13.4.23

"O U dy grudy na Distanteresina: tropicália, contracultura e a moderna canção popular no Piauí", por Hermano Carvalho Medeiros






RESUMO. Em 1973, um grupo de jovens estreou em Teresina o espetáculo U dy grudy... ou como diz Daniel Más, referido na imprensa como o “primeiro show montado no Piauí”. Além das apresentações musicais, ele contou com leituras de poemas, intervenções teatrais e improvisos cênicos que mesclavam os arcaísmos e as modernidades culturais brasileiras numa espécie de happening tropicalista-contracultural. Neste artigo procura-se evidenciar ― mais do que pensar as influências dos tropicalistas e da contracultura na periferia do mercado de bens culturais nacional ― as apropriações e fabricações simbólicas no processo de produção e criação desse evento. Mais ainda, busca-se ressaltar como, então, a canção popular foi tomada como expressão não apenas de consumo estético ou de entretenimento, mas também como instrumento de elaboração crítica e veículo de proposição de determinadas visões de mundo no panorama das artes do Brasil daqueles anos. E, nesse contexto, U dy grudy pode ser visto como um prelúdio da constituição da moderna canção popular piauiense.

PALAVRAS-CHAVE: moderna canção popular piauiense; contracultura; tropicália.

Disponível em <https://seer.ufu.br/index.php/artcultura/article/view/56968/29748>.



O GÊNIO INDOMÁVEL DA CHAPADA DO CORISCO, por Edmar Oliveira










Arnaldo Albuquerque foi um multiartista irrequieto da geração teresinense dos inesquecíveis anos 70 do século passado. Na primeira história em quadrinhos do Piauí, o fabuloso álbum Humor Sangrento, experimenta vários traços em histórias que destruíam mitos locais, como se procurasse um estilo que merecesse sua assinatura (e são todos surpreendentemente extraordinários). Na capa do álbum, num autorretrato, ele fuzila os super-heróis americanos dos gibis de que era colecionador. Também é dele as primeiras charges políticas que adornavam editoriais e colunas de opinião na imprensa local.

Irrequieto, sua vida se confunde com a sua arte. Numa moto, desafiava a velocidade, os padrões da cidade careta, enfrentando os fantasmas dos seus desenhos, como se fosse um Dom Quixote a perseguir moinhos das convenções mafrenses em que não cabia. Um acidente lhe deixou paralisado numa cama por vários meses. E foi nessa parada forçada que construiu um artefato para fotografar esboços e delineações que resultou no primeiro desenho animado da província: Carcará, recuperado e restaurado por alunos da UFPI, recentemente.

Um fotógrafo talentoso saltou para a câmera super-8 e responde por quase todos os filmes de cinema daquela geração, incluindo o Terror da Vermelha. Também os primeiros filmes de cinema da chapada. Um pioneiro designer – antes do nome identificar o artista – acertou no logotipo de vários suplementos culturais em jornais locais e responde pela fantástica capa do jornal O GRAMMA, que nomeou a nossa geração.

Uma vez, o que chamamos hoje de multimídia, mas que não era nomeado à época, fez o busto de cada um de nós em gesso e colocou em locais estratégicos da cidade verde com um porrete e um cartaz: quebre! De longe filmava a reação dos passantes. Uns riam, outros coçavam a cabeça e outros quebravam mesmo. Não se sabe por onde andam esses registros.

No primeiro espetáculo musical em casa de show no Piauí, UDIGRUDE na Churrascaria Beira Rio, Arnaldo fez um maravilhoso cenário para o espetáculo.

Muito mais teria a contar. Mas vejo entrelágrimas aquela figura polêmica, provocadora, que chocava com suas frases cortantes e desconcertantes, “que só tem mamãe, pelanca” cantando o estribilho da música de Caetano. Uma saudade me invade, dele e da época em que pintamos e bordamos na Teresina de então.

Arnaldo foi fotógrafo, chargista, quadrinista, desenhista, cinegrafista, cineasta, coreografo, ficcionista, poeta e pintor.

O mais talentoso de nossa geração muito produziu, mas depois destruiu a obra enquanto destruía a própria existência. Pouco se tem dele ainda. Aquele talento irrequieto merece que nos ocupemos em reunir o que de seu gênio está perdido por aí. É preciso reconstituir sua obra para fazer lembrar o artista que tentou que nos esquecêssemos dele.

Nesse momento ele faria 70 anos, quando se comemora 50 anos da geração GRAMMA no capim mafrense. A Chapada do Corisco deve procurar esse relâmpago artístico que brilhou no azul do céu num raio inesquecível.



