Mostrando postagens classificadas por relevância para a consulta Timon. Ordenar por data Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens classificadas por relevância para a consulta Timon. Ordenar por data Mostrar todas as postagens

27.12.18

A impressão ela tá sempre com a gente, por Rodrigo M Leite




depois da descida com as casas de palha armaram um circo quando apareceu aquela neblina na quebrada lembrei de escrever ainda tenho amigos que constroem casas em árvores

e são instigados, apesar

a gente rodou tanto amanheceu num posto aquele som fudido desconhecido comentando que entre o natal e a virada de ano menos idiotas na cidade porque menos gente na cidade

agora antes disso acontece coisa bicho escapar de cada convite atravessar intacto o lagosta sacou esse movimento uma vez a anna raquel chegou falando que o lance agora era ideia limpeza total ficamos uns minutos imersos nessa atravessando a ponte metálica de madrugada indo pra timon

criaturas de tocaia tem tanto fantasma ali

mas voltando o lagosta tava numa de making off nessa noite a galera depois de cantar fragmentos de metrópole lembrou do júpiter maçã aquele menino perdido faz um tempo que não encontro o lagosta mas a impressão ela tá sempre com a gente



Rodrigo M Leite, inédito em livro


22.10.13

EU, TERESINA E ELE, Wellington Soares


Há seis meses namorávamos e nada. Ao contrário dos outros, bolinar comigo não queria. Como um pedaço de descaminho, no dizer dos rapazes, chateada fiquei. Valfrido, esse era o seu nome, nem aí. Sua estranheza me prendia cada vez mais a ele. Que o amava, não tinha dúvidas, mas não podia continuar subindo pelas paredes.

- Transar comigo, por que você evita?
- Só cai no chão, a manga, quando está madura.
- Tanto tempo assim, como posso?
- Pela bela serrana, Jacó muitos anos esperou.
- Mas eu o amo.
- Amar é saber, no momento exato, tirar o cílio do olho.
- Quando, então?
- De Teresina se embriagar e se despir com pureza.

Com o coração aberto, deixei me levar por suas mãos seguras e macias, descortinando outros horizontes. De barco, o Velho Monge atravessamos para Timon, cruzando com pescadores de redes vazias. Na volta, um suco delicioso no Abraão, tendo como troco palavras de estímulo. À tardinha, um faroeste no Rex, balas de horror raspando minha cabeça. Maria da Inglaterra e seu Peru Rodou, no Clube dos Diários, a noitada fechando, o sabor de cerveja nas bocas geladas.

Acordada cedinho, um café reforçado na Piçarra, ânimo para encarar a arte misteriosa de seduzir. No troca-troca, sob um escaldante sol, o comércio de tudo, menos o do amor, inegociável. O gostoso cheiro da panelada, nunca provada no Mercado Velho, no meu estômago faz alegria. O restante da tarde, navegamos na beleza do encontro dos rios, onde deixei claro ao Cabeça de Cuia não me chamar Maria e muito menos virgem. De bicicleta, à noite, vários bairros da cidade percorremos. Na despedida, sem esperar, ouvi:

- Amanhã, esteja pronta, será o dia.
- Onde? A que horas?
- Dezesseis, na praça da Bandeira, sem atraso.
- Vou de carro?
- Não, sem nada, só você. De lá partimos.
- Que mais?
- Relógio sem ponteiros.

Noite em parafuso, sem conseguir os olhos pregar. A espera, alfinete ferindo o corpo, compensa? Do ônibus, descemos em frente ao motelzinho, mãos coladas e a galope os desejos.

Depois dali, mesmo com os apelos dos velhos, nunca mais retornei, nem fui em casa pegar nada. Ele me bastava. Era, sem exagero, uma pessoa muito especial. Que outro homem, diga, me levaria a conhecer e a amar Teresina? Comendo estas piabas fritas agora, nas coroas do Parnaíba, tendo-o ao meu lado, a vida passa a ter sentido.


Wellington Soares
em Maçã Profanada
Teresina: 2003