03 poemas de "HOMENS QUE SAEM EM NAVIOS", de Jim Morrison | tradução de Lucas Rolim







Homens que saem em navios
para escapar do pecado & do lamaçal das cidades
assistem à placenta das estrelas do anoitecer
no convés, deitados sobre suas costas
& cruzam o equador
& fazem rituais para exumar os mortos
iniciações perigosas
para marcar passagem a novos níveis

sentir-se à beira de um exorcismo
um rito de passagem
esperar, ou buscar a iluminação
da idade adulta numa arma

para matar a infância, a inocência
num instante



(...)



Um homem junta folhas em
um monte em seu quintal, uma pilha, 
& se apoia no rastelo &
as queima por completo.
O perfume enche a floresta
crianças pausam e atentam ao
cheiro, que se tornará
nostalgia em muitos anos.



(...)



A Encruzilhada
    um lugar onde os espíritos
    residem para sussurrar no
    ouvido dos viajantes &
    interessá-los em seus destinos.

O mochileiro bebe:
"Eu invoco novamente os
    deuses ocultos do sangue"

-   Por que nos chama? Sabes
    nosso preço. Nunca muda. A
    morte de ti lhe dará a vida &
    o libertará de um vil destino.
    Mas está ficando tarde.

-   Se eu puder vê-los de novo
    & conversarmos & andar um
    pouco em sua companhia,
    & beber o caldo inebriante
    de suas conversas,
    eu pensei

-   em salvar uma alma já em
    ruínas. Para ter descanso.
    Para saquear o ouro verde
    num ataque pirata & trazer
    para o campo a glória dos
    antigos.

-  Como o encapuzado encara
    chifres envenenados & bebe
    a vitória encarnada; também o
    soldado, c/ seu troféu, um
    capacete perfurado: & o
    caminhante no parapeito
    estremecendo seu caminho
    para a graça interna

-  (risos) Bem, então.
    Zombarias de ti mesmo?

-  Não.

-  Breve, nossas vozes devem tornar-se
    uma, ou alguém deverá sair.



Jim Morrison, em
HOMENS QUE SAEM EM NAVIOS
Antologia Poética
Tradução e edição por Lucas Rolim
Editora KIZUMBA: Teresina, 2018


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