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21.1.16

CHAPADA DO CORISCO (1979) - Clodo, Climério & Clésio




Lado A

1. Rixa [Clodo/Climério] 00:00
2. Flor do Coqueiro (Pita) [Clésio/Clodo] 02:10
3. Morena [Naeno] 05:27
4. Chapada do Corisco [Clodo/Climério] 10:01
5. Dia Claro [Dominguinhos/Clésio] (Part. Esp.: Dominguinhos) 12:55

Lado B

6. Oferenda [Clésio/Clodo/Climério] (Part. Esp.: Fagner) 17:40
7. Modo de Ser [Clodo] 20:48
8. Timom [Clésio/Climério] 24:13
9. Enquanto Engoma a Calça [Ednardo/Climério] 28:31
10. Revelação [Clésio/Clodo] 31:45

(...)

CHAPADA DO CORISCO | Clodo/Climério

eu me conheço
eu não me arrisco
eu não mereço 
ficar longe da chapada do corisco

é que a cidade é verde
é que ela me amadurece
é que eu vim de lá menino
e nada me acontece

quem sabe o que quer
fuma qualquer cigarro
traça qualquer pinga
tira qualquer sarro

quem não sabe sabe
não conhece bem
quem ensina o cabe 
não cabe ninguém

(...)

TIMON  | Clésio/Climério

o Timon não tá no barco
tá na terra
do outro do rio eu chego lá

vou ver meu amor

entre mágoas que esse rio não separa
corre essa canoa embarcação
pra ver meu amor

(...)

Segundo álbum dos irmãos piauienses ClodoClimério e Clésio. Lançado pelo selo Epic da gravadora CBS, cuja direção artística estava sob o comando de Fagner. O LP se chamou Chapada do Corisco (título de uma das faixas, assinada por Clodo e Climério) e contou com a participação dos músicos Manassés, Abel Ferreira, Dino das 7 Cordas, Tuti Moreno, Dominguinhos e o próprio Fagner, dentre outros. Estão presentes no disco as faixas "Revelação", sucesso na voz de Fagner, e "Timon", regravada por Marlui Miranda em seu álbum "Revivência". A capa do LP foi criada por Fausto Nilo, juntamente com Januário Garcia.

9.12.15

FESTIVAL DE MÚSICA DA CHAPADA DO CORISCO - CHAPADÃO




Em 1995, eu Aurélio Melo e Henrique Costandrade tomavamos umas cervejas em um bar restaurante localizado perto da Praça do Liceu, se não me engano Bar e Restaurante Cearense. Naquele ano existia um Centro Integrado de Arte-Ciarte/Centro, Da Fundação Cultural Monsenhor Chaves, coordenado pelo ator Fábio Costa e o humorista Dirceu Andrade, este sim, em frente a Praça do Liceu. Era um Centro vivo com atividades de literatura, música, dança, teatro, artes plásticas e cinema.

Eu era diretor do Departamento de Arte da Fundação Cultural Monsenhor Chaves, Aurélio era o coordenador de música e Henrique o coordenador do Caminhão da Cultural, um dos mais arrojados programas da Fundação, que era presidida por Dona Eugenia Ferraz. O Caminhão era equipado com som, luz, palco e uma equipe de seis pessoas, servindo a inúmeras associações de moradores, grupos culturais e artísticos, e às atividades da própria instituição, levando música, dança, teatro e cultura popular a diversos bairros de Teresina.

Estávamos exatamente vindo de uma atividade do Caminhão e paramos naquele bar para uma refrescada. Cerveja vai, cerveja vem surgiu a ideia de realização de um festival de música permanente para Teresina, no entanto, um festival que fosse diferente de tantos outros festivais já realizados na capital. A discussão rolou acalorada, e a cerveja, também, mais gelada.

Como diretor da Fundação comprei a ideia na hora. O festival seria realizado com uma nova dinâmica: seriam quatro eliminatórias realizadas nos bairros de Teresina, com a final no centro da cidade; O jurado seria o mesmo para as quatro eliminatórias, e o festival seria realizado com o apoio da associações de moradores e artistas dos bairros visitados. A categorias concorrentes seriam amador e profissional, com premiações distintas. Tudo acertado, precisávamos de um nome, algo impactante que aliasse identidade cultural e que fosse bom de marketing. Veio o veredicto final - Festival de Música da Chapada do Corisco e, como já estávamos chapados de cerveja, veio o subtitulo, chapadão. Assim nasceu o Festival de Música da Chapada do Corisco-Chapadão.

Para viabilização econômica do projeto contávamos com o bom transito de Henrique junto ao então secretario de finanças da Prefeitura de Teresina, Dr. Firmino Filho, por sinal, hoje prefeito da capital. Foi batata. Lançado o edital do festival a área musical de Teresina abraçou a ideia de uma forma surpreendente. Grandes músicos e compositores, cantoras e cantores piauienses participaram do Chapadão, que teve sua primeira edição em maio/junho de 1995.

Bairros como Mocambinho, Dirceu Arcoverde, Parque Piauí, Bela Vista, Piçarreira, Ininga e tantos outros receberam  o evento com festa em praça pública ou nos ginásios poliesportivos. Lembro de nomes consagrados de nossa música que participaram ou foram descobertos pelo Chapadão, como Rubinho Figueredo, Marlon Rodnei, Ostiga Junior, Paulo Utti, André de Sousa, Frank Farias; com shows nos intervalos de Gabi, Terra Francisco, Ensaio Vocal, Miriam Eduardo e tantos outros.

Passados mais de dezoito anos o Chapadão mudou de formato, foi muito modificado, mas ainda continua um grande festival e bastante significativo para a descoberta de talentos na área musical. Neste ano de 2012, eu, Aurélio e Henrique recebemos, no final de sua 18º Edição, realizada no Teatro de Arena de Teresina, uma placa comemorativa pela criação do evento, entregue pelo Presidente da Fundação, o músico e advogado Marcelo Leonardo e pela coordenadora de música, a cantora Luciana. Temos orgulho de algumas coisas na vida. Ter participado da criação do  Chapadão é uma delas.



Ací Campelo,
23 de dezembro de 2012
via blogue do autor

13.4.23

O GÊNIO INDOMÁVEL DA CHAPADA DO CORISCO, por Edmar Oliveira










Arnaldo Albuquerque foi um multiartista irrequieto da geração teresinense dos inesquecíveis anos 70 do século passado. Na primeira história em quadrinhos do Piauí, o fabuloso álbum Humor Sangrento, experimenta vários traços em histórias que destruíam mitos locais, como se procurasse um estilo que merecesse sua assinatura (e são todos surpreendentemente extraordinários). Na capa do álbum, num autorretrato, ele fuzila os super-heróis americanos dos gibis de que era colecionador. Também é dele as primeiras charges políticas que adornavam editoriais e colunas de opinião na imprensa local.

Irrequieto, sua vida se confunde com a sua arte. Numa moto, desafiava a velocidade, os padrões da cidade careta, enfrentando os fantasmas dos seus desenhos, como se fosse um Dom Quixote a perseguir moinhos das convenções mafrenses em que não cabia. Um acidente lhe deixou paralisado numa cama por vários meses. E foi nessa parada forçada que construiu um artefato para fotografar esboços e delineações que resultou no primeiro desenho animado da província: Carcará, recuperado e restaurado por alunos da UFPI, recentemente.

