem tinha sido feita no dia anterior por ocasião do lançamento, no Museu Odilon Nunes, de mais um número da excelente revista Presença, com apresentação de M. Paulo Nunes. Procurei o exemplar em mais de uma banca até que o encontrei. A reportagem exibindo foto minha, saíra bem escrita, mas continha um erro. A jornalista que me entrevistara omitira do meu nome literário, a palavra “Filho”. Sem querer, virei o nome de papai. Ainda bem que estava em boas mãos paternas e na mídia jornalística que ele tanto amava.
Voltando a Teresina, tópico principal desta crônica, pude observar outras coisas. Me convenci por completo de que sou um estranho na cidade. Perdi mesmo o bonde da história de Teresina.
A minha Teresina não é a de hoje. Ela ainda existe e se estende por todo o velho centro da urbe. Lá vejo, intactos, alguns pontos de referências; o Theatro 4 de Setembro, o Rex, a Praça Rio Branco (o relógio!), o prédio do Arquivo Público (ó tempos da infância!) da rua Coelho Rodrigues e que, hoje, comporta também o Conselho Estadual de Cultura, a Praça Pedro II, o Karnak, a Praça João Luis Ferreira, o antigo Prédio dos Comerciários (que, um dia, fora o mais alto edifício da cidade), a Praça do Liceu (ah, sim, Landri Sales!), o Liceu Piauiense, as igrejas de São Benedito, a minha preferida, a do Amparo, a das Dores, a Praça da Bandeira, muito modificada e maltratada, e principalmente as queridas e amorosas ruas da velha Teresina, nas quais tudo nelas me leva inexoravelmente ao passado. Ah, ia-me esquecendo, o velho rio Parnaíba, o Poti (agora com sua enchente e suas vítimas). Enfim, esse passado soterrado no tempo, me está, contudo, vivo e ora me leva à alegria, ora à melancolia.
O que não se circunscreve a essas ruas, a esses prédios, a essas arquiteturas variadas alcançadas pela minha geração não parece fazer parte da minha memória. A Teresina nova, trepidante, dos arranha-céus não me atrai. Essa Teresina verticalizada se iguala às outras metrópoles, vira mesmice. Nada tem a ver comigo em Teresina.
Relendo os belíssimos poemas de Paulo Machado “Post card/57” e “Post card/77” extraídos do livro Tá pronto, seu lobo? e “Nas ruas da minha cidade há lições? (É preciso aprendê-las)", retirado do livro A paz no pântano (1982), que se encontram na antologia A poesia piauiense no Século XX, de Assis Brasil, vejo que a poesia de Paulo Machado, de alguma forma, me conforta e não me deixa esquecer essa Teresina. Os dois primeiros poemas citados se valorizam pela riqueza semântica resultante de sua arquitetura contrapontística em termos de realidades espaciais semelhantes aliadas a realidades temporais diversas. O terceiro poema, ainda inserido na categoria do tempo fluído, reforça o tom rememorativo de viés rebelde na transposição da realidade histórico-social. Poemas de grande impacto estético que, em mim, despertam, de certa forma, por coincidência ou não do fenômeno poético, quase a mesma sensação provocada por aquela maneira de descrição pulsante, vibrátil, vigorosa, do realismo inusitado de Cesário Verde (1855-1886), como seriam exemplos os versos abaixo do poema “Post card/57":
No mercado central pretas carnudas
Vendiam frito de tripa de porco
Fígado picado e caninha.
No mercado central pretas carnudas
Vendiam frito de tripa de porco
Fígado picado e caninha.
Os novos bairros, avenidas, artérias, em suma, o espalhamento topográfico horizontal da cidade me espanta e ao mesmo tempo me dá a sensação de que estou em outro lugar, que nada tem mais a ver comigo, e com o meu espólio (triste espólio devorado pelo tempo!) de relembranças. Estas, por definitivo, vou encontrar num cruzamento qualquer da minha própria Teresina da memória.
Cunha e Silva Filho
via Portal Entretextos
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22.10.13
TER É SINA II, Elias Paz e Silva
sol e sombra do nada
sitia os deserdados
o fogo o terror nas casas de palha
os pedaços da doméstica
quarentinha bibelô nicinha
guerra silenciosa e
capital redistribui os espaços
da fome e dá forma à frei serafim
os anos fiados em miséria
perdidos à sombra do tempo
perpetuados à luz do dia
fabricados armazenados
teresina: claudino & cia
tajra tajra tajra taJRa tajra tajra
à igreja do santo negro
submersa em lendas
superpõe-se as torres
do amparo e a crença dos fiéis
paisagem artificial
se interpõe à brisa libertina
espigões tramam a colheita diária
de calor e cansaço
um monumento à morte
potycabana anfiarte
divisa a linha da vida
na miragem das coroas
ao lírico por do sol
avermelhando as cortinas
o rio se dá assoreado fulminado
entre navios sonâmbulos
paruaçu, rio de sonho, salve, salve.
