8.2.13
POR QUÊ, PACATUBA?
Por que a Pacatuba
Agora São João
Deságua no Parnaíba
Molha a lembrança
Renasce no coração?
Climério Ferreira
em Artesanato Existencial
Teresina: Corisco/Sapiens, 1998
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ESTAÇÃO TERESINA, por Carmen Gonzales
o sol
aquece as calçadas
carros estacionam um outono de
acácias
(amêndoas sob as rodas)
cai uma folha
e a cidade desperta
Carmen Gonzales
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27.1.13
"O rio deságua em mim!", por Ednólia Fontenele
O rio deságua em mim!
algum braço do Parnaíba
prende minha intenção de viver longe.
Estou aqui
mas permaneço lá,
suando com o calor
de suas tardes quentes
que se afogam nas águas do mar.
O RIO PARNAÍBA DESÁGUA EM MIM
Aracaju, 1994
Ednólia Fontenele
em A POESIA PIAUIENSE NO SÉCULO XX | Antologia
Organização, introdução e notas por Assis Brasil
Teresina / Rio de Janeiro: FCMC / Imago, 1995
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Teresina / Rio de Janeiro: FCMC / Imago, 1995
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2.1.13
PAISAGEM AMARELA
maria
todo dia
ia
de encontro ao cais.
trouxa na cabeça
ia maria lavrar planos
que há anos
o rio enxaguou.
levava um sorriso pálido
pra dar sentido
à roupa amarelada.
Wilton Santos
em CERCA DE ARAME
Teresina: 1979
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PRETA MALUCA
preta, a virgem mais clara
da paissandu
deu pra exótica
quando sentiu
bater à porta
a velhice.
pintou na boca
agitou um fino
enquanto se enrugava
depressa se alegrava
da ativa...
- sonhava...
Wilton Santos
em CERCA DE ARAME
Teresina: 1979
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CIDADE VERDE, Wilton Santos
quanta maldade
cidade verde
esta cidade!
fruto da ilusão medíocre
da razão insensata
na proporção da verditude
das fardas
amarrotadas, fedorentas e desbotadas
como é esta cidade.
...esta crueldade
amedronta os ratos.
Wilton Santos
em CERCA DE ARAME
Teresina: 1979
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1.1.13
TRAJETÓRIA, Nathan Sousa
Bicicletas cortam a Miguel Rosa
colecionando olhares pela estação
adormecida
e seus trilhos
sem trem.
Nathan Sousa
enviado pelo autor
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TOMBAMENTO, Nathan Sousa
Os estacionamentos privativos
golpeiam os casarões da história,
que tombam para sempre.
Os relógios verticais
param para ver quanto tempo
ainda irão suportar
as esquinas da Paissandu.
Nathan Sousa
enviado pelo autor
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31.12.12
O MALA, Hélio Soares Pereira
A onda anda mansa
nas bocas da maré
sem o agito das moitas
Um mala
pinta no pedaço
na cola
de quem tem trampo
Alguém dá o berro
- Cadê meu cruza?
A boca esquenta
O cana vai fundo
pisando nos calos
do brasuca cara de pau
que tenta
fugir da raia
É a maré
que não tá pra peixe
só pra anzol
O mala é fisgado
com um berrante na cuca
que se funde nos grilos
Mas muito vivaldino
saca na fuça do cana o chapa
que se liga em cascata
E deixa cair de leve
a gaita
na boca do balão
em No laço da opressão
Brasília: Gráfica Valci Editora, 1998
SAUDADE, Hélio Soares Pereira
Domingo adormece
domingo
amanhece
E eu
nesta saudade
que me invade
da minha terra
Saudade! Tu
me estremeces
e
congelas o peito meu
Ó museu de artes modernas
em verde
tapete de grama!
Tu me
deste oportunidades
que
minha doce terra me não deu
Mas que sabe?
Se esta saudade
ainda
menina
se
amenize no meu ego - talvez
Ou
me arraste de vez
à terra mater - Teresina
Hélio Soares Pereira
em "Onde o horizonte vem esconder-se..."
Brasília: Gráfica e Editora Esteio, 1982
TERESINAMADA, Hélio Soares Pereira
De noite
vejo brigitte bardot
na casa de shows
Enquanto o ônibus não vem
valquírias vão e vêm
Vou ao teatro
de arena
sem ponte de safena
e o bloco do amor
que fica
promove
o gera samba
da raça brasileira
Elba Zé e Alceu Valença
no pavilhão de feira e eventos
se aventuram
etcetera e tal
Teresina
assim derramada
é amada
e marca a vida
num esquema certo
de artesãos
Hélio Soares Pereira
em Passarela de escritores (coletânea)
Teresina: Edições Jacurutu, 1997
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TERESINA QUE ME FASCINA, Hélio Soares Pereira
Quem cortou tuas tranças
te deixou mais linda
Cabelos soltos
ao vento
olhar penetrante
Teus pontos de encontro
são tantos!