Um fotógrafo talentoso saltou para a câmera super-8 e responde por quase todos os filmes de cinema daquela geração, incluindo o Terror da Vermelha. Também os primeiros filmes de cinema da chapada. Um pioneiro designer – antes do nome identificar o artista – acertou no logotipo de vários suplementos culturais em jornais locais e responde pela fantástica capa do jornal O GRAMMA, que nomeou a nossa geração.

Uma vez, o que chamamos hoje de multimídia, mas que não era nomeado à época, fez o busto de cada um de nós em gesso e colocou em locais estratégicos da cidade verde com um porrete e um cartaz: quebre! De longe filmava a reação dos passantes. Uns riam, outros coçavam a cabeça e outros quebravam mesmo. Não se sabe por onde andam esses registros.

No primeiro espetáculo musical em casa de show no Piauí, UDIGRUDE na Churrascaria Beira Rio, Arnaldo fez um maravilhoso cenário para o espetáculo.

Muito mais teria a contar. Mas vejo entrelágrimas aquela figura polêmica, provocadora, que chocava com suas frases cortantes e desconcertantes, “que só tem mamãe, pelanca” cantando o estribilho da música de Caetano. Uma saudade me invade, dele e da época em que pintamos e bordamos na Teresina de então.

Arnaldo foi fotógrafo, chargista, quadrinista, desenhista, cinegrafista, cineasta, coreografo, ficcionista, poeta e pintor.

O mais talentoso de nossa geração muito produziu, mas depois destruiu a obra enquanto destruía a própria existência. Pouco se tem dele ainda. Aquele talento irrequieto merece que nos ocupemos em reunir o que de seu gênio está perdido por aí. É preciso reconstituir sua obra para fazer lembrar o artista que tentou que nos esquecêssemos dele.

Nesse momento ele faria 70 anos, quando se comemora 50 anos da geração GRAMMA no capim mafrense. A Chapada do Corisco deve procurar esse relâmpago artístico que brilhou no azul do céu num raio inesquecível.



Edmar Oliveira, psiquiatra, aprendiz de escritor, membro da Geração Gramma, amigo, parceiro e admirador do maior talento que conheceu em terras mafrenses.
Texto escrito para uma exposição no aniversário de Arnaldo, mas que não houve.
Publicado no blogue do autor, em 26/07/2022.



1.8.15

RIO ENCANTO, Abdenaldo Rodrigues


Entre o céu e a terra, o mistério: o rio que corre torto, carregando no lombo a sina. Na Chapada do Corisco, comentários não faltavam. A cabeça, grande e lodosa, emerge em noites de lua cheia nas águas barrentas do Parnaíba. 

Na beirada do rio, um pé-de-cujuba. Debaixo, a curiosidade remoendo.

Primeiras noites de fevereiro, caiu chuva de matar sapo afogado. O rio está cheio – geme no meio da madrugada. A cidade dorme sob a lua clara. Só não dorme a curiosidade.

Perto do rio, no casebre de palha, mora a madrinha. Preocupada, alertou:
- O rio tá gemendo, Da Paz. Vamos ter afogado por esses dias. Espere só e me conte.

Debaixo do cujubeiro desfolhado, a curiosidade não tem jeito, remói que queima.
- Tu acredita no Cabeça-de-Cuia, Genésio?
- Ora, deixe de bestice, Da Paz... Isso é conversa de gente tola.

Genésio também mora no casebre. É enteado da madrinha. Tem esquisitices: gosta de beber ovo na casca; quando fica nervoso, esfrega as costas das mãos nos lóbulos das orelhas. Não larga do pé de Da Paz.

Na tarde quente, o rio desce dolorido e feroz. A curiosidade entranhada aumentando, remoendo. Remói tanto, que não se dá conta da mão escorregadia de Genésio, apalpando as pernas roliças, o sexo latente. Mas Da Paz é arisca e pula lá!

- Pára, Genésio! Se não conto pra madrinha.
- Ora, deixe de bestice, sua tonta. Não vai me deixar no ora-e-veja, não!

Correu, correu, correu... Da Paz não é tonta, é arisca. Quieta, no refúgio do emaranhado de galhos finos e desfolhados, vidrava os olhos nas águas sedutoras.

No casebre, a madrinha no mesmo agouro: “Vai morrer gente, esperem só pra ver!”

No outro dia, à tardinha:
- Boca-de-forno!...
- Forno!...
- Se eu mandar!...
- Vá!
- Se não for?...
- Apanha!
- Remando, remando, remando... Quem tirar uma cujuba do cujubeiro da beirada do rio!

Correu, correu, correu... Da Paz é arisca.

O cujubeiro, árvore velha e torta, de poucas folhas e cujubas grandes, que mais pareciam a cabeça do Genésio. Lá, a curiosidade remoia que doía no juízo.

Genésio é calado. Não fala sobre o encanto. Foi encontrado detrás do galinheiro, bebendo ovo de pata. Da Paz não resistiu e perguntou:

- Quem plantou, Genésio, quem plantou o pé-de-cujuba na beirada do rio?

Esfregando as orelhas com força, Genésio fugiu da pergunta:
- Ora, deixe de bestice!

O Parnaíba – rio dos gemidos e dos segredos. Lá, o mistério. Êta lugar pra sumir Marias! Redemoinho que traga, mão que puxa... Tantas já se foram: Das Neves, Da Cruz, Do Amparo... Todas creditadas ao Cabeça-Encantada.

A madrinha sabia do perigo. Não descuidava:
- Não vá pra beirada do rio, Da Paz! Tá cheio e as barreiras tão frouxas.
- Tem nada não,madrinha, fico de longe!

Que nada, de longe não tem graça nenhuma. Precisava saber.

(Já se foram quantas?)

- E a Dos Santo, hein Genésio?
- Ora, aquela lá não sabia nadar, não!

Muito vivente tinha visto a cabeça grande e lodosa – em forma de cuia. Era o estranho morador do Parnaíba – guardião das águas e terror das Marias puras. O ingrato matou a mãe. A velha, na agonia da morte, ainda teve forças para jogar a praga certeira – a praga das sete Marias virgens.

(Amaldiçoado do filho que bate na mãe!)

- Já se foram quantas, Genésio?...

Na boca-de-noite, do dia seguinte:
- Um, dois, três... quatro, cinco, seis! Quem chegar ao pé-de-cujuba por último foi o Crispim quem fez!

Correu, correu, correu... Da Paz é arisca!

- Ora, deixe de bestice, Da Paz. Pro rio não vou, não.

A madrinha dorme. O rio geme – desce revolto na chapada. A lua alta e clara... Clara, que do cujubeiro a curiosidade vê o redemoinho se fazendo.

Na manhã do outro dia, a madrinha pressentiu:
- Cadê a Da Paz, Genésio?
- Ora!...


Abdenaldo Rodrigues
em Amálgama #3 (revista) 
Teresina, maio de 2002

5.4.20

Os vareiros do Rio Parnaíba, tema esquecido pelo Piauí, por Jorge Baleeiro de Lacerda


Em 1977, durante uma semana, estive em Parnaíba, Piauí, a que voltei outras vezes. Dessa feita, uma das figuras que conheci e com quem fui à Pedra do Sal foi o jornalista e escritor Raymundo de Souza Lima, que estudava os vareiros, os porcos-dágua, no dizer popular, do Rio Parnaíba, homens que passavam, com varões de até oito metros, as embarcações que faziam o trecho entre Terezina e Parnaíba, no tempo áureo da carnaúba, do babaçu e do couro.