um pescador de horizontes
senamora sete moças virgens
sobre o neon de natal da ponte
os pedaços da doméstica
quarentinha bibelô nicinha
guerra silenciosa e
capital redistribui os espaços
da fome e dá forma à frei serafim
os anos fiados em miséria
perdidos à sombra do tempo
perpetuados à luz do dia
fabricados armazenados
teresina: claudino & cia
tajra tajra tajra taJRa tajra tajra
à igreja do santo negro
submersa em lendas
superpõe-se as torres
do amparo e a crença dos fiéis
paisagem artificial
se interpõe à brisa libertina
espigões tramam a colheita diária
de calor e cansaço
um monumento à morte
potycabana anfiarte
divisa a linha da vida
na miragem das coroas
ao lírico por do sol
avermelhando as cortinas
o rio se dá assoreado fulminado
entre navios sonâmbulos
paruaçu, rio de sonho, salve, salve.
um pescador de horizontes
senamora sete moças virgens
sobre o neon de natal da ponte
pára-raios vigiam o mito
coriscos já não riscam noite
não se pode dizer de lendas
antenas sensíveis decifram céu de enigmas
Elias Paz e Silva
via Recanto das Letras
coriscos já não riscam noite
não se pode dizer de lendas
antenas sensíveis decifram céu de enigmas
via Recanto das Letras
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av. frei serafim,
bibelô,
casa de palha,
casas de palha,
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igreja de nossa senhora do amparo,
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quarentinha
6.4.14
DOIS MENINOS VESTIDOS EM CAMISAS DE POLÍTICOS, por Adriano Lobão Aragão
Dois meninos vestidos em camisas de políticos
sujos de rua menores
depravavam a poluída avenida Frei Serafim
com seus comentários
à funcionária da loja cujo nome ignoro
- priquito priquito priquito
e corriam e gritavam e depravavam
e mais ninguém ouvia
Dois meninos na rua lambendo coca+cola
derramada pelo chão
no sinal da Duque de Caxias com a Petrônio Portela
em duas poças no asfalto quente
entre os carros passando por cima da lata de refrigerante
esmagada
sob o pó e poeira e fuligem
os dois meninos bebem coca+cola derramada na rua
ao meio+dia de hoje
e mais ninguém via
1.1.16
De Uruguaiana à Rio Branco, de Aquidabã à Pedro II: a mudança de nome é também ressignificação das liturgias e ritos das sociabilidades, por Nilsângela Cardoso Lima
As primeiras décadas do século XX são marcadas por sensíveis transformações no espaço urbano brasileiro, através da revitalização das cidades.
No
Piauí esse processo se configura pela alegação de novos hábitos e costumes
relacionados ao viver em cidade. Particularmente em Teresina a onda progessista se dá por meio da criação e
valorização de espaços de convivência e lazer: praças, ou passeios públicos, salas de cinema, bares, teatros, cafés, clubes
etc. Ruas cada vez mais limpas e saneadas, iluminação com luz elétrica e
telefone, são avanços da mesma época que também chegam. Permaneceriam ainda por
muitos anos outros espaços tradicionais de sociabilidade, tendentes a ser menos
valorizados, tipo adros e salões das residências da aristocracia.
Bem
exemplifica essas mudanças, a reconstrução da praça Uruguaiana, depois Rio Branco, entre os anos 1909 e 1913; reconstrução
que lhe confere a condição de passeio
público predileto da capital; na década seguinte, esse logradouro se
tornaria centro da atividade comercial local. Note-se que a valorização urbana
da área dos fundos da velha matriz do Amparo em
detrimento da parte da frente – o adro das festas de antes – é emblemática das
transformações mentais do tempo.
Igreja de Nossa Senhora do Amparo, vista da Praça da Bandeira / fonte: página TERESINA MEU AMOR) |
Em
especial, a juventude de elite frequentava esse espaço das sete às dez da
noite, quando, ouvindo o ‘sinal’ do apito da usina elétrica se recolhia aos lares. A Praça Rio Branco, ajardinada e com coreto, atrai a elite, mas também setores
populares marginalizados; a segmentação é bem evidente, conforme o uso das
áreas mais ao norte ou mais sul, por uns e outros.