De quando em quando
vestem novas roupas
feitas de sol e de lua
Toda nua
vejo-te às vezes
e te penetro
no eco faminto
de mim
lendo Torquato Neto
quebrando a monotonia
dos passos
além da vidraça
embaçada
no tempo
Relax total
entre amigos
no shopping
ou com a garota
que surfou minhas ondas
sonoras
e calientes
Gelar a garganta
num ponto antigo
em blablablás
confortantes
Saborear sorvetes
na avenida
bacuri cajá
ou murici
São prazeres
que tenho de ti
São caminhares curtidos
fins de semana
potycabana
Ao sol de largo olhar
bebo meus dias
Naturais lembranças
ainda me resguardam
do estresse
bombardeando nas veias
o colesterol
das horas vazias
Teu sol de agora
brilha
novos horizontes
e deixa
guardados na sombra
teus passos cansados
Hélio Soares Pereira
em Antologia escritores III
Teresina: UBE / PI, 2003
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ÁGUAS DO PARNAÍBA, Hélio Soares Pereira
Águas do Parnaíba
ensaboando as pedras
deitando-se nas margens
umedecendo manhãs
emoldurando
saudades
Hélio Soares Pereira
em em Antologia escritores III
Teresina: UBE / PI, 2003
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3.12.12
SEGUNDA FOTOGRAFIA VIVER TERESINA, Elizabeth Oliveira
Quem visita o bairro Poti Velho pode ver as casinhas
miseráveis presas à terra.
Os meninos do Rio Poti brincam em completa alegria,
alheios ao abandono.
Têm o corpo marcado pela desnutrição.
Esquecidos, a cidade não lhes repara.
Nem o país observa sua própria miséria.
Os meninos do Rio Poti dependurados no horizonte.
Comigo-não-se-pode ironizam o homem,
acidente circunspecto em céu aberto.
Por que a vida aqui parece uma fotografia pardacenta
onde o tempo parou?
O primeiro bairro da cidade anualmente
confirma a tradição pública festejada:
acompanhado pelos fiéis,
São Pedro percorre as ruas em procissão.
O povo lhe devota o sagrado sentimento,
na intenção de dias melhores,
que as aves de rapina lhes prometem no período eleitoral.
O Cabeça de Cuia escuta a fome em danças,
crianças em roda, ao encontro do Rio Parnaíba
com o Rio Poti de braços dados com a gente ibiapiana.
Ao se tornarem adultos, os meninos do Rio Poti
(e os do Brasil) verão com espanto sua lembranças,
a infância tomada, de doídas medidas.
Que futuro pode ter o país
com essa massa (ignorada) de miseráveis?
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EU E O BAR, Elizabeth Oliveira
Estou no Bar Nós e Elis. Vou ao encontro da vida.
Tento compreendê-la.
O que dizem as luzes, o clima festivo?
Garçom, uma música romântica,
pois não entendo meu coração.
O que mostram as pessoas, em sua trivialidade?
Estou entre olhares indiscretos, ao som da MPB.
Mistérios me espreitam: como suportá-los?
(compor poemas talvez resolvesse!)
A cidadezinha inventa o mundo entre sorrisos de bares
e me estranha a moça só, produzindo incessantemente
o poema da madrugada.
Mas, o que se passa com a terna cantora de noites "rolantes"?
Sou a moça da farda,
pioneira de muitos goles sozinhos,
detentora de tantos senões.
Garçom, um gole de Mallarmé,
pois estou com a cara suja de Fernando Pessoa espia a mim.
Estou com a boca cheia de estrelas e
ninguém vai ficar imune a isso.
Sou palavras e sua presença é meu costumeiro vampiro.
De fato a eternidade é muito extensa
pode conter a infinitude de certos momentos.
Onde quer que vá, segue-me a poesia, pretexto de vida,
me diz; "onde tu fores, te seguirei".
Com meu canto teço sementes à terra,
que é meu veredicto ser-lhe testemunho.
Garçom, uma dose de Ezra Allan Pound ou um duplo
Florbela Espanca Drummondiano.
Meus vampiros precisam de orgias,
para o texto que se segue e que me rege.
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