Edmar Oliveira, psiquiatra, aprendiz de escritor, membro da Geração Gramma, amigo, parceiro e admirador do maior talento que conheceu em terras mafrenses.
Texto escrito para uma exposição no aniversário de Arnaldo, mas que não houve.
Publicado no blogue do autor, em 26/07/2022.



4.4.23

Hoje foi inteiramente impossível tomar a bicicleta e vir para a repartição, por Eduardo Rêgo Oliveira




Hoje foi inteiramente impossível tomar a bicicleta e vir para a repartição, acordei em uma daquelas ressacas incapacitantes. E, munido do lânguido sentimento, pensava na noite de ontem. Eu enviava um áudio para amigos pela manhã, quando tive uma daquelas epifanias que só ressacas de cair o pelo de um jumento poderiam proporcionar. Mas faria bem começar do começo, com o perdão da redundância.

Pois bem, ontem foi mais uma quinta-feira, o céu acordou tão indiscretamente belo que logo cedo protestei: como não haver uma praia sequer nessa cidade?, um sacrilégio, mais um, para a conta da pecaminosa Teresina. Esqueçamos dela. Dizia eu que o dia amanheceu indiscretamente belo, e logo que acendi o primeiro cigarro, aqui, em derredor do escritório, já me veio um poema, assim, de um jato. A manhã passou, a tarde passou e, antes das dezessete, caiu uma chuvinha. O dia ter sido belo, um poema ter acontecido e uma chuva de fim de tarde haver coroado a porra inteira, só me aumentaram na alma a vontade de abrir uma cerveja e observar passar o resto do dia, quem sabe aproveitar uma ponta de beleza a mais. Mas o diabo mora no excesso, e logo veremos que a quinta já gastara o tanto de beleza que tinha.

O expediente terminou e fui me recostar num posto de gasolina, tomar uma skol. Não bem havia sentado no banco de madeira, uma voz perguntou: —“posso rezar por você”; eu não costumo negar que pessoas rezem por mim, seja de que religião forem, sou um sujeito impressionável e algo sempre me diz que se negar a uma oração traz azar, que o azar nada mais é senão estar apartado da Graça. Mas contrariado, respondi: — “veja bem, minha filha, você pode rezar por mim, sim, claro. Mas não aqui, vá para seu quarto, se tranque por lá, e Deus que tudo vê vai te recompensar por essa boa atitude. Aliás, meu nome é Eduardo. Boa noite. ”

A moça me disse que tudo bem, tentou me vender uns livros para edificar minha vida e, malogrado o intento, evaporou. Eu já avançava para a quarta, e cria eu, última cerveja, quando uma outra voz falou do outro lado do banco: “— eita, olha! Estou fumando, tá? ”, eu disse que não fazia mal, porque também sou fumante, e botei um cigarro no bico. Já fazia menção de me sentar no meu canto, do outro lado do banco de madeira, quando, com muita sugestão, a mesma voz convidou: “— mas se sente aqui, do meu lado, sim? ”

Eu já disse que sou impressionável, e além de não recusar orações, também não me nego a convites femininos: —não traz os melhores auspícios. Sentei, tomei minha caixa de fósforos e entravamos a conversa mais rápida para chegar ao assunto do sexo que já tive na vida. A mulher, entre seus quarenta e quarenta e cinco anos, era uma coroa enxutíssima: loira, rosto pouco marcado, blusa leve rendada, corte cavadíssimo, e a calça, meio esvoaçante, daquelas que madames às vezes usam para ir à praia, parecia esconder um belo par de pernas.

Logo de início me contou que era carioca erradicada, que chegou cedo à Teresina, dos pais separados, da mãe casada com o português, do pai ausente, dos irmãos ricaços. Eu que, no instante anterior ao convite, revisava o poema que escrevi mais cedo, estava atento a ela e ao poema — às vezes balançava com a cabeça, noutras sorria, e por aí vai. Conversa vai e vem, ela dispara: “— briguei com meu namorado porque ele se recusou a transar comigo hoje”. Neste exato momento tive a certeza indelével: a mulher queria trair o sujeito.

Continuamos na conversa, e ela, sem titubear, dobrava a cada vez a aposta. Classificou a si mesma como “muito tarada”, e disse, procurando arrancar algum elogio de mim, não entender esse fascínio que exercia sobre os homens, pois tantos queriam levá-la para cama. “Não sou bonita”, vaticinou. Eu que não estava bêbado o suficiente para começar a mentir, restava calado e ouvindo; o caso é que a mulher, que não era de fato bonita, realmente tinha o que os franceses chamam de attrait sexuelle, os americanos, de sex appeal, e nós, os brasileiros, de cara de cachorra, ou de safada, dentre outros predicados.

