5.2.12

Cine Rex, Graça Vilhena


Rex
Mentex
007

Os goldfingers
a minissaia
o jeans
o sexo

braços mecânicos
e olhos de eternos diamantes


em P2 
Teresina: Livraria e Editora Corisco Ltda, 2001

4.2.12

BARRINHA QUE JÁ SE FOI, João Ferry


Barrinha, minha Barrinha
Viraste Palha de Arroz!
A palha não era minha
O rio levou depois

O rio, assim como o vento,
Depressa doido ficou.
Não houve chuva a contento
E o rio também secou.

Quando houve chuvas a granel
O rio sem paciência,
Cumpriu seu triste papel,
Levou tudo sem demência!

Na Vermelha, do Laurindo
Tanta gente brincou lá,
Que a Vermelha foi caindo
Descendo pro Mafuá:

O Mafuá cresceu tanto,
Mas, fez tantas confusões,
Que se acabou por encanto,
Como os bons Três Corações

Buraco da Velha foi
Também zona de alegria
Mas, adeus Bumba-meu-boi
Busca-pés e cantorias

O querido barrocão
Que nos deu Doutor Boeiros
Sucumbiu-se, foi ao chão
Dando vida aos Cajueiros.

Minhas saudades, porém,
Confesso, não me dão trégua,
Quando na mente me vem
O sol da Baixa da Égua.

São Raimundo! São Raimundo!
Frautas, luar, sonho e farra,
Virou poeira no mundo
Trazendo após a Piçarra!

Poti Velho, Teso Duro!
Poções, Noivos, e o Pau-Dágua!
Vamos ver, se temos furo,
Sem ter choro, sem ter mágoa.

Catarina e São Joaquim
Matadouro e Pirajá
Passeios bons do Angelim
Já não existem por cá.

Já não tem rua do Amparo
Nem da Estrela, nem da Glória,
Tudo mudou sua história.
Ficou tudo ao desespero!

Tudo se foi - Retrocesso!
Com fonte rara e divina
Veio em seguida o progresso
Engalanar Teresina.

Pedro Silva! Hoje tudo
Tudo! Tudo é diferente!
Tudo é grande e não me iludo,
Só nós dois somos gente!

Até mesmo a Não-Se-Pode...
Também assim é demais!
A nossa alma não sacode,
Ai, nunca mais! Nunca mais!


João Ferry
em A GERAÇÃO PERDIDA

de M. Paulo Nunes
São Cristovão/RJ: Artenova

2.2.12

MOROU (OU TÁ-NA-BOCA), Fontes Ibiapina


(Era o que ele - o tal fantasma dizia à pessoa que com ele se encontrava)


Que seja de nosso conhecimento, trata-se do mais recente fantasma que perambulou pelas ruas da nossa "Cidade-Verde" como disse Coelho Neto - Teresina. É pois, o caçula da nossa prole de duendes de nosso mundo de crendices  e superstições. Surgiu nas eras de 50 (entre 1956 e 1957). Durou pouco tempo. Pastou apenas pelas ruas do bairro Vermelha. Quando muito, ia até os Cajueiros. E só. Apenas  e tão-somente por estes dois subúrbios. Isto se deu quando estava em voga o dito morou!, bem como aquele outro - tá na boca! Então, a tal estória surgiu. Surgiu e ganhou terreno, se bem que haja durado pouco tempo, coisa de dois anos ou menos.

Durou pouco tempo, mas foi gastante comentado o tal Morou (ou Tá-na-Boca).  Comentários e mais comentários apareceram a tal respeito. Conta-se que era um bicho do tamanho mais ou menos de um carneiro grande, cabeludo, semelhante ao Lobisomem. Sempre aparecia, pela madrugada, às pessoas que transitavam, àquelas horas, pela Vermelha - especialmente Baixa do Chicão, rua da Macaúba, setores da Usina. Assombrou muita gente. Pintou o sete e bordou os canecos em suas andanças de assombramentos. Aparecia e avançava para a pessoa e, naquela sua voz rouca, grossa e escabrosa e com muita ênfase, dizia:

- Morou, Tá na boca!

A pessoa corria em disparada, porque o negócio era mesmo feio e escabroso. Aí ele acompanhava a pessoa até as proximidades de casa, repetindo aquele palavreado seu:

- Morou, Tá na boca!
- Morou, Tá na boca!
- Morou, Tá na boca!



