"INTROSPECÇÃO", por J. Ribamar Matos




Meu ser é um triste casarão sombrio 
onde, da dor, coleia a vil serpente 
e em cujo interior corre, gemente, 
da mágoa sem remédio - grande rio...

Na sala escura um pássaro tremente
vive, agourento, em tenebroso pio, 
e na varanda, trêmulo de frio, 
o fantasma do sonho, decadente... 

Tudo se tece de tristeza e dores
na solidão dessa morada escura! 
E o fantasma do amor entre estertores,

sorvendo o fel da lúgubre amargura 
em sinistra expressão de dissabores, 
busca da morte a paz, na sepultura. 


Teresina, 1964.



J. Ribamar Matos (1946-1974)
em POEIRA DE ESTRADA
Oeiras, Piauí: 1984


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