"Venâncio do Parque", por Deusdeth Nunes




Peladeiro do Parque Piauí, entre outras coisas. Morreu aos 50 anos. Francisco das Chagas Venâncio, casado duas vezes, pai de quatro filhos. Um deles, morto em São Paulo em circunstâncias misteriosas. Professor do Estado, pediu o PDV e “pedeveu-se”. Conheci-o num festival de música que ele era cabeça no Parque Piauí. Seu auxiliar era o Pão Seco, metido a entender de som. Na ocasião, convidei Venâncio para participar do meu programa Um Prego na Chuteira, como batedor de violão e criador de ideias. Era na Rádio Clube, ali na rua Barroso. Para fazer parceria com Franci Monte nas paródias. Botei o nome de Venâncio do Parque. Morreu como Venâncio do Parque. Pequeno, atrevido, mulherengo, inteligente, peladeiro. Entrosou-se no rádio. Passou a fazer crônica policial. Cavacava os casos, era polêmico, os delegados não gostavam dele porque era fuçador. Como na pelada. Morador do Promorar, denunciava as arbitrariedades policiais do bairro e do Parque. Os policiais eram doidos para lhe darem umas pancadas. Um dia lhe deram uns empurrões e pisaram no gravador que caiu de sua mão. Pisaram no aparelho como se pisassem nele. Vida perturbada. Falta de dinheiro, de amigos e sobrando complicações com as mulheres. Sem tesão para a pelada. Dor de cabeça. Cabeça grande, sinal de inteligência. Cabeça de tantos pensamentos. Cabeça que produzia versos de amor. Também era poeta dos bons. De desamor, versos de revoltas, voltas no campo do Parque com a bola, volta de mulheres que se foram, dor de cabeça que só se acabou com um tiro. Na cabeça. Fim de jogo.



Deusdeth Nunes (Garrincha), em
PELADAS & PELADEIROS 
Teresina: Halley S.A. Gráfica e Editora, 2010


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