Naquele momento eu estava decidido, iria para casa dela ou para uma outra parte qualquer e terminaria assim a noite. Foi quando ela me disse, após me mostrar algumas fotos íntimas no telefone: “— semana passada, sabe, eu dei para três”. Eu disse que era um bom número, fingindo interesse. “— Três ao mesmo tempo, e um deles tá lá dentro na conveniência. Pergunta pra ele.” Nesse exato momento, juntando algumas peças, tive a convicção que estava tratando com uma ninfomaníaca. Ela se perguntava, vez ou outra, e de si para si “por que é que sou assim?”

O fato é que tratar com uma possível ninfo, naquele instante, não diminuía em nada minha inclinação ao sexo casual. Não é todo dia que uma completa estranha me oferece sexo, assim, na bucha. Levantei para mijar e, quando voltei, ela queria saber se perguntei para o rapaz aquilo que acabou de contar. Eu disse a ela que não, que havia pessoas, que seria patético um lance desses no meio da loja, que nem identifiquei esse camarada. Eu nem bem havia terminado de explicar, aparece uma ratazana por detrás dos baldes e do rack de pneus do posto. Um sinal? não sei, o que sei é que no próximo instante tirei uma fotografia do bicho correndo pelo cimento polido.

Demos risadas da situação até o momento em que um homem, que olha os carros por ali, começou a correr atrás do animal a chineladas. A ratazana se enfiou entre as caixas e outros entulhos e escapou, incólume, das chineladas do velho. Incontinenti, ela atende o telefone e fala com uma fulana, era uma amiga. Em não menos que dez minutos a fulana aparece e também conversamos, mais jovem, parecia ser tão dada as mesmas aventuras e extravagâncias quanto a outra. Nesse instante, peguei o telefone e falei com amigos sobre a situação, do certo dilema moral que enfrentava: ir com elas e faltar ao trabalho, ou ir com elas e faltar ao trabalho? A resposta foi unânime.

A moça que chegava, porém, tinha outros planos e convidou a amiga mais velha para jantar. No momento eu ainda não sentia que a aventura iria para o brejo antes mesmo de começarmos qualquer coisa. Minha conhecida perguntou se eu ficaria por ali, se esperaria um tempo, e eu, achando que dizer que sim faria com que ela se demorasse ainda mais, disse que tomaria aquela e uma última, e então iria para casa. Depois, elas atravessaram a avenida e sumiram em meio a carros estacionados. Havia uma verdade no que eu acabara de dizer, no entanto: entre eu chegar ao posto, conversarmos e elas se escafederem dali, eu já tinha bebido uma quantidade considerável de cerveja. E é de conhecimento geral, existe um limite de álcool que o corpo masculino aguenta até seu sistema parassimpático dizer bye bye, e, com isso, qualquer possibilidade de sexo.

O certo é que bebi mais uma, outra, mais quatro cervejas e, como não apareciam de todo, resolvi me retirar dali — já completamente embriagado. Em casa, tomei um banho rápido, entrei na cama e simplesmente apaguei sem me dar o momento em que chegou o sono. O relógio do telefone, como de costume, tocou às sete da manhã: mandei para o caralho e voltei a dormir. Acordei às nove, com a cabeça latejante e com o corpo moído no mais alto grau de ressaca. Olhei de novo para o telefone, amigos queriam notícias do desfecho da noite. Foi quando tive a epifania, contei a um deles quando, na hora do almoço, rumávamos para o restaurante universitário.

O meu azar e malogro nos termos da sacanagem eram senão manifestações da Graça: insisti, e, aposto, a mulher que tentou me empurrar livros devocionais rezou por mim aquela noite. A coisa toda se resume a que eu, de fato, queria levar aquela dona para cama, e ela aparentemente queria o mesmo, mas, independentemente de nossas vontades extravagantes e perfeitamente naturais, nada aconteceu. E certo de que apenas não cometi mais um, de tantos pecados mortais que já cometi na vida, não por vontade própria, mas por intercessão de uma outra estranha, fui para o trabalho em um certo estado de alheamento.

A história, evidentemente, não tem nenhuma moral (como poderia ter?). Talvez apenas que, no fim, tudo não passe de um jogo de sorte e azar, graça e desdita, dentro, naturalmente, de seus próprios termos boêmios ou celestiais.