Fontes Ibiapina
em 145 anos: Teresina cidade futuro
Teresina: FCMC, 1997

1.2.12

PRAÇA PEDRO SEGUNDO NOS TEMPOS DA LAMBADA


pernas à vista
pessoas indo e vindo, engraxates, cervejas
uma gatinha vendendo charme
meninos, amendoins e esmolas
olhos injetados
mãos amarelas vendem cigarros e bombons
uma turma de canas da civil
"lambada: botando fogo na noite"
em cartaz no cine rex
senhora com mais de quarenta vende espetinho à brasa
gordura fumacificada impregnando tudo
uma morena de seios lindíssimos
quatro mãos num diálogo de trejeitos
gays ao lado da banca de revistas
um bêbado diz que é o tal, que faz e acontece, e enche o saco
olhares de todos para todos os lados:
troca de projéteis silenciosos
fui atingido à altura do peito, mas já estou recuperado
um rapaz encabulado que tropeça
batedores de carteira relaxam na hora do descanso
(a hora do descanso é sagrada!)
doido varrido dorme na calçada do Teatro
sonha?
música em volume acima do suportável por uma vitrola rouca
caldo de cana
lambada para dar nos nervos de qualquer mortal razoável
paralisado um homem olha as formas da mulher que passa
gritos, assobios, acenos e copos contra a garrafa:
a disputa da atenção do garçom que, impassível, demora
o colega que tirou a tramela da língua após o terceiro copo
conversa animada
comentários diversos
um poste metálico no meio da praça:
herança inexplicável de um relógio digital que não vingou
especulações em torno do passado da praça
um casal que se beija
homem andando com toda pressa
trombadinhas perto da fonte
observação visual, táctil, gustativa e olfativa
observados patéticos
sons que muito lembram um inferninho
o próprio inferno
mãos que se tocam
palmadas nas costas:
demonstração de carinho ou virilidade?
impressos devorados por taciturnos leitores de prateleira
o bar do cuspe, à distância
uma turma de canas fardados
a galeria do Teatro, no local onde existia o bar Carnaúba?
anotação em papéis
convite para a inauguração de um bar
alguns vão ao Clube dos Diários
jornal das oito, seu Marcelino e A. Tito jogando conversa, Flávio na bandeja,
gente rara
um homem cuspindo a todo instante
motoqueiro sem noção do ridículo sobe a praça com sua máquina
e continua acelerando:
indisfarçável vocação para dono do mundo
a colega que só agora noto ser uma gata
conversa sobre o tempo e outras amenidades
convite para uma festa engajada e nas decências
colegiais de procedência indeterminada
lebres em pele de lobas
uma mulher com embrulhos
garota sensual usa saia curta estampada
picolés, pipocas e sorvetes
roupas coladas ao corpo
lua anunciando para breve encher-se de claridade arrasadora
o garçom que cobra a despesa além da conta
debates, negociações e acordos
pagamento em cheque
hora de levantar âncora
vamos em frente, a todo pano,
desbravar outras praias:
a noite é uma seda!


Manoel Ciríaco
em 145 anos: Teresina cidade futuro 
Teresina: FCMC, 1997

30.1.12

ESPERAR A TARDE CAIR




Esperar a tarde cair
e atirar os olhos na grande avenida
como um animal faminto.
Assim como o sol que vai fugindo,
fugindo vai meu coração.
Até quando os mortos me lembrarão?
Quero apenas ver o mar,
Mas há tanto concreto nesse horizonte!

Pessoas vivem além das árvores
Com segredos e mistérios
Cortados pelos cantos dos pássaros.
Uma morte não acabará com o reino,
Nem o reino acabará com as mortes.

As horas não correm ontem
Porque hoje não tenho compromisso,
Mas meu desejo não é parar o tempo
Porque este vive em minhas veias.



Francisco Miguel de Moura Júnior
em A POESIA TERESINENSE HOJE
Teresina: FCMC, 1988

29.1.12

O garrafeiro, Graça Vilhena


o garrafeiro era apenas um homem
que sobrava das ruas
também sujo de terra e esquecido
como as garrafas e cacos no quintal

suas mãos de cuidado
tangiam aranhas, lagartixas
e vez por outra
um escorpião afiado

depois arrumava as garrafas
lado a lado
âmbares, azuis, verdes, transparentes,
num arco-íris pobre

"essas são de vinho tinto"
dizia-me ele embriagado de vazios
e as de fundo côncavo serviam
para pescar piabas no Poti

o mundo é duro e frágil, eu aprendia
mas nele lições pequenas eternizam
piabas prateadas nas garrafas
como rútilos presos nos cristais


em PEDRA DE CANTARIA
Teresina, Nova Aliança e Entretextos, 2013

28.1.12

AQUELA CIDADE




Os habitantes daquela cidade andam pensando os seus caminhos;
ajeitam na dureza da terra, o porvir de novas bocas.

