6.4.14

TERESINA MENINA




teresina menina
és virgem de teus poetas
que tanto te penetram
te expõem a alma e o corpo
e sempre possuis um mistério a mais
para ser explorado?
hímen intacto
eterna paissandu das putas
eterna pedro segundo do quatro de setembro
corpo impenetrável
estigma imaculado de quem nasceu na miséria
                                e traz as marcas no corpo
rios arranhados no ventre
menina que encobre o sexo com a mão
com vergonha de ter sexo
mata virgem deflorada
menina encobrindo o sexo com a mão
descobrindo o próprio corpo
tão bela quanto qualquer outro canto
                                    sob o céu e o sol



Adriano Lobão Aragão
em Uns Poemas 
Teresina: FCMC, 1999

NÃO TRAZ A RÉGUA LÍRICA, por Adriano Lobão Aragão



não traz a régua lírica
a rua olavo bilac
existe numa esquina da
frei serafim uma placa
gritando anjo torto
mas quando passam os carros
eles não ouvem nem vêem
as mulheres nuas
pintadas ao lado da prefeitura
agora com poemas
nas paradas de ônibus
e pessoas de olho
na avenida pra ver o ônibus chegar
recolhendo mais uma
paisagem humana
pros outros dias seguintes



Adriano Lobão Aragão
em Uns Poemas 
Teresina: FCMC, 1999


DOIS MENINOS VESTIDOS EM CAMISAS DE POLÍTICOS, por Adriano Lobão Aragão



Dois meninos vestidos em camisas de políticos
sujos de rua menores
depravavam a poluída avenida Frei Serafim
com seus comentários
à funcionária da loja cujo nome ignoro
- priquito priquito priquito
e corriam e gritavam e depravavam
e mais ninguém ouvia


Dois meninos na rua lambendo coca+cola
                                        derramada pelo chão
no sinal da Duque de Caxias com a Petrônio Portela
em duas poças no asfalto quente
entre os carros passando por cima da lata de refrigerante
esmagada
sob o pó e poeira e fuligem
os dois meninos bebem coca+cola derramada na rua
ao meio+dia de hoje
e mais ninguém via



Adriano Lobão Aragão
em Uns Poemas 
Teresina: FCMC, 1999


Adriano Lobão Aragão - síntese biográfica





Adriano Lobão Aragão nasceu em Teresina, Piauí, em  1977. Mestre em Letras pela Universidade Estadual do Piauí. Assessor pedagógico da Editora Saraiva. Em 1998, através do Concurso Novos Autores, recebeu o Prêmio Cidade de Teresina pelo livro Uns Poemas, publicado no ano seguinte pela Fundação Cultural Monsenhor Chaves. Em 2005 publicou Entrega a Própria Lança na Rude Batalha em que Morra, pela Fundac. Seu livro Yone de Safo foi agraciado em 2006 com prêmio Torquato Neto instituído pela Fundação Cultural do Piauí e publicado pela amálgama no ano seguinte. Publicou ainda as cinzas as palavras (amálgama, 2009) e ave eva (dEsEnrEdoS, 2011). Em 2012, lança seu primeiro romance, Os intrépidos andarilhos e outras margens (Nova Aliança). Participou das coletâneas Versos Diversos (Passos/MG), Poetas do Brasil 2000 (Porto Alegre/RS) e Estas Flores de Lascivo Arabesco, poemas eróticos piauienses (Teresina/PI), e das revistas Poesia Sempre nº 33 (Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro/RJ) e Revestrés nº 2 (Teresina/PI). Atualmente, edita o site dEsEnrEdoS, o blog Ágora da Taba e seu site pessoal.

TERESINA (PI), 1º DE MAIO DE 1979, RUA RIACHUELO PRÓXIMO AO CRUZAMENTO COM RUA PAISSANDU





Foi bem aí onde “quebrei o cabresto”,
onde descobri o prazer de “dá nos gosto”.
Foi nesse tempo mesmo, e o templo da Graça
era mesmo nessa rua. Bateu uma saudade da
Graça. Ah! Graça! Inesquecível, Graça!
Precisava nem pagar, e ainda tinha o luxo de ter
“as partes lavadas” com aquela deliciosa água fria
que ficava nas garrafas de vidro ali no canto,
ao lado da bacia de alumínio. - Ela fazia isso com
tanto carinho e destreza - Ainda menino, ficava
“cheio de pernas” quando, de dia, perambulando
pelas ruas da Paissandu, cruzava com a graça e ela
me dizia: vem cá meu menino do “zoim” verde,
deixa eu... e no meu olho ficava o contorno de sua
boca vermelha. Bateu uma saudade! Acho que vou
bater...