Crônica enviada pelo autor


4.5.22

beira rio - esquecimento - Daniel Suan



           em mim
                            os vários camaleões
       no porém do meu habitat
          tons de iguana
nas folhas de relva
           ainda meus pastos
        sinto que transforma, a estrada,
          & as pegadas, são outras.

           um momento passado
            pode causar delírios
     sala cheia, já vazia, nada novo
na cabeça jaz o cemitério
      memórias datadas
                & o bilhete premiado:

      "sempre me aparece outro defunto"



Daniel Suan
Poema enviado pelo autor


"rapaz, fazia um calor infernal", por Eduardo Rêgo de Oliveira



rapaz,
fazia um calor
infernal

o range range
do metal
se confundia
com a metaleira
da banda de forró


chapa,
nunca pensei
que sentiria
saudades desse som
-------------------------------[dos infernos

as ideias derretidas
sobre o colo
no bule da cachola
fervidas sob um sol
equatorial
----------------------------[impecável

talvez dois
um na frente
outro atrás

no retorno
talvez ?

n m c
o e a
-- s i
--- m x -- (essa parte principalmente, algo me diz que já a li) --
---- o ã
-------- 0
metálico

gente boa
gente ruim
gente com farda
da escola estadual

gente doida


gente careta

vidraças da engecopi
deformando um
p o s t e
que mais parecia
uma...

bem
uma genitália feminina.



Eduardo Rego Oliveira
Poema enviado pelo autor


Pra Acender seu Coração, por Chico Castro



Não sou quem vc pensa, meu rapaz!
Vc não nem me vê
Kd vc?
Tenho um pix, sou mix...
Já fui pó de giz...
Agora
Faço as unhas, corto cabelo
Faço massagem, selagem, tiro os pelos
Boto a bunda pra rebolar...
E vc nem olha!
Se até um cego me vê passar!
Sou mulher...
Gosto de gracejo
De Catherine Deneuve...
Compro roupa nova
Da moda,
Um biquíni cavadão...
Faço festa de São João
Quando vejo vc chegar...
Por que não posso me rebolar?
Pra chamar sua atenção?
Qualé, meu irmão, tem disso, não..
Joga essa prosa fora...
Não sou submissa,
Sou artista...
Pra acender seu coração,
Faço festa de São João
Um biquíni cavadão
Quando vejo vc passar
Pra chamar sua atenção...



Chico Casto, 05.02.2022
Enviado pelo autor


11.6.21

Let’s Rock da House!, por Laís Lustosa




Tudo aconteceu numa festa de aniversário. Os amigos estavam reunidos, conversando sobre novos projetos que surgiam no cenário artístico da cidade, como é o caso do Projeto Hooligans (projeto alternativo que acontece em dias de quinta), no Mercearia Pub Bar, e resolveram fazer o seu próprio. Foi assim que surgiu a base da Rock da House, festa com edições mensais voltadas para o público de Teresina.

A festa acontecia na casa de Pepa Hidd, produtora da famosa festa “Vinte e poucos anos” e uma das organizadoras da Rock’da’House, e os amigos resolveram fazer uma festa nova, diferente, para um público diferenciado, aproveitando o espaço daquela casa. “A gente pensou em um nome e surgiu a ideia de ‘sacudir a casa’, que no inglês seria ‘let’s rock the house’”, explica Gualberto Júnior, o outro organizador do evento.

Mas por que nessa casa? Segundo Gualberto, a localização era central e de fácil acesso a todos, além da ausência de vizinhos. Isso permitia um som mais alto e potente, favorecendo a apresentação de bandas.

A princípio, a festa seria uma espécie de vitrine, dando oportunidade para quem estava produzindo na época. E não só para música, mas para artes também, ou seja, além das apresentações das bandas, também poderiam ser encontradas exposições artísticas na Rock’da’House.

Primeiro Rock'da'House



Na primeira edição, por exemplo, foram escolhidas duas bandas que faziam suas próprias composições e tinham um estilo definido por diversas influências, como rock inglês e samba. As discotecagens animaram a pista com o melhor do rock dos anos 70 ao atual, e as exposições de artes traziam temáticas urbanas e contemporâneas. De lá para cá não mudou muito, os temas continuam atuais, mas não necessariamente os que estejam em voga na mídia.

Mas logo surgiram os primeiros contratempos. “A ideia da exposição de arte se desfez logo no início devido à falta de compromisso de alguns dos artistas que expunham em nossas dependências. Não foi uma relação boa. Então resolvemos cortá-la logo no início para evitar transtornos e chateações”, explica Gualberto.

Pascoa


Outro problema foi uma denúncia na Delegacia do Silêncio, já na terceira ou quarta edição. Os organizadores descobriram, então, que na casa vizinha à casa de Pepa, onde aconteciam as edições do Rock’da’House, funcionava uma pensão, justamente do lado aonde o palco era montado.

Para resolver o conflito, conversaram com a dona e decidiram que a festa teria apenas DJ’s, já que o som desses não incomodava tanto. A Rock’da’House passou então a ser nômade, mudando de casa nas festas em que teriam apresentações de bandas.