Raymundo de Souza Lima, na praia da Pedra do Sal, costa do Piauí em janeiro de 1977

Até hoje, o Piauí ainda não publicou uma obra de peso sobre os vareiros, embora M Paulo Nunes, do Conselho Estadual de Cultura, tenha se dedicado muito a temas piauienses em sua revista Presença, publicada pelo CEC.

Lembro-me do carinho com que Raymundo de Souza Lima tratava o tema, que conhecia tão bem por tê-lo vivenciado nos anos 30 e 40.

No clássico Beira-Rio Beira-Vida, de Assis Brasil, o tema não é abordado, apenas faz referências. O assunto central é a prostituição, vida mundana à beira do rio que banha a cidade de Parnaíba.


Recentemente sugeri ao deputado federal Hugo Napoleão (que não foi reeleito, interrompendo 40 anos de vida pública) que publicasse pelo seu gabinete um livro ou uma plaquette sobre os vareiros do Rio Parnaíba, mas acho que não apareceu ninguém interessado em abordar o tema nem foram achados os apontamentos de Souza Lima.

Quando vivo, perguntei a Fontes Ibiapina, um dos mais notáveis escritores, por que não abordava o tema. Disse-me que lhe faltava experiência ribeirinha, convívio com o Vello Monge (o Parnaíba). Era do interior do Piauí, não da beira do rio, daí o seu desinteresse pelos vareiros, mas não descartava a possibilidade de uma dia escrever. Não teve tempo.


Oxalá a Prefeitura de Parnaíba e seus amigos da extinta Folha do Litoral, do saudoso Batista Leão, achem o manuscrito de Os Vareiros do Rio Parnaíba para que a cultura do Piauí ganhe esse estudo sobre um dos tipos mais tradicionais, hoje esquecido, pelo conselho de cultura do Estado de Da Costa e Silva. Fica o lembrete para Cineas SantosM Paulo Nunes, baluartes da cultura na velha Chapada do Corisco.


Jorge Baleeiro de Lacerda
Coluna BRASILIDADE PARANISMO SUDOESTE
Publicado originalmente em 31/01/2015 08:45, via

5.4.14

CORAÇÕES DA TERRA, por Menezes y Morais




...

compadre salgado maranhão
destrói do teu cérebro essa ideia suicidade

q os trabalhadores te querem em luta
i a poesia te quer vivo
nesses tempos de anistia ampla
y corações restritos

...

nossos amigosão pessoas bonitas
na dimensão da fala dialética grito
o cineas vem de uma gleba seca com a
água de sua ternura
o william se fez poeta engajado pra
alegria da poesia
o eduardo não acredita no amanhã pra
desespero de mais um dia
todos lindos
todos livres na prisão do dia
nesses tempos de anistia ampla
y corações mesquinhos

o arnaldo albuqueque
o fernando s. costa
o albert piauí desenham os sóis dessas noites frias

armadas de fuzis e bombas de hidrogênio

(aquelas q matam os homens e
conservam intactas as propriedades do rei)
e o luiz bello afirma que precisamos
criar o ministério da paz
e o povo bebe tanta pinga e fuma
tanto medo só pra ter coragem
nesses tempos de anistia restrita
e corações gerais

a marleide
cabelos dourados baloiçando

ventos do céu

dessadjetivada democra-
                                cia mina dos olhos
                                  imperialistas

a beth rego
o rubervam du nascimento a profissão dos peixes
no tempo
o sussurro o grito o homem da rua
timon a voz do trovão
a ana miranda a rosinha lobo as cores
dos sonhos
o pólen do sol
o zémagão

viajamos na constelação de vênus e foi tão bonito
e até hoje nos amamos e acreditamos
na decadência final
de tudo a-kilo
e eu sou um sol e vou parir um crepúsculo

nesses tempos de anistiampla
y corações aflitos

o chico casto de camisaberta
na filosofia do tiro
a leila a homeopatia
memórias da ilha do fundão
postais do paraíso
a ednólia fontinele o bernardo silva
o arimatan a elnora o teotônio do sax
o zeferino alves neto a rosa o sales
herculano moraes o pds
o chico miguel de moura o universo das águas
o emerson araújo
a janete dias baseada na era
o candeia o varanda o fruta madura
as asas do rubens costa
a vida operária
a canção permanente
raimundo alves lima
o clebe montezuma o kenard kruel a
pedra do sal
o fred maia da gota serena brilhando tranquilo

o antônio nobre (da dilertec) resiste na sua
dignidade branca
e o contista pedro celestino
conhece a história dos incêndios das
casas de palha
terror burguês em teresina
o wilton santos da cerca de arame do diadema e
do caco de vidro
a comadre nazaré leite desaflitadeolhosaberto
acampomaior
o otacilomendes
amaria da Inglaterra
o sal o suor
o repente o oriente
a verdura da terra
e na
        praça pedro II
os jornais a televisão e as revistas
informam q o mundo vai mal
o erlich cordão o jamerson lemos a poética
da necessidade
o paulo moura o wellington careca o
joão evangelista
o preço da liberdade
a eline menezes
o geilbert chaudanne
pássaros
terra do sol
     conquistada
o ubirajara dias (biroca) o genésio
araújo (tlinta e tlês)
o júlio pança o leo

o diário do piauí foi um jornal apaixonado
o beto pirilampo a rosilândia a sulika
a cultura orgânica
oroque moreira e seu gosto na berlinda
o fabio ator
o fim do mundo início de tudo é cedo ainda
e a dora parente luta pela felicidade
geral trabalhada
a coragem pra suportar os ataques
epilépticos do sono
o élmar carvalho poeta da vila e da liberdade

o j. barros o feitosa costa o heyden cunha
o raimundunho da medicina
sonhacom as transformações da espécie
e vive pela materialização do sonho
e a gildes silveira fala da cidade
grávida de sol e de fome
e o poeta hardi filho acredita
                                              o amor
é o pão que faz o homem
e o joão batista e a sandra almeida o tarciso
                                                                  prado
                                 