Praça Rio Branco / fonte: página TERESINA MEU AMOR) |
Por
estar localizada num ponto central da cidade e próximo a outros pontos de
aglomeração e lazer, como por exemplo, a própria Igreja do Amparo, o Café Avenida e o Bar Carvalho, a Rio Branco
caracterizava-se também como sala de
espera de encontros previamente marcados, antes de dirigirem-se as pessoas
aos referidos cinemas, teatros, cafés, bares e a outros locais de
entretenimento da cidade.
Os anos
1930 chegam e com eles a perda de hegemonia da Rio Branco como lugar privilegiado do lazer dos teresinenses, isto em função
da reforma da Praça Pedro II, antes chamada
Aquidabã, em 1936. Com a reconstrução da Pedro II,
e também a construção de prédios de arquitetura moderna ao redor dela, como o Cine Rex e o Cinema São Luis,
além da revalorização do tradicional Teatro 4 de Setembro, torna-se ainda mais aprazível o clima da P2 para o “footing” da sociedade teresinense.
Do
mesmo modo que a Praça Rio Branco oferecia um
espaço propício a “namoricos” e ao desfile das moças com as últimas novidades
da moda do Rio de Janeiro e dos cinemas, a Praça Pedro II se revela como o mais novo espaço para o divertimento da sociedade. O
clima atrativo da praça, com seus jardins floridos e carnaubal decorativo, era
ponto de encontro e desencontro de rapazes e moças, senhoras e senhores,
constituindo-se na “única praça do mundo na qual jovens da época desfilavam em
redor de um círculo, para deleite de seus admiradores”.
Praça Pedro II / fonte: página TERESINA MEU AMOR |
As
noite na Praça Pedro II decantavam uma
iluminação pública, com animação de bandas da polícia e do exército, nas
quintas-feiras e aos domingos, executando peças musicais. Nessa praça também
eram promovidas as comemorações cívicas da cidade, além de comícios e outro
agitos; palco, também, onde, em determinada época, certa intelectualidade
trocava ideias e sabedorias.
Deve-se
ressalta que a própria estrutura física original da praça resultava em
contribuir, a exemplo da Rio Branco, para uma
segregação social, quanto à sua utilização. Separada transversalmente por uma “rua”, tinha dois ambientes: a “praça de baixo”, local
privilegiado para as chamadas ‘moças da sociedade’, enquanto que a “praça de
cima”, também chamada de “praça das curicas”, era frequentada, em geral, por
empregadas domésticas e pessoas do mesmo nível social. Era comum ouvir-se falar
que na “praça de cima” as classe populares se divertiam, sendo ponto onde as
moças mais pobres e soldados se encontravam.
O passei público de Teresina, também, pode
ser visto como um refúgio para o público feminino que se encontrava no limite
do espaço privado. O traçado requintado e atrativo das praças proporcionava um
encontro de sociabilidades e de conveniências sociais. Mas é inafastável que o passeio público foi marcado por esse
“apartheid” social invisível, mas muito presente dentro dos espaços de lazer e
convivialidade da capital.
De
outra parte, as festas e bailes eram atrativos que faziam parte do lazer
teresinense, sendo realizados por ocasiões de aniversários, casamentos,
viagens, vitórias políticas, dentre outras ocasiões que promovessem o encontro
da “fina flor da sociedade” local. Tais festas possibilitavam que rapazes e
moças demonstrassem os requintes da sua educação, bem como, consistiam em
lugares elegantes, entre outras coisas, dadas as vestimentas da pessoas que os
frequentavam. Os bailes eram festas tradicionais do lazer na cidade feitos em
casas particulares, em decorrência da falta de locais apropriados para o
divertimento na cidade.
A
partir de 1920, eventos do tipo passaram a ser realizados em casa particulares
e vão sendo transferidos para os clubes e salões que surgem na cidade. Pode-se
destacar o Clube dos Diários, fundado em 1922,
que passa a ser o local de encontro, lazer e diversão da elite teresinense,
constituindo-se em local mais apropriado para os grandes bailes, também para as
magnas sessões solenes da cidade, conferências e congêneres, além de récitas,
concertos etc.
Voltando
ao teatro e sobretudo ao cinema, como se viu, desde as primeiras décadas do
século XX estão eles incorporando aos ritmos da cidade, sendo o Royal e Olímpia
destacados cinemas da cidade, - ainda antes da idas e vindas da P2 e da
abertura do moderno Cine Rex, inaugurado em 1939. Ambos apresentavam filmes
mudos, exibidos de forma seriada. Devido a isto, as casas de espetáculo
conseguiam manter uma clientela animada e constante, uma vez que as pessoas não
queriam perder nenhum capítulo do filme. Entretanto, o cinema falado em
Teresina é inaugurado em 12 de dezembro de 1933, com a exibição do filme
americano “Doce como Mel”, no teatro 4 de Setembro.