Festas juninas



A primeira edição da Rock’da’House aconteceu em junho do ano de 2007 e contou com um público de 50 pessoas. A partir daí, as edições chegam a ter de 150 a 200 pessoas, em média, por edição pequena (as que acontecem ainda na casa da Pepa) e cerca de 600 em edições especiais (as que trazem atração especial, como foi o caso das bandas Montage, de Fortaleza, da Las Bibas from Vizcaya e da DataBase, ambas de São Paulo).

B-r-o-bró



Um fato interessante sobre a Rock’da’House é que no início, as festas só aconteciam em noites de lua cheia. Em junho de 2007, aconteceu o evento chamado Blue Moon, quando há duas luas cheias no mesmo mês, e devido a isso, aconteceram duas edições da festa. Hoje, a festa é mensal.

A Rock’da’House já chegou em sua 20ª edição agora no dia 31 de outubro de 2009, com uma edição especial de Halloween. A diferença desse evento é o seu público alvo, ou seja, as pessoas que costumam ir à Rock’daHouse são aquelas que não frequentam o mainstream (festas mais populares). “O lema da festa é ‘A party for all’, com todos os trocadilhos, rock, house, forró (for all)”, revela Gualberto.

Halloween



A mídia usada para chamar a atenção dessas pessoas foram as redes sociais. “O advento do Orkut foi crucial nesse processo. Toda a nossa mídia foi baseada nele, não gastamos nem dinheiro nem papel com a impressão de flyers”, relata o organizador. E planos futuros? Gualberto já planeja uma festa de fim de ano, pretendendo trazer uma atração de peso, e afirma continuar o evento pelo próximo ano.

Para quem se interessou pela festa:

Comunidade no Orkut: http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=36309030
Perfil no Orkut: http://www.orkut.com.br/Main#Profile?uid=14099192978291558960
Fotolog: http://www.fotolog.com.br/rock__da__house/



Laís Lustosa <laislm@hotmail.com>
Em 04/11/2009
Postado originalmente aqui.

Os Bares de Teresina, por Eugênio Rosa de Oliveira Ribeiro (2013)






Certa noite, pertinho do aniversário de 161 anos de Teresina, numa das cervejadas no Bar do Osvaldo, ficou uma pergunta no ar: O que ou quem mais representaria o jeito de ser da cidade de Teresina?

Conversando com o Conselheiro Fernando Porto, primeiro e único Comendador do Barrocão, veio a solução! Nossos bares e botecos são quem mais refletem a alma do Teresinense.

E por qual razão? Qual é a característica dos nossos botecos? O que os diferencia? Quais são eles?

A maioria de nossos bares é bem simples. Despojados, não muitos limpos (tem um com o nome “Bar do Imundo”), copo americano, cadeira de espaguete, ás vezes nem cadeira têm! E, apesar de serem um templo de celebração da mulher, são um ambiente eminentemente masculino.

O dono, geralmente mais grosso que lixa 40, contraria todas as lições do SEBRAE sobre a cortesia e atenção aos clientes.

No entanto, estes botecos são ponto de intelectuais, médicos, engenheiros, jornalistas, empresários, um sem número de pessoas conhecidas e bem sucedidas, além dos tradicionais cachaceiros dos diversos matizes.

Tem boteco frequentado pelas mesmas pessoas faz 40, 50 anos. Agora já são os filhos que estão tomando o lugar dos pais.

O Bar do Osvaldo, por exemplo, que funcionava perto da casa do estudante, antes de mudar para o Barrocão (ficou no lugar do bar do seu Luís Veloso, pai da primeira dama Lilian), foi frequentado por sucessivas gerações de estudantes (iam comprar ovo e sardinha!).

Muitos desses estudantes se formaram e, apesar de profissionais de sucesso, mantiveram o hábito de visitar o veterano da guerra (seu Osvaldo lutou no Suez).

No Osvaldo não há cadeiras, nem mesas. Quando aparece uma pessoa conhecida (só se for conhecida) ele tira detrás do balcão um tamborete e, assim, os fregueses se posicionam uns de frente para os outros nos dois lados do balcão.

O balcão de madeira do seu Osvaldo tem mais de cem anos e pertenceu ao comércio do senhor Adelino, depois fiscal de rendas do estado, pai do Agenor (engenheiro), Juscelino e Dilson Pinheiro (médicos já falecidos) que permaneceram, como o pai, assíduos frequentadores.

Local de encontro de muitos amigos como: Tancredo Serra e Silva, Edmar Mota e Bona, Peninha, Manoel Afonso, José Jucá Marinho, Bernardo Castelo Branco, Oscar Castelo Branco, Ivadilson, Raimundo Marvignier, Os irmãos Raldir, Bizarria e Roosevelt Bastos, José de Sousa Santos, Afonso Ferro Gomes Filho, João Agrícola dos Passos, Walter Moura, Alberoni Lemos Neto, Ismar Andrade, e muitos outros.