                               o sol no zênite
a dor de ser feliz q nos consome
o domingos bezerra
a rosa rubra sorrisonhos
fiapos de canções regados a cerveja
praça da liberdade
enquanto o império fatal marcha lento
pro necrotério do hospital
getúlio vargas
nesses tempos de anistia restrita
y corações de neocid
...
o gérmen da vida a força latente a
corrente do meu coração
o fábio torres a laranja partida ao meio
o laurence o eneas o providência o
pierri baiano o pão de centeio
parcelle eugênio o victor martins o
paulo pelicano
o assis linhares e o feitosa lit a mareília
o coqueiro o caetano
o santana e silva o teatro de rua
antes do golpe de 64
o geraldo borges e a história em
quadrinhos
lida no bar do gelati
quando a avenidatinhamais serafins
o zé afonso a opressão a guerra dos cupins
o ocimar barbosa o josemar nerys
          filhos do povir
o celso teodósio patrício
o zé o zé de luna a marieta a zuita o nael
          as meninas mocinhas-em-flor
a socorro magalhães a nonata o jacinto
a socorro araújo
o ar o gesto o laço o fato concreto
sonhos d'esperança
a certeza de que só existe q não foi criado
..........
pássaros-paisagens e botboletas
brincam no azul de altos
o bairro piçarra o ginásio álvaro fereira
              o cabaré da maroca
o maestro luiz santos a neguinha o
marquinho a mary o zaquee
o primeiro e o segundo amor a política estudantil

a sinuca a ternura da "tia" maria
solar estrelado
onde a gente se reunia messes tempos
de anistia
y corações do amanhecer
o chico alberto
o o.g. rêgo de carvalho a estrela azul
no céu da tarde

o wellington mendes a joana o iago
o exemplo luminoso: a solidariedade

o padre pedro maione
o padre sandro
o padre costinha
o pão o ecangelho a encarnação do verbo

o preço da vida
sabor dovinho
um camponês deseja a terra e a chuva
explode em flôr
o merlong nogueira o fonseca a travessia
o wellington o dce livre o me autônomo

a fufpi sitiada
o antônio josé da livraria punaré
a guerra do jenipapo a chapada do corisco
as sete cidades
teresa cristina
o deusdeth nunes a "mãe" ana o
mingau dos astronautas
os pastéis da maria divina
e a cervejinha bem gelada da maria tijubina

sol a pique
luadentro
viver teresina

...



Menezes y Morais
Teresina 150 anos (fascículos do Jornal O DIA)
Teresina: 2002


22.10.13

O SUCO DO ABRAHÃO, por Wellington Soares





Quando criança, minha obrigação semanal era ir à novena com dona Mundica, ali na Vila Operária, zona norte de Teresina. Toda terça-feira, se a memória não me trai, estava eu lá, cercado de santos e anjos, aprendendo que melhor do que os pecados cometidos é a sensação de leveza do perdão alcançado. Em troca, exigia apenas algumas moedas para comprar uns picolés Amazonas e uns poucos alfinins, chantagem aceita e cumprida rigorosamente por mamãe, mas só atendida após a celebração religiosa. Com o espírito confortado e o corpo alegre, retornava feliz para casa, saboreando cada um daqueles momentos com incontido prazer. Já deitado na rede, pensava, mesmo não conhecendo ainda Bandeira, que a noite podia descer, a noite com os seus sortilégios.

Agora, sem compromisso e por vontade própria, troquei as novenas de outrora pelos refrescos deliciosos do mestre Abrahão, situado nas proximidades do Instituto de Educação. Toda semana apareço lá, como um montão de gente também, para assinar o ponto: tomar um refresco - que de tão espesso parece mais um suco - e comer um pastelzinho caseiro. Dos sabores, prefiro os de cajá e bacuri, sem igual e que nos levam aos céus. O de abacate é bom nem falar, covardia pura, o negócio é tomar aos poucos e devagarinho, lambendo os beiços e pedindo mais outro. Para quem está resfriado, ou precisando de um reforço no estoque de vitamina C, a casa prepara um suco de laranja no capricho, feito ali na presença do freguês, com mel de italiana usado como açúcar. Na hora do prejuízo, depois de ter enchido a pança, é quem vem a parte melhor de tudo: uns nadinha de reais, um ou dois, com direito a troco ainda, "muito obrigado" e "volte sempre".

E não é que volto mesmo!?, na primeira distração das pelejas do trabalho, estou lá novamente, esperando a vez de ser atendido, não só para saborear os refrescos, mas, sobretudo, as palavras de sabedoria do mestre da Rui Barbosa com a Manuel Domingos. Com a invejável experiência de vida que tem, ele nos serve gratuitamente, apesar da pouca escolaridade, lições importantes de humildade, dedicação e amor ao próximo. Através de cartazes afixados nas paredes do comércio, Abrahão da Silva Gama - o popular ASIGA -, este maranhense de São João dos Patos que reside em Teresina há mais de cinquenta anos, planta nas retinas das pessoas mensagens perturbadoras e educativas, difíceis de esquecer pelo humor sarcástico e engraçado que destilam: "Prove que é orelhudo, preferindo um refrigerante de 1 real e renunciando a um suco por apenas 75 centavos". Ou, então, aquela dirigida aos que têm a mania de consumir sem querer pagar, tentando sair de fininho e sem dar na vista: "Pagar antes está na moda e virou samba! Siga o ritmo e receba nosso agradecimentos".

O mais impressionante, acreditem, é que os preços e a qualidade permanecem, ao longo dos anos, quase sempre os mesmos, um tantinho de nada e uma gostosura que só provando. Com ou sem crise econômica, a clientela festeja e solta foguetes. Todos entram e saem dali com a barriga contente e o bolso satisfeito. Um ambiente, aliás, bonito de se ver e estar, com as mais distintas classes e raças harmonizadas pela fome de comida e saber, instante sublime porque guarda algo de misterioso e primitivo. A imagem comovente de homens e mulheres unidos em torno do sagrado alimento da caça e das reflexões existenciais, que os fortaleciam enquanto comunidade ávida de desbravar as naturezas em geral, sem as distinções ainda absurdas e inaceitáveis que surgiram depois.

Sempre que converso com Seo Abrahão, a quem chamo respeitosamente de mestre, me vêm à lembrança os versos antológicos de Bertold Brecht, nos quais o poeta e dramaturgo alemão exalta os que transformam a vida em uma permanente e apaixonada luta, não só no campo político como em qualquer atividade abraçada com amor e determinação: "Há aqueles que lutam um dia, e por isso são bons; / Há aqueles que lutam muitos dias, e por isso são muito bons; / Há aqueles que lutam anos, e são melhores ainda; / Porém há aqueles que lutam toda a vida, esses são os imprescindíveis". O mestre Abrahão pertence, sem dúvida e na opinião de todos que o conhecem, ao seleto grupo dos que foram escolhidos e vieram com a nobre missão de serem imprescindíveis. Ainda bem que - para nossa eterna e grata felicidade - ele desembarcou por essas bandas da Chapada do Corisco, e acabou se tornando um dos nossos mais queridos e legítimos filhos.



Wellington Soares
Por um triz 
Teresina: Fundação Quixote, 2007

10.11.13

Cineas Santos - síntese biográfica




Cineas dasChagas Santos (20/09/1948) nasceu em Campo Formoso, município de Caracol, sertão do Piauí. Poeta, cronista, intelectual, professor, agente cultural, advogado, editor e livreiro. Pertenceu ao Conselho Estadual de Cultura. Desde 1965 vive em Teresina, capital do Piauí, onde desenvolveu trabalho de agente cultural, atuando em diversas áreas, há décadas exercendo atividades no cenário artístico-cultural local. Em 1976/1977, fundou, junto com o poeta Paulo Machado e outros companheiros de geração, o jornal alternativo “Chapada do Corisco”. Proprietário da Corisco (livraria e editora), publicou vários autores piauienses. Professor de Português e Literatura de várias gerações de estudantes piauienses. Foi um dos idealizadores e organizador do SaLiPi (Salão do Livro do Piauí), evento que anualmente reúne livreiros, editoras e público leitor em torno a diversas atividades culturais, palestras, debates, oficinas e exposições. Também é proprietário da Oficina da Palavra, espaço cultural teresinense, e coordenador do grupo A Cara Alegre Do Piauí, projeto de interiorização da cultura – música, literatura e artes plásticas. Autor da letra do Hino oficial de Teresina, em parceria com o músico Erisvaldo Borges, que compôs a melodia. Apresenta (desde 10 de maio de 2009) o programa televisivo intitulado “Feito Em Casa“, sobre literatura, arte e cultura centradas na realidade local piauiense. Bibliografia: Miudezas em geral (poesia); Tinha que acontecer (contos); ABC da ecologia (cordel); Aldeia grande (humor); O menino que descobriu as palavras (infantil); Nada além (poesia) e Ciranda desafinada (infantil), entre outros.