Acordam o dia com olhos de melancolia
e tateiam a cintura das meninas sensualmente.

No que atinge o Halley as suas vidas?

Nos grossos colarinhos desbotam manchas solares,
e nem sempre vestidos estão de esperanças
mas carregam consigo seus filhos presos as suas tetas.

Os habitantes daquela cidade andam audazes de lentidão.
Ao futuro consultam a tática da luta ou alguém,
um feroz que realize o mágico?

Os habitantes daquela cidade ficam
dopados de tenra candura por uma cidade que se guarda em dizer-se.



em A poesia teresinense hoje 
Teresina: FCMC, 1988

26.1.12

EXCERTO DE BALADA DO SANATÓRIO MEDUNA




Paisagem! É a nova coluna do helesponto erguida
Em suave gradação, depois desce um aclive, pára
E se estende até às margens do rio Poti;
Aí ficam a deveza e as ravinas, atravessando

A faixa que mãos nipônicas trabalharam,
Olhos oblíquos voltados para o Império do
Sol nascente. Cerejeiras em flor, lembranças.
A entrada está franqueada por “flamboyants”

E vivendas que sugerem, sugerem sempre
Coisas da França Antiga, romântica. Ao alto
Vasta cidade quadrangular, simétrica,

Com ornatos e recamos, longos corredores;
Ao lado se entremostra a pequena igreja
Acolhedora, refúgio dos aflitos...



Fabrício de Arêa Leão Carvalho
em Antologia dos Poetas Piauienses
Organizado por Wilson Carvalho Gonçalves 
Teresina: 2006

24.1.12

PRAÇA PEDRO II




Praça Pedro II, outrora Aquidabã. Não entendi a mudança do nome, que era mais sonoro, romântico e original para o local. Historicamente, não há como se justificar, pois o Imperador jamais pusera os pés no Piauí, nem mesmo os olhos. Tampouco a sua consorte, a quem deram o nome da capital. Falta de imaginação ou puxa-saquismo. Resquício da bajulação reinante no Império.

Foi ali que vi o maior ajuntamento de gente na cidade. Aconteceu no show com vários cantores famosos do Rio, patrocinado pela Vigorelli. Se tudo do Rio de Janeiro já exercia fascínio, aquele espetáculo com os melhores intérpretes da música popular, como Nélson Gonçalves, Orlando Silva, Ângela Maria e Adelaide Chiozzo, dentre outros - só vistos no cinema - era algo encantador, deslumbrante. Arrebatador de público. Ainda mais gratuitamente. Naquela noite, ninguém permaneceu na porta da rua, fugindo do calor e das muriçocas.

Desde cedo, a praça foi recebendo gente. De todos os quadrantes. O palco armado na sua parte superior. À hora marcada para o início do show, a massa presente. As figueiras lotadas de espectadores que não deixaram espaço, nem permitiam que outros subissem, o que me irritava, porque, não encontrando uma posição que me desse visibilidade, ainda não podia subir numa. A molecada não deixava e até me cuspia. Foi quando, providencialmente, apareceu o Cacique que, já acomodado num galho e vendo meu desespero, me chamou e me ajudou a trepar na que estava, embora sob os protestos dos ocupantes. Esse meu companheiro da Quinta Velha, de índio só possuía o apelido. Tipo magricelo, alto, uma barriga que não tinha mais tamanho, calmo, falava pouco e gozava da fama de valente, mas nunca o vi brigando. Dificilmente tomava partido nas discussões e, quando consultado, opinava com ar professoral, sentindo-se importante. E sua opinião era acatada, valia. Por ser o mais velho do grupo, os novos acreditavam nele, tanto que, havendo jogo fora, era levado para atuar como consultor, protetor. Gostava dessa deferência. Mas, aos poucos, ele foi ficando esquisito e sumindo do nosso meio. Falava menos ainda. Passou a se fechar em si, não saindo de casa. Chegou ao ponto de que nem a cara punha na janela. Diziam que adoecera da cabeça porque se masturbava muito