Este cinema apresentaria posteriormente filmes americanos e filmes de caubói. A
chegada do cinema falado provocou mudanças no comportamento da sociedade, na
medida em que as casas de cinema, até então existentes, começam a perder
público para o 4 de Setembro, pois a elite e as
pessoas de maiores recursos passam a assistir filmes ali.
Ressalte-se
que, embora o cinema falado constituísse num dos importantes focos de
entretenimento da cidade, não houve, de imediato, uma preocupação de se
construir um lugar um lugar apropriado para a exibição de filmes. Os locais
onde funcionavam os primeiros cinemas eram geralmente casas particulares e
adaptadas. Nesse sentido, a inauguração do Cine Rex,
casa de espetáculo própria e literalmente cinematográfica, dá orgulho aos
teresinenses, sendo considerado “o mais bonito e moderno” que possuía a cidade.
Praça Pedro II, ao fundo Teatro 4 de Setembro (à esquerda) e Cine Rex (à direita) / fonte: página TERESINA MEU AMOR |
Todavia,
desde sua chegada, o escurinho do cinema foi
alvo de reclamações de alguns setores da sociedade teresinense, principalmente
daqueles ligados à igreja católica, por ser considerado um lugar de perdição
para as moças de família. Logo, o ambiente do cinema propiciava a
intensificação de flertes entre rapazes e moças. Do mesmo modo que o cinema,
através de suas histórias romanescas, influenciava o imaginário do público
feminino referindo-se aos relacionamentos amorosos.
Nesse
contexto, a febre avassaladora do cinema, proporcionada pelo poderio dos
Estados Unidos, faz com que a representação dramática teatral perca lugar para
tal, não só pela concorrência, mas por falta também de quem a levasse adiante.
Nesse
sentido, nos anos trinta do século XX, a arte cênica perde ainda mais espaço no
lazer cultural de Teresina, quando o T4S é
arrendado aos irmãos Ferreira, Alfredo e Miguel, para, como referido acima, a
exploração do cinema na cidade. Tal medida criou um desestímulo maior aos
amadores que demoravam a montar algum espetáculo. Além do que, o teatro em
Teresina caracterizava-se como uma forma de lazer cara, dado o elevado preço
dos ingressos e pela exigência do toalete.
O T4S, única casa teatral da cidade, não
permitia, assim, uma maior participação popular.
Uma
dimensão interessante do lazer em Teresina ligado à revalorização e/ou criação
desses novos espaços de sociabilidades, é o carnaval, a que se dá, então, uma
nova roupagem e novas linguagens. As mudanças se deram, inclusive, na sua forma
de apresentação, pois perde alguns elementos considerados ‘levianos’ para a
participação do público feminino e católico, sobretudo na percepção da igreja,
para quem o carnaval era “um atentado à moral e aos bons costumes, um perigo
para as famílias cristãs e mesmo um causador de muitas ruínas”. Mas o carnaval
se imporá desde então, ganhando a crescente participação da elite que,
organizada em bailes, corsos e carros ornamentados, desfilava pela Praça Rio Branco, depois pela PedroII, e em tempo recentes, na Avenida Frei Serafim
e, atualmente, com bastantes diferenciações, na Marechal Castelo Branco.
Durante
a década de 1920, reitere-se, um dos elementos de muita valorização dos corsos
foi o automóvel, então incorporado ao cenário urbano. Nas manifestações
carnavalescas de rua participavam todas as camadas sociais que queriam se
divertir. Todavia, sobreviviam as festas patrocinadas pela elite, geralmente
feitas em clubes fechados ou em residências familiares, configurando-se num
carnaval elegante e de acesso limitado. Eram bailes à fantasia ou máscaras,
onde as pessoas se divertiam ao “som de orquestras que tocavam marchas e
tangos”. Embora consideradas uma festa profana por excelência, os bailes
carnavalescos, à medida que iam tomando um caráter ‘civilizado’ e familiar,
facilitariam a presença das mulheres.
Uma
pergunta se impõe: e o povo pobre da cidade, as classes populares como se divertiam? Embora essas formas de lazer
em Teresina implicassem, em geral, no entretenimento da elite, as pessoas menos
favorecidas, quando não participavam perifericamente dele, forjavam outras
formas de lazer. Vale ressaltar que todas as camadas sociais foram, senão
inseridas, influenciadas por esses novos símbolos do progresso e da civilização
que as cidades ditas modernas
ditavam.
Nilsângela Cardoso Lima
via Teresina 150 anos – 1852/2002 / Fonseca
Neto (coord.)
Teresina:
Gráfica e Editora Júnior, 2002
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