21.3.20

Geraldo Brito e a história da música no Piauí: entrevista, por Laís Lustosa


"O #Abraçaço chega em Teresina, Piauí.
Na foto, com o poeta Geraldo Brito em Teresina, em 1979"
Fonte: Caetano Veloso via Facebook

Geraldo Brito é uma pessoa de múltiplos talentos: violinista, guitarrista e arranjador desde a década de 1970. Ele fez a primeira versão de Go Back, de Torquato Neto e traz muitas influências de jazz e blues. É professor de violão e guitarra da Escola de Música de Teresina desde 1984.

O senhor acha que o piauiense tem consciência da história da música do Piauí, dos anos 60 pra cá?

G: Não, não tem. Hoje ninguém tem. Eu acho que agora, a partir da década de 2000, houve essa procura, está se formando mais essa coisa do apanhado histórico. A faculdade resgatando, os alunos indo atrás. Eu acho que a partir dessa década de 2000 a gente pode retomar isso. Eu quero lançar um livro com coisas que eu escrevi, informações dessas décadas passadas. Nos anos 60, começaram a aparecer os chamados conjuntos, depois passou a ser grupo, hoje é banda. Mas eles estão copiando, tipo cover, faziam uma banda para tocar música que ouviam no rádio. Eu acho que essa minha geração nem se preocupou com isso, bateu essa coisa de fazer tudo autoral, fazer composições próprias.

O senhor acha que os músicos piauiense de hoje tem preocupação em estudar música?

G: Há. Hoje tem mais essa preocupação. Por exemplo, no tempo que eu comecei e outros músicos bem antes de mim não tinham essa facilidade que tem hoje. Hoje você pega uma música que você se interessa, vai ver na Internet, está tudo divulgadinho. Tablatura, partitura, letra, do jeito que você quer. Vídeo aula, por exemplo, os alunos veem exatamente o que os músicos estão fazendo. Então, isso tem proporcionado bons músicos. Hoje só não toca bem quem não quer, basta ter uma inclinação para tocar. A nossa formação era percepção auditiva. Botava o disco com aquelas vitrolas que tinham a rotação 45 rpm. Hoje não, está tudo aí.

Dos anos 70 pra cá, quais foram as principais variações de estilo da música piauiense, que o senhor pode perceber?

G: Quando a gente começou a fazer música, no meio dos anos 60 começou aquela coisa dos Festivais universitários. E só aconteciam no Rio de Janeiro, São Paulo, aqueles festivais famosos onde apareceram Chico Buarque, Caetano Veloso. Mas a partir dessa década surgiram vários em várias outras universidades. E, com essa facilidade, com essa adesão e explosão dos festivais, ficou em alta essas músicas do Fagner, Belchior, Geraldo Azevedo, música mais regionalista. Então nós absorvemos essa informação, de ouvir essa música. A gente fazia muita música mais regional. Aí vieram outras correntes que faziam músicas tipo blues. Tinha a corrente que fazia mais rock’n’roll e corrente que fazia a MPB mais tradicional. Hoje tem pessoas que começaram a trabalhar com xote, com baião. Hoje já tem até maracatu que é um ritmo de Recife, de Pernambuco.

Na sua opinião, quais são os três maiores nomes da música piauiense nos anos 70? E quais são os três maiores nomes de hoje?

G: Eu gostava muito do Cruz Neto, do Magno Aurélio, que é compositor e do Aurélio com o Zé Rodrigues. Esses três eu gostava muito. Hoje, eu estou ouvindo muito as músicas do Wagner Lacerda.  Eu gostei do disco novo, é o primeiro que eu gostei.  Acho legal essa coisa meio nordeste meio rock’n’roll. E tem um disco agora que eu achei legal, de um parceiro meu, chamado Glauco Luz, cantado pela Carol Costa. É um disco muito legal.

Na década de 70, havia uma preocupação de intelectualizar as letras das músicas. O senhor acha que isso aconteceu no Piauí também?

G: Isso era uma coisa geral. Começou com o Geraldo Vandré, Chico Buarque. Isso lá em 68, só veio eclodir aqui nos 70. As músicas da época faziam protestos. Antes de um show, tinha que passar todas as letras e levar na polícia federal. Chegando lá, eles passavam uma semana pra julgar, pra censurar ou não. E na hora do show, aquela música que você mais tinha mais gostado, chegava a hora de tocar e havia a censura. Então isso marcou. Ainda bem que quando foi em 85, na época que o Tancredo era presidente, realmente acabaram com a censura. Apesar de nesse governo terem censurado o filme Je vous salue Marie, de um cineasta francês chamado [Jean Luc] Godard. Foi um absurdo, a Igreja entrou na questão. Viram o filme como algo muito pejorativo e houve essa censura. Mas de lá pra cá não. Semana passada, o Caetano Veloso chamou o Lula de analfabeto. Eu não gostei muito, apesar de eu gostar muito do Caetano. É o outro lado da liberdade de imprensa, coisas que você jamais imaginaria ver ou ouvir nos anos 60 até 80.

O senhor acha que os piauienses não valorizam a música feita aqui, os artistas locais?

G: É. Eu não vejo isso com tanto gosto como eu vejo com a música do Ceará. Você chega lá, toca muito, principalmente nas rádios, universitárias. Por onde eu ando no nordeste, eu vejo que toca bastante. Aqui que eu acho que não. A rádio Cultura toca mais, outras rádios alternativas… Mas, mesmo assim, ninguém se liga muito. Que isso mude, daqui pra frente, que haja mais procura, maior interesse nas músicas. Houve uma lei daquela vereadora, Trindade, na época que era vereadora dela que obrigava as rádios a tocarem 20% da programação de música piauiense.  Mas elas ficaram com raiva e não tocavam na programação normal, tocavam no domingo, num momento qualquer rapidamente. Agora até toca muita música brasileira, mas a música americana é bem mais forte. Mas mesmo assim, as rádios tocam uns forrós que vêm de Fortaleza, e não tocam nada da gente.

Quanto aos recursos técnicos disponíveis para gravação e distribuição da música piauiense, você acha que são satisfatórios?

G: Antes não tinha, mas hoje já tem vários estúdios, como o estúdio do Márcio Menezes, que fica lá na Morada do Sol, é o Bumba Records. Eu, por exemplo, estou gravando um projeto instrumental no estúdio da Rádio Pioneira. Hoje já dá pra fazer isso legal.

O senhor foi contemporâneo de Torquato Neto. Como o senhor avalia a contribuição dele para a música popular local e nacional como um dos expoentes do movimento tropicalista?