Da figueira, eu avistava nitidamente os artistas, até os detalhes de seus trajes, apesar do desconforto. Mas não importava. Melhor do que ficar no meio da multidão, fuçando lugar feito tatu e levando empurrões. O inconveniente era não poder me mexer, daí me doíam as costas, porém a beleza do espetáculo compensava o sacrifício, tirando-me o pensamento da dor. E eis Adelaide  Chiozzo, em cena, cantando e tocando acordeão. Babaquice geral. Seu jeitinho manhoso. Cabelos médios e lisos. Conquistou a multidão. Naquele momento, então, ouvi um estalo no galho em que estava montado. Foi tão rápido que não tive tempo de pular. O mesmo despencou trazendo a cambada em cima de mim. Caí zonzo. Formou-se um pequeno tumulto, com gente correndo, pensando que fosse briga. No chão, ainda, fui pisado e acreditei que ia ser massacrado. Dei sorte. Consegui levantar-me, meio aéreo e fui mancando para casa, com alguns arranhões no corpo, sem mais querer saber do show.

Aquele recorde de gente superou de longe o público dos comícios. Até no que compareceu Adhemar de Barros, disputando, pela segunda vez, a Presidência da República, com o Marechal Lott e Jânio Quadros. Adhemar, no seu jeitão de alemão e com sotaque paulista, passou o tempo todo expedindo ofensas pessoais contra Jânio, chamando-o inclusive, de maricas. Nada de coisa séria na sua fala, mas o povo vibrava com os xingamentos. No entanto, Jânio, empunhando a bandeira da UDN, ganhou em disparada. Uma loucura de votos para sete meses depois abortar, sem dor, o cargo, pondo a nação confusa com uma batata quente nas mãos. Aliás, Jânio foi a maior e a pior piada deste País. E piada chula, cheirando a álcool.

Sempre foi a praça favorita para os grandes eventos, dadas a sua amplitude e centralização. Ela era dividida em dois planos. No superior, com iluminação fraca, ficava o coreto, onde a banda da Polícia Militar executava chorosos dobrados, cujo quartel central localizava-se defronte. Era a parte preferida por soldados e empregadas domésticas, que namoravam nos bancos semiescondidos pelos canteiros de plantas.

Só dava curicas naquele pedaço, como diziam as moças de família, referindo-se às empregadas domésticas. Na parte inferior havia os tanques, enfeitados por garças e algas marinhas. E o desfile em roda.

Moças de um lado, andando em círculo, e os rapazes do outro, em sentido contrário. Ou então eles ficavam parados, paquerando as meninas que passavam, geralmente, em dupla, de risinhos, cochichos e lançando olhares convidativos. Para alguns, a parte de cima era melhor, tinha futuro, porque o namoro começava na hora e já avançado - sem inibição e preconceito.



José Ribamar Garcia
em Imagens da Cidade Verde
Rio de Janeiro: Litteris ed, 2008

13.1.12

TERESINA




Ela lá
espraiada entre pernas
negras, longas
entre céu
e sol

eu sul e frio

cotruco tijubina lapiana
fere, saudade
meu coração!



Keula Araújo
em TERESINA: Um Olhar Poético
Teresina: FCMC, 2010
Organização de Salgado Maranhão

9.1.12

ODE ÀS COCOTINHAS



um dia desses sonhei
que de repente virei
imaginem, o latorraca.
as seis horinhas da tarde
caminhei descontraído
pelo canteiro central
da iluminada frei serafim.
vi aquela aglomeração
na altura do colégio 
das nossas santas irmãs.
era um enxame gigante
da mais bela espécime
a vicejar na paróquia
elas me viram
eu lhes vi
e qual não foi o ouriço
que o trânsito daquela hora
fez parar e engarrafou.
me dá um autógrafo de cá
me dá um beijo de lá
me mete a mão por aqui
que eu sei também que é ali.
o sonho que tava lindo
foi virando pesadelo.

eu, no sufoco de ter
na boca um chiclete
um sorvete, um picolé,
acordei gritando
acode, mamãe. 



Zeferino Alves Neto
em Revista Cirandinha

Número 1, Teresina: 1977

2.1.12

LEMBRANÇAS DE TERESINA




fui feliz como o Marajá de Burundi
embora tivesse uma odalisca só
acabei com o estoque de paçoca
                                       /e cajuína

fiz piqueniques imaginários
à sombra das palmeiras
e vi que o Piauí é parecido com
                                        /o Havaí
porque passei todo o tempo surfando
só não sei onde nem quando



Geraldo Carneiro
em TERESINA: Um Olhar Poético
Teresina: FCMC, 2010
Organização de Salgado Maranhão

25.12.11

AOS VIAJANTES




Ó tu, viajante!
que ora estás
no meu Piauí.

Se passares por Teresina
e beberes no cálice
o amor materno
matarás no peito
a sede de afeto
que vive em ti



Hélio Soares Pereira
em Onde o horizonte vem esconder-se...
Brasília: Gráfica e Editora Esteio, 1982

24.12.11

NA CURVA DA ESQUINA




Na curva da esquina a vida é calma
E é urgentemente necessário gritar bem alto
A nossa maturidade.
Na curva da esquina a vida é calma
Mas é urgentemente necessário ter coragem de quebrar a imagem do santo.
Na curva da esquina a vida é calma
Mas é urgentemente necessário não ter medo da orfandade.
Na curva da esquina a vida é calma
Mas é urgentemente necessário fazer a curva da esquina
E amar como homem
Não como discípulo.
É necessário dobrar a esquina da revolta e
Ser matéria, simplesmente matéria, nada mais do que matéria.
É urgentemente necessário amar a mulher nua.
Não a imagem de Deus.
É urgentemente necessário dobrar a curva da esquina
Porque só na curva da esquina a vida é calma.


                             (Este poema é pré-Gramma.
                             Foi escrito em 68, eu tinha 17 anos, e até hoje é inédito)



Paulo José Cunha
em Livreto do XXXIX Sarau Lítero-Musical Ágora
Teresina, Agosto de 2010

23.12.11

EX-TERESINA




Teresina,
A minha,
Essa não há mais.

A minha
Era uma cidade sem cais
Pois essa atual veio depois
Do desaparecimento da Palha de Arroz

A Teresina
Dos Cajueiros
Do Barrocão
Da Maria Tijubina
Essa não mais se mostra à retina

A da Estrada Nova
Da Baixa do Chicão
A da Usina
Não há mais tal Teresina

A da vitamina do Mundico
Do pastel do Gaúcho
E a do Bar Carnaúba
Do programa do Al Lebre
Da crônica do Carlos Said
Das aulas de A. Tito Filho
Das agências da Saraiva
Do teatro de Santana e Silva
Das raparigas do corso

De tudo que já foi
Resta a cajuína
E uma nova Teresina
Que nunca termina
E constantemente nos ensina
A ter o seu amor como sina



Climério Ferreira
em TERESINA: Um Olhar Poético
Teresina: FCMC, 2010
Organização de Salgado Maranhão

22.12.11

FOTO TABOCA




Quem não deixou
sua alma aprisionada
em 3X4
no lambe-lambe
do Seu Chiquinho
na Praça da Bandeira?



Marcos Freitas
em Urdidura de sonhos e assombros
Poemas escolhidos (2003 – 2007)
Rio de Janeiro: CBJE, 2010

21.12.11

TERESINA




Hoje, eu te contemplei
      na fantasia
            dos meus olhos

E te senti
      no calor da terra solta
            de minha infância

E subi
      nas tuas árvores verdes
            de minha juventude

E te molhei
      na água filtrada
            de minha saudade



Hélio Soares Pereira
em Onde o horizonte vem esconder-se...
Brasília: Gráfica e Editora Esteio, 1982

18.12.11

MANO VELHO, Climério Ferreira


dez horas por dia
ele esmurra as águas
esquecido do próprio nome
e nem treme a fala

(na beira do Parnaíba
entre surrões e cofos
suspira e tenta sonhar
um resto de homem)

nas águas sujas do ex-rio
o vaporzinho de cores berrantes
cruza a lancha moderna e veloz

mano velho, setenta anos,
vê no progresso uma língua estranha
à sua fala — e cala.


Climério Ferreira
em 16 Porretas 
Brasília: Gráfica do Sindicato dos Jornalistas, 1979

CLIMÉRIO FERREIRA - síntese biográfica





Climério Ferreira nasceu em Angical/PI. Mora em Brasília desde 1962. Poeta, cantor, compositor e professor. 5 livros (poesia, entre os quais Artesanato Existencial) publicados e um CD - Canção do Amor Tranqüilo (1995, direção artística de Clodo Ferreira). Participou de várias antologias. Com Clodo e Clésio, gravou 6 elipês. É parceiro de Ednardo e Dominguinhos. Tem músicas gravadas por Nara Leão, Elba Ramalho, Amelinha e Fagner.

16.12.11

CALOR REPENTINO




outro dia
cheguei a Teresina:
um calor quente de rachar.

no dia seguinte
parti de Teresina
que vontade enorme de ficar.



Marcos Freitas
em Moro do lado de dentro 
Rio de Janeiro: Ed. CBJE, 2006