Dá tristeza saber que uma grande parte já se foi!

Outros bares formam uma verdadeira confraria. Um grande exemplo é o Santana. Reduto de famílias tradicionais, os clientes se sentem irmanados e muito amigos. É muito frequentado por empresários e profissionais liberais. Os membros promovem diversos eventos durante o ano: Carro dos Amigos do Santana no Corso, filme do ano, enduros e por aí vai... Tem cliente que começou criança tomando refrigerante no antigo endereço em frente à Igreja São Benedito.

Mas afinal, quais são os bares tradicionais de Teresina do passado e do presente? Eis alguns exemplos:

Maria Tijubina: ficava no Mafuá entre o muro do Cemitério São José e a linha do trem era frequentada por boêmios e notívagos muito conhecidos como José Lopes dos Santos e o mestre do cavaquinho da Rádio Difusora Caco Velho.

• Bar do 71: na Praça do Fripisa, o dono “o Neguin Baixo” só usava branco, roupa e chapéu. Era o ponto dos estudantes da Faculdade de Direito, que funcionava na praça, quando terminavam as aulas.

• Bar do Zé Garapa: na Piçarra onde funciona hoje a Jacaúna, ponto de encontro dos melhores jogadores de sinuca. O melhor jogador era o Raimundinho da Bindá. Seu irmão Antônio da Bindá era conhecido como o maior boêmio do Piauí e um grande cantor.

• Restaurante da Dona Maria Maior: localizado na Rua Paissandu, reduto boêmio. Quando terminavam os filmes, as tertúlias e o movimento da Praça Pedro II, os homens desciam. O nome oficial era Fála-se Hotel, possivelmente uma corruptela de Pálace Hotel.

Bar Carvalho: Muito famoso, frequentado pela elite, era da família do prefeito Firmino Filho e do vereador Inácio Carvalho, ficava na Praça Rio Branco e era considerado a melhor comida de Teresina.

• Bar do Cabecinha: No Cajueiro, antes funcionou na Santa Luzia com David Caldas, reduto do famoso Basilão dos Cajueiros.

Bar Carnaúba: dos irmãos argentinos Carlos e Osvaldo Fassi, ao lado do Theatro 4 de Setembro, totalmente feito de carnaúba. Em suas proximidades funcionava a Rádio Calçada, em frente a Lanchonete Americana, onde as decisões políticas do Piauí eram tomadas. Entre os seus frequentadores temos: Deputado Ciro Nogueira (pai), Dr. João Mendes Nepomuceno Neto, Prof. Magalhães (pai de secretario de segurança) dentre outros.

• Bar do porão do Clube dos Diários: onde existia um cassino

• Largo do Boticário, no Clube dos Diários: no corredor a esquerda de quem entra no Clube, reduto de escritores e intelectuais, até os garçons eram famosos: Raimundão (pai da delegada Vilma), Careca e Cirilo.

• Bar e Hotel Avenida: onde hoje é o Hotel Piauí (Luxor), frequentado pelos sírios e libaneses, nossos conhecidos carcamanos.

• Cantinho do Tufy: também de árabe, o dono era o Jesus Thomaz Tufy, exercia suas atividades na Rua Álvaro Mendes esquina com a Rua Simplício Mendes, foi a primeira lanchonete a vender esfirra e quibe na cidade.

• Bar e Restaurante do Auto Esporte Clube: Na Rua da Palmeirinha (Clodoaldo Freitas), lugar de quem queria comer uma boa panelada. Primeiro restaurante “delivery” de Teresina.

• Chicona do Poti Velho: figura folclórica fazia piaba frita e peixe de primeira (era quem fritava os peixes – bem poucos por sinal– de minhas pescarias no encontro das águas).

• Galinha da Júlia: única comida que se pode dizer que é genuinamente teresinense, funcionava perto do Hospital São Marcos. A galinha era feita em panela de ferro e lenha, recheada com mexidos e bastante condimentada. A receita morreu com ela, mas fez tanto sucesso que a tripulação da empresa aérea Real Aerovias, ao fazer escala em Teresina já vinha com a incumbência de levar a galinha para o Rio de Janeiro e outras cidades.

• Bar do Zé de Melo: em pleno funcionamento na Dom Severino, tão frequentado e querido que existe uma confraria organizada dos amigos do seu Zé.