G: Eu fui contemporâneo assim, quando eu estava começando a fazer música, ele morreu, de maneira que eu só o vi de longe por aqui. Houve essa aproximação por parte dele com um grupo que estava fazendo jornal. Mas o interesse dele era de gente que estava começando a compor, e o Torquato saiu daqui logo. Tinha conhecido Caetano e Gil na Bahia, e daí surgiu o movimento Tropicalista com momentos muito marcantes naquela fase do Brasil, ao mesmo tempo em que faziam uma ponte com as coisas que estavam acontecendo lá fora, como os Beatles e Jimi Hendrix.

Como foi atuar no cenário cultural piauiense marcado pela censura militar?

G: Na época braba da ditadura mesmo, no tempo do AI-5, ano 68, não tinha ainda ninguém fazendo essas coisas. Quando se começou a fazer música, já estava no governo Geisel, tudo tinha censura. Então foi uma barra muito pesada que se passou. Tinha um jornal chamado Chapada do Corisco que acabou porque era muito perseguido. Se você tivesse um livro vermelho era censurado, tirado de circulação, porque se era vermelho, você era considerado socialista. Cheio de bobagem. Mas aí houve a anistia em 79. Já nos anos 70, o pessoal que tinha sido exilado começou a voltar.

O senhor sofreu algum tipo de represália nessa época?

G: Sofri, como eu já falei, fui censurado pelo governo. Fazia a música, mandava, ensaiva, e na hora eles não liberavam.

Mas eles diziam já na hora do show?

G: Por exemplo, hoje é sexta e o show seria domingo. Eu levo a música hoje, sexta. Liberavam ou não amanhã ou um dia antes. Já é sábado e não tem nem mais como ensaiar coisas novas. Era irritante por isso. Era uma coisa que violava os direitos humanos.

Eu vi que o senhor é formado em Administração pela UFPI. Por que o senhor resolveu seguir a carreira musical e não a carreira de administrador? O que pesou na escolha?

G: Eu comecei a compor em 72. Quando foi em 74 eu passei no vestibular. Foi uma época que a faculdade era uma coisa muito valorizada, todo mundo tinha que fazer. E eu também tinha interesse. Eu gostava de economia, queria entender economia, mas não tinha. O que mais se aproximava, onde a gente estudava teoria econômica, era administração. Não tinha nem o curso aqui, eu tive que fazer em Parnaíba, no campus da Universidade Federal. Quando eu estava no terceiro ano, a música já começou a ser algo muito forte. No terceiro ano, passei no vestibular para música, mas tinha que terminar administração. Mas a música me pegou mais de uma maneira muito forte. Hoje, não que eu me arrependa de ser músico, mas eu queria ter visto as coisas por um outro lado mais racional.

(...)

Geraldo Brito entrevistado por Laís Lustosa (laislm@hotmail.com)
Publicado originalmente em Entretenewsmento

29.10.11

BAIRROS DE TERESINA: I - CAJUEIRO, Jônatas Batista


É, talvez, o bairro mais alegre de Teresina.

Quando "Dona Tristeza", no seu penoso lidar, vai espalhando por todos os recantos da velha Chapada do Corisco, carradas de bocejos e cargas de espreguiçamentos, o pessoal dos Cajueiros dança, folga e se diverte a valer.

Nas noites de sábado, então, é um gosto a gente passear pelas ruas tortuosas do ensombrado teresinense. Cinco, oito, dez, doze saraus, pelo menos!...

Também é a coisa mais fácil deste mundo promover uma destas festas, umas dessas importantes soirées, a que o povo dá o título humilhante e expressivo de forró. É assim: três ou quatro pares, um tocador de harmônica ou sanfona, umas três garrafas de aguardente e o clássico e infalível e obrigatório panelão de panelada, a ferver, mesmo a um canto da pequena sala onde se dança, fazendo, com o seu bufar constante, um insuportável dueto com as notas enfadonhas da orquestra reles. Nada mais. Está feita a festa; está pronto o baile!... E assim, os bem aventurados habitantes dos Cajueiros - a república independente - como eles envaidecidos denominam o seu bairro, passam "vida santa e milagrosa", dançando, comendo panelada, fumando, bebericando aguardente, até alta madrugada, quando a festa não é interrompida no meio, por algum ruge-ruge de cacetes, ou tilintar de punhais...

Não raro, alguém se lembra dos velhos tempos e, então, o samba - o samba como outrora se fazia - impera, vaidosamente, por algumas horas, em pleno coração do alegre e pouco reconhecido recanto teresinense.

"Nas cordas desta viola
Vive um canário a chorar...
Saudade de quem se foi,
De quem não torna a voltar..."

E a viola soluça, geme e ri, enquanto uma nuvem de fina poeira se eleva no ar, ao doido sapatear de cabras turunas e morenas formosas.

É ali, nos Cajueiros, muito perto da nossa bem amada "cidade verde", que a gente tem a impressão de estar a duzentas léguas de Teresina, no centro dos sertões piauienses, onde a bucólica e feliz simplicidade dos corações se junta, se irmana, num abraço estreito e carinhoso à alegria estonteante e provocadora das almas despreocupadas. Não fosse o soldado de polícia, um tão assíduo frequentador daquelas rodas, e a impressão seria ainda mais perfeita, mais completa.

"Minha viola de pinho
Tem alma e tem coração,
Tem amor e tem carinho,
Tem canseira e tem paixão".

Oh! Os cajueiros... Como todos os bairros que se prezam, ele tem também a sua história própria, as suas lendas, as suas superstições.

Ainda há bem pouco tempo, o velho Chicão, um feiticeiro afamado daquelas bandas, contava-me um fato curioso e interessante, a propósito dos "anjinhos" - o abandonoado cemitério onde eram sepultadas todas as crianças que morriam naquelas redondezas, sem nenhuma das formalidades exigidas por lei.

- Mas como foi lá o caso do pagão? Perguntei ao preto velho que me deixara entrever, através de suas reticências e meias-palavras, alguma estória assombrosa, inconcebível.

- Foi assim patrão...

E começou:

- A Mariazinha era mesmo uma cabocla de fazer água na boca... Bonita até ali... Não fosse a bondade que sempre me carregou, a gente poderia bem compará-la a Nossa Senhora de Lourdes. Ela, porém, sempre orgulhosa, nunca fez parte do povo da sua laia. Queria ser muito boa, muito fina, e só dava ouvidos aos brancos, aos mocinhos de gravata e correntão. Até mesmo o Zeca Pagodeiro, seu parente perto, rapaz trabalhador e valente, que tanta vontade tinha de casar com ela, nunca foi assuntado. Vai, se não quando começou a passear, por estas bandas, o seu Joãozinho, do coronel Tavares. Era um rapagão bonito, de olhos azuis e cabelos louros. O namoro foi logo rasgado e sem mais cerimônias. Abraços, boquinhas, apertos de mão eram cousas que eles trocavam para todo mundo ver, sem vergonha e sem acanhamento. Em pouco tempo já o povo murmurava que a Mariazinha estava pejada... A velha Miquelina, em casa de quem foi ela pedir uns tamarindos verdes, foi a primeira a dar com a língua nos dentes. Uma cousa eu mesmo notei, e foi que a Mariazinha andava triste, amarela, com os olhos fundos, e tão esquecida de tudo, como se não fosse criatura viva. Seu Joãozinho já lá se tinha ido pra estranja, ela própria me contou, uma tarde, sentada aí na raiz deste cajueiro, onde o patrão está encostado. Foi acabar os estudos, se formar em doutor. A pobre rapariga cada vez se amofinava mais. Uns diziam que era de saudade do namorado, outros afirmavam que era mesmo filho... O tempo foi passando; o povo foi esquecendo; já ninguém falava mais em tal cousa quando, numa noite, ouviram-se gritos medonhos, uns gritos feios que faziam levantar os cabelos e apertar o coração. Correram todos; e também corri... Era a Mariazinha quem gritava, como uma doida varrida, estirada-no chão, a estrebuchar, com os olhos vidrados: "Meu filho! meu filho!!... não foi batizado... Está aqui chorando...". E apontava para o canto da casa, que é justamente onde hoje é o cemitério. A criança (neste ponto o preto velho tossiu, tomou fôlego) chorava como se estivesse morta de fome...

 - Que criança?

 - O filho da Mariazinha, o que ela havia morto ao nascer, e enterrado sem que ninguém soubesse.

E reatando a estória:

 - Ninguém viu o menino, mas o choro, que vinha do fundo do chão, toda gente ouviu. Também nunca vi tanto medo. Ninguém quis se aproximar. Eu fui me achegando e, assim que acabei as palavras: "Manoel, eu te batizo, em nome do Padre, do Filho e do Espírito Santo", fazendo, com um ramilho verde, uma cruz mesmo em cima do lugar, o choro acabou de vez...

- E a Mariazinha: - perguntei curioso.

- Morreu daí a três dias, espumando pela boca que parecia (Deus me perdoe) uma cadela danada.

- E depois?

 - A casa caiu; A velha Ricardina, a mãe da outra que estava entrevada há muitos anos, também morreu, e o povo passou a enterrar os inocentes neste lugar. Por isso é que ainda hoje se chama "anjinhos".

 E o velho Chicão se despediu, e lá se foi, rumo a sua toca, transferida para a Vermelha poucos dias depois daquela noite mal assobrada...

Como vêem, os Cajueiros tem também a sua poesia, a sua lenda, aliás bem interessante.

(Do "Correio de Teresina", de 21-07-1913)


Jônatas Batista
em Prosa e Poesia 
Teresina: Projeto Petrônio Portela, 1985

2.9.14

THERESINA, Geraldo Borges


Theresina. Chapada do Corisco. Por enquanto um passeio por tuas ruínas, cortes trilhos vias férreas trem na linha uma parada na estação esplanada um encontro em uma antiga esquina velhos tempos assombração para-raios trovões poty velho cadeia velha catanã cabeça de cuia morro do querozene morro do urubu morro da jurubeba cajueiro barrocão pacatuba memorare matadouro maria sapatão maria xerém manuel avião ou manelão cinema poeira jaime doido nicinha pedro cabeção geraldo come gente bibelô não se pode porca do dente de ouro braguinha vermelha do laurindo piçarra casa amarela rua paissandu quitadinha clube dos diários footing na praça pedro segundo gelado no mercado velho na banca de seu paulirio rosa do banco rio parnaíba casa dos sete tabacos estrada do gado cruzeiro seu caçula sua garapeira padeiro de madrugada leiteiro com seu leite batizado burro jumento caroça galinha caipira beiju de tapioca água de pote em caneco de alumínio areado mata-mosquito com bandeira amarela na porta campo de aviação feira de amostra ilhota catarina matinha mafuá maria tijubina palmerinha estrela glória beco do alberoni maria da inglaterra vapor gaiola fiação baixa da égua palha de arroz tabuleta alto da moderação capelinha de palha lucaia ônibus da macaúba tá na boca gregório pirajá santa rosa pipira sabiá banana passada em quibane para secar zezé leão bar imperial teresina cajuina por enquanto tens outra arquitetura novas paisagens e outros personagens de teu nome tiraram o H que era mudo mas me fez cantar.


Geraldo Borges
via Piauinauta

24.10.18

DE VOLTA À CHAPADA DO CORISCO, Geraldo Borges



Domingo. Dia nublado. Bom para um passeio. Pego o ônibus à frente do hospital da Primavera, bairro onde moro, há mais ou menos três quarteirões distante de minha residência. Não demorei muito. Logo que cheguei o ônibus passou. Embarquei. Dei bom dia ao motorista e sentei em uma cadeira, ao lado da janela, reservada para pessoas idosas, senti a brisa suave da manhã. O ônibus não estava superlotado como sempre acontece durante a semana de expediente. As pessoas exprimiam um ar mais relaxado. Nenhum passageiro estava em pé. Pela fisionomia das pessoas não havia ninguém apressado.

Era domingo. Notei algumas pessoas com a bíblia na mão. O coletivo flui bem pelas avenidas. De vez em quando um passageiro tocava a campainha para avisar que ia descer na próxima parada. Enquanto isso eu me distraia olhando os transeuntes que passavam pelas calçadas, e observando detalhes em seus movimentos. Da Primavera ao Pro Morar, o conjunto habitacional para o qual eu estava me dirigindo o ônibus gasta uns cinquenta minutos. Atravessa o centro da cidade, passa pela Piçarra, o Parque Piauí, e finalmente chega ao Pro Morar.

Ao entrar no conjunto, já perto do ponto onde eu teria de descer, o motorista parou sem nenhum sinal anunciado, e deixou o carro ligado. E desceu para a rua. Atravessou o meio fio, subiu a calçada e entrou em uma farmácia. De repente me lembrei de um personagem de um romance de Carlos Heitor Cony, que, no papel de motorista, abandona o seu ônibus e deixa os passageiros a ver navios. Perguntei a pessoa que estava ao meu lado, se ele tinha ido mijar. Ela respondeu: foi comprar remédio. Quando íamos dando continuidade ao diálogo ele apareceu. Continuamos a viagem. Pedi o cara da catraca que passasse o meu cartão. E avisasse ao motorista que eu iria sair na próxima parada. Dito e feito. Quando chegou no ponto eu desci.

Em menos de cinco minutos eu estava na porta de minha comadre. Antes que eu me esqueça, levava embrulhada em papel jornal dentro de uma sacola de pano, uma garrafa de vinho. Subi a calçada, que é bastante alta e não tem degraus. A porta da casa estava fechada. E não tinha combinado a minha visita com a minha comadre. Estava me ariscando. Toquei a campainha várias vezes, e nada. Cansei. Só os gatos ouviram. A casa dela está cheia de gatos. A última vez que estive com ela, na volta, foi me deixar, no ponto de ônibus, e encontrou um gatinho abandonado, miando e o levou para casa. Pensei em deixar um aviso escrito na porta. Desisti. Pensei em deixar o vinho dentro do terraço, meio escondido num jarro de planta, também desisti.

Resolvi voltar para casa. Ao fazer o caminho para o ponto de ônibus passei pelo bar e restaurante, onde minha comadre é freguesa, e perguntei por ela. O dono respondeu que ela tinha viajado para a cidade de Colinas, Maranhão, onde meu afilhado, professor de inglês e francês, está lecionando.