Kilito Trindade
em Coletânea Tara
Teresina: 2012

TERESINA (PI), 1º DE MAIO DE 2079, RUA RIACHUELO PRÓXIMO AO CRUZAMENTO COM A PAISSANDU




Não é mais o mesmo temp(l)o
Já não tem a mesma graça
A pele maracurujada
Os músculos obedecendo a gravitonusflacidade
Os pés descalcioficando imóveis
Mas, o fluxo sanguín(e)o lento
ainda chega em suas cavernas

Pega aqui.!. Pega aqui.!. Pega aqui.!.

se em si penso em si falo encéfalo conecta
falo erecta



Kilito Trindade
em Coletânea Tara
Teresina: 2012

"o amor se instalou", Renata Flávia


o amor se instalou
embaixo da ponte metálica
fugiu de todas as cores holofotes e estradas
disse ser contra o mirante, o elevador e a escada
preferiu ficar no velho esquecido
do que ter o peito partido
em bamba estaiada.


Renata Flávia
enviado pela autora

ENTRE BANCOS SORRI CAFÉ ART BAR, Renata Flávia


entre bancos sorri café art bar
as vontades da vista da praça
cheia de saudade do que não vimos.
entre postes
entre hippies
sorri meu mais novo amor
rodeado dos antigos
de restos e velhas construções
armações que o tempo preserva feito bibelôs
feito coração velho já amargo e frágil
com portas grandes e coisas sem valor.
entre bancos, pedras, rochedos velhos
sorrir meu novo amor.


Renata Flávia
enviado pela autora

"mil corações despedaçados despencam", Luiz Valadares


mil corações despedaçados despencam
como estrelas cadentes
a garota que passa com seus olhos
traz os seios à ponta da língua

o homem vazio tem dentro de si uma seta
o transeunte atravessa fora da faixa
outro homem contabiliza o dia
enquanto vizinhos fuxicam a vida

mil corações despedaçados
despencam a tarde
no precipício da miguel rosa
enquanto a tia debulha seu rosário

já é tarde na noite do solitário
já é tarde para o viúvo
já é tarde para quem passou da idade
e para quem não se aventurou

mil corações despedaçados despencam
na página em branco
e o bêbado fica sem palavras
inédito, enviado pelo autor

5.4.14

CORAÇÕES DA TERRA, por Menezes y Morais




...

compadre salgado maranhão
destrói do teu cérebro essa ideia suicidade

q os trabalhadores te querem em luta
i a poesia te quer vivo
nesses tempos de anistia ampla
y corações restritos

...

nossos amigosão pessoas bonitas
na dimensão da fala dialética grito
o cineas vem de uma gleba seca com a
água de sua ternura
o william se fez poeta engajado pra
alegria da poesia
o eduardo não acredita no amanhã pra
desespero de mais um dia
todos lindos
todos livres na prisão do dia
nesses tempos de anistia ampla
y corações mesquinhos

o arnaldo albuqueque
o fernando s. costa
o albert piauí desenham os sóis dessas noites frias

armadas de fuzis e bombas de hidrogênio

(aquelas q matam os homens e
conservam intactas as propriedades do rei)
e o luiz bello afirma que precisamos
criar o ministério da paz
e o povo bebe tanta pinga e fuma
tanto medo só pra ter coragem
nesses tempos de anistia restrita
e corações gerais

a marleide
cabelos dourados baloiçando

ventos do céu

dessadjetivada democra-
                                cia mina dos olhos
                                  imperialistas

a beth rego
o rubervam du nascimento a profissão dos peixes
no tempo
o sussurro o grito o homem da rua
timon a voz do trovão
a ana miranda a rosinha lobo as cores
dos sonhos
o pólen do sol
o zémagão

viajamos na constelação de vênus e foi tão bonito
e até hoje nos amamos e acreditamos
na decadência final
de tudo a-kilo
e eu sou um sol e vou parir um crepúsculo