VTS: Na Rua João Cabral, vende um peixe muito famoso e possuía uma seleta freguesia, exemplo: Totó Barbosa, Elisiário, Carlos Said e Nodgi Nogueira

E quantos outros! Miúda, Bar do Edverton, Gela Guela (a cerveja mais gelada da cidade), Rifona, Zé guela, Sapucainha, Coqueiro Verde, Bar do Gelatti, Pesqueirinho, Bar do Lula, Bar do João Veloso, Bar do Amauri (reduto de jornalistas), Bar da Tia Maria (no encontro das águas), do Ulisses, Zé Filho, Pé Inchado, Ribamar, do Pernambuco, Bar e Restaurante Acadêmico (do Pedro Quirino).

Em Teresina, o bar é tão importante que até candidatura de governador já foi decidida em um.

Até hoje, não há maior diversão para um teresinense da gema que encontrar os amigos no final da tarde e fins de semana, no seu boteco favorito, para trocar informações e esmaecer as tensões de um dia de trabalho.

Nem melhor local para se fazer amizades que duram toda a vida.

São os bares e botecos que fizeram a alegria dos teresinenses de ontem e de hoje.

E que refletem muito do nosso jeito simples e amigo de ser.



Eugênio Rosa de Oliveira Ribeiro
Em 10/08/2013 | Teresina/PI

Publicado no blogue do Poeta Elmar Carvalho "Recebi o vertente texto por WhatsApp. Não tendo o contato do autor, não lhe pude pedir autorização para a publicação em meu blog. Espero que ele não se aborreça. Quem me enviou o texto também não tinha o endereço virtual dele. Publiquei porque achei um texto muito bom e importante para a memória de Teresina."


20.5.21

Pipoqueiro, por Rodrigo M Leite



Senhor Manoel, Pipoqueiro, Alto da Jurubeba, em Teresina/PI, 
Rodrigo M Leite, em abril de 2021

02 Poemas/Momentos no Café Art Bar







CAFÉ ART BAR


da tarde que segue nervosa
homens surgem suados
carregados de preocupações
destinos a esmo
me vê uma antártica gelada
lá fora praça pedro segundo
a claridade destrói o asco
ferrugem que incendeia o portão velho
na entrada de um estacionamento
a urbe urge roncos trôpegos
a tarde é consumida dentro de um café




Rodrigo M Leite, publicado na Cidade Frita, Teresina: 2013, Versão atualizada



(...)



ENTRE BANCOS SORRI CAFÉ ART BAR


entre bancos sorri café art bar
as vontades da vista da praça
cheia de saudade do que não vimos.
entre postes
entre hippies
sorri meu mais novo amor
rodeado dos antigos
de restos e velhas construções
armações que o tempo preserva feito bibelôs
feito coração velho já amargo e frágil
com portas grandes e coisas sem valor.
entre bancos, pedras, rochedos velhos
sorrir meu novo amor.




Renata Flávia, enviado pela autora

10.4.21

Sou um d’os que vagueiam no mundo, por Francisco Gomes



Sou um

d’os que vagueiam no mundo

como em Shelley

: observo a opaca estrela

entristecida nos olhos da noite…

Observo a lânguida lua dolorida

nas nuas costelas das nuvens…


Sou um

d’os que vagueiam no mundo…


As últimas pegadas

apagaram-se sob a matilha

de querubins endiabrados.


As últimas pegadas

apagaram-se sob os pés

de virgens enlouquecidomadas.


Sou um

d’os que vagueiam no mundo

como em Shelley

: madrugada cúbica

in lieblicher bläue…


O mundo vermelho cultivado no espelho

guarda sóis indecisos

&

sexos de granito

(esse é um dos mundos que vagueio).


Sobre rosas amarelas

, nojos descabidos

, espumas de súplicas

caminho

               , todo cinza

               , solstício

               , solidão.


Sou um

d’os que vagueiam no mundo…


Sou um

d’os que vagueiam no mundo

como em Shelley

: estátua de tédio

, mistério-ultra em frutas frias

, natureza-morta no banquete dos deuses.


Observo a calcinação da noite

: astros-epitalâmios

; harpias depilando as partes íntimas

; bêbados apregoando cismas

; travestis com seus cus a granel…


Vagando

, a volúvel infância capricorniana

invade os sonhos da insônia

(a noite é um banheiro público).


Sou um

d’os que vagueiam no mundo…


As portas fechadas

ladram para os noctívagos.


O beijo em chamas

serpenteia o mamilo.


Os postes estéreis

abrigam urina.


As ruas vazias

absurdam existências.


Sou um

d’os que vagueiam no mundo

como em Shelley

: uma navalha latina degolando semideuses

ou

hipermetropiados suicidas

no carcomido jardim das aflições

atirando-se em roseiras-kamikazes.