Atravessei a avenida para pegar o ônibus de volta para casa. Quando ia chegando próximo ao ponto, avistei o ônibus já saindo da parada. Ia perde-lo. Mesmo assim, dei um aceno, apelando para a boa vontade do motorista; se ele não parasse eu teria de esperar outro coletivo. E com ia custar. Pois aos domingos a frota de ônibus fica reduzida O tempo estava se desnuviando. Para ventura minha o motorista parou, a abriu a porta, e eu entrei. Era o mesmo ônibus que eu tinha pegado antes.

Termino essa crônica pensando, como seu desfecho seria diferente, se a minha comadre estivesse em casa. Ou se eu tivesse brigado com o motorista pelo simples fato de ele ter parado o seu ônibus para comprar um tranquilizante.


15.10.18

Não se Pode, por João Ferry



Quando eu era menino andava em voga
A história da "Não se Pode",
Uma mulher esguia, que de toga
Como um fantasma, à toa, de pagode
Altas horas da noite então vagava.

E quando alguém seu nome perguntava
Invariavelmente respondia,
Com a voz cava e cheia de agonia:
"Não se Pode!" "Não se Pode!"

Era um fantasma esquisito e feio
De estatura comum, mas que crescia
Toda vez que cigarros acendia
Nos lampiões das esquinas e do passeio.

Escaveirada, de carão ossudo,
olhos sem brilho, sem nenhum clarão,
A "Não se Pode" era um duende mudo
Alma penada pela solidão.

Soldados de patrulha da cidade
Uma noite entenderam de segui-la.
Mas a "Não se Pode", como um cão de fila,
Evitava qualquer intimidade.

Suas pegadas no chão jamais se viu

E do velho quartel para o mercado,
Seus pontos preferidos,
Era como um vulto malfadado
Dos mistérios do além, desconhecidos...

E quando uma noite fugia pelo espaço
"Não se Pode" também no seu regaço
Em fumaças de pós se desfazia...

A minha alma também é assim
Se alguém sacode
Os sofrimentos que meu peito esconde
Pressurosa e bem triste ela responde:
"Não se Pode!" "Não se Pode!"



João Ferry
em Chapada do Corisco (1952)
apud A POESIA PIAUIENSE NO SÉCULO XX | Antologia
Organização, introdução e notas por Assis Brasil
Teresina / Rio de Janeiro: FCMC / Imago, 1995


16.10.13

Paulo Machado - síntese biográfica




Paulo Henrique Couto Machado (23-07-1955) nasceu em Teresina - PI.  Advogado. Defensor Público. Poeta, contista, cronista, historiador. Pertence à Geração Pós-69. Ganhou alguns prêmios literários. Na década de setenta, fez política estudantil e editou, ao lado de companheiros de geração, o jornal mimeografado "ZERO". Integrou o grupo responsável pela edição do jornal alternativo "Chapada do Corisco", em 1976 e 1977, em Teresina. Integrou a comissão editorial de literatura da revista Pulsar. Bibliografia: Tá pronto, seu lobo? (1978); A paz do pântano (1982); Post Card (1992). Participou dos livros: Ciranda (1976); Aviso prévio (1977); Galopando (1978); Poesia teresinense hoje (1988); O conto na Literatura Piauiense (1981), entre outros. Fotografia: Paulo Machado por André Gonçalves.

5.11.11

CHAPADA DO CORISCO, Raul Ney da Silva


De um lado o Parnaíba, o grande rio
Das graças, a correr, veloz indigente;
Do outro o Poti, num doce murmúrio
A soltar seu queixume atroz, pungente.

E Teresina, o berço meu macio,
Onde nasceu todo o meu sonho ardente,
Vejo agora através de um balbucio
De saudade que mata a alma dolente.

Ai... noites de luar... São Benedito!...
A igreja a branquejar sobre a colina,
O meu sonho de amor hoje proscrito!...

Noite que amei, ai! Sonhos de outra idade!...
Como que vos quero, minha Teresina,
No presídio sem fim desta saudade!


Raul Ney da Silva
em Antologia de poetas piauienses
Wilson Carvalho Gonçalves (org.) 
Teresina, 2006

15.4.12

TRISTEESINA




luzes azuis cal-
                      cinantes
Vermelha
Cajueiros
Buraco da Velha
Baixa do Chicão
Barrocão
bairros da zona sul
       - de minha infância ...
tapete quadriculado
ruas planejadas na
                Chapada do Corisco:
risco vento balão de São João...
ruas de ruas
                        barros
                                     rocas
 caminhos
                    feitos
                                  (des)encontros
meta-
               morfoseados:
                                            tristes
                                                           resina



Marcos Freitas
em Urdidura de sonhos e assombros
Poemas escolhidos (2003 – 2007)
Rio de Janeiro: CBJE, 2010

24.11.15

A CHAPADA DO CORISCO E SEUS ACLIVES




I


Teres Ina - Teresina florave
aveflor momento e movimento
enigma dos frutos e da terra
- finito instante infinito

Vens de longe moiçola grave
a começar de um tempo antigo
(Portugal nobreza brazões)
mas não tenhas sangue azul



II


Vê agora quando o sono
quando à tarde quando à noite
quando à madrugada à manhã
se eleva às ervas sangue de antanho

Vede o campo verde e sua porta
ah! quanto de luz há em ti
como tens e cresces só em sol
e brilhas no sal do teu banho

Assim, descalça e menina,
percorrer teu ventre e o colo
é-me a hóstia teu mistério
e meu sonho teu ar estranho



III


Teresina, dorme sutil menina.
Frágil/forte moiçola dorme.
Veste de vento teus ares,
esfria-te-me nesta noite enorme.
Estica-te-me os pelos soturnos
pomares e luzes disformes.

Teresina solene de amores,
imensa tranquila e sombria.
Evocas menina/moiçola
retretas bailes romarias,
jardins e bosques e flores. 
Teresina - solene colores.



em SÁBADO ÁRIDO
Teresina: 1985

11.2.12

RESISTENCIAL, Francisco Miguel de Moura


Teresina, oh Chapada do Corisco,
sofro de ver teu corpo de pobreza,
desfolhada no meio da luxúria,
quando a chuva desmancha-se na areia.

Sem serras e sem montes, te dominam
os demorosos vales dos meus rios
Parnaíba e Poti, líquidas mágoas -
- Piauí danado, sem correr.

Vizinho, o Maranhão é a nossa vista,
em verdes copas de palmeiras verdes.
Este consumo de calor - aqui.

Do cearense, irmão mais sertanejo,
sofrido em sol e seca e serra, houvemos
este exemplo feroz: de resistir.


Francisco Miguel de Moura
em 145 anos: Teresina cidade futuro
Teresina: FCMC, 1997

5.12.15

TERESINA




Foi na Chapada do Corisco à beira
Do Parnaíba, rio principal,
Que teve início a obra sobranceira
De fundação da nova capital.

Onde hoje é a Praça da Bandeira,
Saraiva, conselheiro imperial,
Chamou a nova urbe brasileira
De Teresina, um nome original.

Coelho Neto quando visitou-a,
Extasiado com o verdor, chamou-a
"Cidade Verde", carinhosamente.

E o Cineas, de boa vontade,
Compôs seu hino com a finalidade
De conservá-la viva eternamente.



Barripi
em TERESINA: Um Olhar Poético
Teresina: FCMC, 2010
Organização de Salgado Maranhão