MANO VELHO, Climério Ferreira
dez horas por dia
ele esmurra as águas
esquecido do próprio nome
e nem treme a fala
(na beira do Parnaíba
entre surrões e cofos
suspira e tenta sonhar
um resto de homem)
nas águas sujas do ex-rio
o vaporzinho de cores berrantes
cruza a lancha moderna e veloz
mano velho, setenta anos,
vê no progresso uma língua estranha
à sua fala — e cala.
em 16 Porretas
Brasília: Gráfica do Sindicato dos Jornalistas, 1979