"RUÍNAS", por H. Dobal




Estas velhas paredes não confessam
a brisa sem memória os seus segredos.
A pedra construída sobre a pedra, 
numa estranha argamassa reforçada 
por suor de escravo e óleo de baleia, 
como se alguém quisesse levantar, 
contra o sereno da noite, 
contra a ferrugem do mar, 
uma alvenaria libertada 
de tudo o que a morte corrompe. 
Mas pouco permanece. Estas paredes 
vão-se abatendo semidestruídas 
pelo duro movimento dos dias.

Bate na tarde um vento claro, 
bate no peito uma lembrança 
que estas paredes não confessam: 
A vida. A mágoa sem remédio. O jogo do amor, 
talvez mais difícil naquele tempo.



A Cidade Substituída
Teresina, Oficina da Palavra: 2007


Comentários

Veja também: