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21.3.20

"esfoliar os calos dos pés no concreto da quadra", Rodrigo M Leite




Ainda nem alcançava os pedais, mas gostava daquele jogo de cintura, alternando de um lado para o outro, o varão bem lisinho. Todo mundo comemorando a inauguração do ginásio. Eu só queria o vento nos peitos. Até voltar para pegar o boné no chão era divertido. Imagina. Ficava mirando ele na volta, de butuca, preparando o bote. Pescava de primeira, meu pé o arpão. Nem descia da bicicleta. A inauguração da nova quadra atraiu tudo quanto é parente e aderente. Os tios vieram da zona rural. Aquele dia, a casa cheia de primos, ninguém falou sobre a doença do vovô. O cimento fascinava: nós que vivíamos com ciscos nos olhos, poeira nos cabelos. Sempre comigo aquela sensação de esfoliar os calos dos pés no concreto da quadra. O suor forte por cima misturado com do vigia



Rodrigo M Leite, via blogue do autor,
Da série: Estrelas ou Poemas Esquecidos Incrustados no Ferro



Naquele dia mamãe apareceu mais cedo na escola. Acabara de sair do leito de vovô, no HGV. Não fizemos perguntas, já sabíamos que ele havia partido. Caminhamos abraçados pela Frei Serafim, suando, na cola de um caldo de cana com pastel. Tudo vai ficar bem, ficaremos mais unidos. A gente segurando o choro. Depois do caldo, mamãe comprou uns quadrinhos antigos ao lado dos correios. Ainda hoje comigo aquelas histórias

Rodrigo M Leite, via blogue do autor,
Da série: Estrelas ou Poemas Esquecidos Incrustados no Ferro