nesses tempos de anistiampla
y corações aflitos

o chico casto de camisaberta
na filosofia do tiro
a leila a homeopatia
memórias da ilha do fundão
postais do paraíso
a ednólia fontinele o bernardo silva
o arimatan a elnora o teotônio do sax
o zeferino alves neto a rosa o sales
herculano moraes o pds
o chico miguel de moura o universo das águas
o emerson araújo
a janete dias baseada na era
o candeia o varanda o fruta madura
as asas do rubens costa
a vida operária
a canção permanente
raimundo alves lima
o clebe montezuma o kenard kruel a
pedra do sal
o fred maia da gota serena brilhando tranquilo

o antônio nobre (da dilertec) resiste na sua
dignidade branca
e o contista pedro celestino
conhece a história dos incêndios das
casas de palha
terror burguês em teresina
o wilton santos da cerca de arame do diadema e
do caco de vidro
a comadre nazaré leite desaflitadeolhosaberto
acampomaior
o otacilomendes
amaria da Inglaterra
o sal o suor
o repente o oriente
a verdura da terra
e na
        praça pedro II
os jornais a televisão e as revistas
informam q o mundo vai mal
o erlich cordão o jamerson lemos a poética
da necessidade
o paulo moura o wellington careca o
joão evangelista
o preço da liberdade
a eline menezes
o geilbert chaudanne
pássaros
terra do sol
     conquistada
o ubirajara dias (biroca) o genésio
araújo (tlinta e tlês)
o júlio pança o leo

o diário do piauí foi um jornal apaixonado
o beto pirilampo a rosilândia a sulika
a cultura orgânica
oroque moreira e seu gosto na berlinda
o fabio ator
o fim do mundo início de tudo é cedo ainda
e a dora parente luta pela felicidade
geral trabalhada
a coragem pra suportar os ataques
epilépticos do sono
o élmar carvalho poeta da vila e da liberdade

o j. barros o feitosa costa o heyden cunha
o raimundunho da medicina
sonhacom as transformações da espécie
e vive pela materialização do sonho
e a gildes silveira fala da cidade
grávida de sol e de fome
e o poeta hardi filho acredita
                                              o amor
é o pão que faz o homem
e o joão batista e a sandra almeida o tarciso
                                                                  prado
                                 
                               o sol no zênite
a dor de ser feliz q nos consome
o domingos bezerra
a rosa rubra sorrisonhos
fiapos de canções regados a cerveja
praça da liberdade
enquanto o império fatal marcha lento
pro necrotério do hospital
getúlio vargas
nesses tempos de anistia restrita
y corações de neocid
...
o gérmen da vida a força latente a
corrente do meu coração
o fábio torres a laranja partida ao meio
o laurence o eneas o providência o
pierri baiano o pão de centeio
parcelle eugênio o victor martins o
paulo pelicano
o assis linhares e o feitosa lit a mareília
o coqueiro o caetano
o santana e silva o teatro de rua
antes do golpe de 64
o geraldo borges e a história em
quadrinhos
lida no bar do gelati
quando a avenidatinhamais serafins
o zé afonso a opressão a guerra dos cupins
o ocimar barbosa o josemar nerys
          filhos do povir
o celso teodósio patrício
o zé o zé de luna a marieta a zuita o nael
          as meninas mocinhas-em-flor
a socorro magalhães a nonata o jacinto
a socorro araújo
o ar o gesto o laço o fato concreto
sonhos d'esperança
a certeza de que só existe q não foi criado
..........
pássaros-paisagens e botboletas
brincam no azul de altos
o bairro piçarra o ginásio álvaro fereira
              o cabaré da maroca
o maestro luiz santos a neguinha o
marquinho a mary o zaquee
o primeiro e o segundo amor a política estudantil

a sinuca a ternura da "tia" maria
solar estrelado
onde a gente se reunia messes tempos
de anistia
y corações do amanhecer
o chico alberto
o o.g. rêgo de carvalho a estrela azul
no céu da tarde

o wellington mendes a joana o iago
o exemplo luminoso: a solidariedade

o padre pedro maione
o padre sandro
o padre costinha
o pão o ecangelho a encarnação do verbo

o preço da vida
sabor dovinho
um camponês deseja a terra e a chuva
explode em flôr
o merlong nogueira o fonseca a travessia
o wellington o dce livre o me autônomo

a fufpi sitiada
o antônio josé da livraria punaré
a guerra do jenipapo a chapada do corisco
as sete cidades
teresa cristina
o deusdeth nunes a "mãe" ana o
mingau dos astronautas
os pastéis da maria divina
e a cervejinha bem gelada da maria tijubina

sol a pique
luadentro
viver teresina

...



Menezes y Morais
Teresina 150 anos (fascículos do Jornal O DIA)
Teresina: 2002


"Ontem", Luiz Valadares


Ontem
fez lembrar dos dias quentes de febre de amor pela ana paula
fez lembrar os tênis que ficaram apenas na memória
perdidos no diametral...fez lembrar das curvas que me levavam ao saci...
ontem fez lembrar das doses de rum com coca
nas noites navegadas na mob dick
com calos nos pés e risos nos lábios...

inédito, enviado pelo autor

14.1.14

CIDADE PÁLIDA




Fontes luminosas
Que não funcionam,
Plantas que não floram
Por falta de inverno,
De seca a seca
São peladas.
São fontes de inspirações
Pelo sofrimento.

Solo mal adubado,
Caule fraco
Cheio de formigueiros
E a prefeitura não compra veneno.

Tudo sofre:
O povo e a praça
Por culpa de quem
Promete o carro pipa,
Porém, não manda nem leva
Porque não tem tempo.

Praça pobre:
Jardim, seu rosto
está pelado...
Deixa a Cidade Pálida.



Neto Sambaíba
em UM MALUCO INTELIGENTE

1.12.13

TERESINA




a vida se inventa do barro
barro que faz o homem que faz o tijolo
que faz a casa que vive o homem
barro da beira do poty e do parnaíba
que irriga a cidade que com seu barro polui o rio
teresina
da cidade plana de poty velho
ao paliteiro globalizado do jóquei
do centro infestado de piratas
ao sítio das árvores petrificadas
um feixe de fibras óticas sai do barro
e se liga em quem tá em contato com torquato
míssil ácido no olho do mundo.
teresina
a certeza certeira que o homem se inventa
entre a canela e o caju.



Chacal 
the . 27 / 11 / 04

T. REX CINE


para eliete e soraya


cinema paleolítico
fantasmático paralítico
quantos filmes você viu ?

veludo azul
bandido da luz vermelha
era uma vez na américa
amarelo manga
kill bill

tanto filme
onde é que já se viu ?

cine rex
da sua sacada
quanto desejo
quanto tesão e delírio
na praça pedro segundo

gerações de poetas, esses seres esquivos,
invocaram as tropas celestiais
e hordas de demônios
em caçadores da arca perdida*

sucessões de namorados, normalistas e funâmbulos
medindo bocas em big close ups
fusão de corpos mixando línguas
no escurinho do cine rex

cine cine cine rex
cinema dos meus fascínios
com quantos fotogramas
se escreve o roteiro da sua ruína
estrelado por poetas, cinemeiros, namorados
sitiado nessa praça
à espera do inexorável
fim.



*dos chatoboys da abá dobal
aos cavaleiros da triste figura de torquato neto
dos delinq?entes da imagem digital de douglas machado
à farra do verbo de durvalino, demetrios e kilito.
[the pi - nov 2004 / nov. 2008]




Chacal
em T. Rex Cine
Teresina: 2008

Chacal - síntese biográfica





Ricardo de Carvalho Duarte, vulgo Chacal, nasceu em 24 de maio de 1951, no Rio de Janeiro. Estudou no Colégio André Maurois e na ECO-UFRJ. Estreou sua poesia em 1971, aos vinte anos de idade, com um pequeno livro de apenas cem exemplares mimeografados, Muito prazer, Ricardo. Depois vieram O preço da passagem (1972), América (1975) e Quampérios (1977) e a participação no grupo Nuvem Cigana, formado pelos poetas Bernardo Vilhena, Charles Peixoto, Guilherme Mandaro e Ronaldo Santos, para realizar, pela primeira vez no Brasil, a poesia moderna falada. Depois da dissolução do grupo, em 1980, exerceu a palavra poética em teatro, como coautor de Aquela coisa toda, peça do grupo Asdrúbal Trouxe o Trombone; em música, compondo para grupos como Blitz e Barão Vermelho; na televisão; em crônicas de jornal; e na produção de eventos como o CEP 20.000 (Centro de Experimentação Poética), que ele organiza desde 1990. Editou a revista O Carioca entre 1996 e 1998. Foi ainda um dos fundadores do bloco carnavalesco Bangalafumenga.