Sou um

d’os que vagueiam no mundo…


Sou um

d’os que vagueiam no mundo

como em Shelley

: gato amarelo atento ao dia

(clara noite em descoberta)

; vento quente solfejando Serge Gainsbourg.


As pernas trêmulas tensas…

Tarântulas

, túmulos

, turbilhões de signos

são produzidos pelo parfum de la nuit

(noitescarlate cingida de adagas).


Fugir?!

Tendes-me aqui.


Um urro a fórceps

rasgáspero o imprevisível da lágrima.


Desesperado

, intranquilo

, acordo aos risos

: a brutalidade ocre

agridoce no peito desperto

: mais um sonho inútil

: albinas virgens de prata em estado de musgo

apertando meus colhões improdutivos.


Sou um

d’os que vagueiam no mundo…


Sou um

d’os que vagueiam no mundo

como em Shelley

: de mãos dadas com Gide

atravessamos a avenida dos sonhos

rumo ao Sun City Hotel

: Rimbaud nos aguarda

com doses de ópio efervescente

“os manterei alucinadamente ligados”.

A sonolência persiste

; o cansaço é isca (fácil?).


Para os que acreditam

que a noite é causadora de lesões

, digo

: a noite é um cavalo indomável

, exige ser montado.


Para os que acreditam

que a noite é causadora de lesões

, digo

: cada esquina é um atalho.


Para os que acreditam

que a noite é causadora de lesões

, é porque nunca olharam

bem no fundo

do olho de um cavalo.


A noite

, somente a noite (…)

é para quem

se desliga do conforto.


A noite

, somente a noite (…)

é para

Os que vagueiam no mundo.


Sou um

d’os que vagueiam no mundo…


Sou um

d’os que vagueiam no mundo

como em Shelley

: mariposa hibernando

na parede descascada da sala

; saliva reimosa convertida em ELÉTRONS

; teimosa acidez altiva na uretra.


O corpo cheio de gavetas

(a face lisa sem semblante)

— minifúndio sitiado

, na indecisão a vagar

, rompe cicatrizes cristalizadas

convertidas em inúteis sons.

Sons de luz

: extravio de si

na rua obscena dos desavisados.


Tenho vulcões nos poros

&

abalos sísmicos nas veias

: sentinelas antissono.


Nas andanças oníricas

corro o risco do esquecimento.


Sou um

d’os que vagueiam no mundo…


A identidade se perde

num mergulho esparso

no espaço inóspito do orgulho.

Pouco importa.

O tempo é breve.

O tempo é movediço.

Apenas sigo.


Sou um

d’os que vagueiam no mundo

como em Shelley

: certezas provisórias

são reentrâncias dos dias…


(colidir sempre com a esperança

: a calmaria traz desassossego).


A vida-estratagema

— extensão do finito pantempo

impõe aos cegos

códigos distorcidos.

Pré-firo (abrir) os olhos

na excêntrica claridade

&

fitar a enferrujada velhice

de tantos séculos

que nos arrasa.


Sou um

d’os que vagueiam no mundo…



Francisco Gomes, 

Em O Despertar Selvagem do Azul Cavalo Domesticado 

Rio de Janeiro: Multifoco, 2018




4.4.21

cena em negativo, Carvalho Neto


o nativo põe o ouvido no chão encarnado
cerra os olhos para o mundo
e escuta o coração da terra bater
com o tropel dos cavalos de fogo
dos bandoleiros que dizimaram a nação gueguê
no médio Parnaíba.
magote de mortos: velhos, mulheres, crianças,
ritos, história
o guerreiro levanta-se no tempo e o passado nos acompanha
como uma sombra.


Carvalho Neto
em "Remansos", 2014

31.3.21

"o sem nome", Chico Castro


o sem nome
não tem olhos, mas vê
não tem pés, mas caminha
não é mago, mas adivinha
não tem boca, mas come.
o sem nome
será um sujeito, um predicado
uma oração sem aposto
qual será a cor do seu rosto?
será um ovni, um asteróide,
o super-homem?
será um substantivo, um verbo
um pronome?
por certo não é
um artigo qualquer.

o sem nome
não sabe o que quer
uma flor que se consome
no olhar de uma mulher.
O sem nome é um risco
um salto no abismo
Será Judas, Jesus ou Prometeu?
Uma maçã no meio do paraíso
A Eva que Adão comeu.

o sem nome
é ouro, mas não reluz
uma miragem no deserto
um sol de costas para a cruz.

O sem nome
É o rei do vai-e-vem
Sem nada ter, tudo tem.

algo que ninguém imaginaria
uma casa, um mar, uma floresta
um lugar onde nem o vento passaria.

o sem nome
entra sem bater
é um querer sem querer
sem pedir por favor
o nome do sem nome
é o amor.


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