"NO CAIS", por J. Ribamar Matos




Geme o mar, e soluça, e se contorce
- leão de juba espessa e desgrenhada - 
como se a dor de sorte desgraçada
force-o a gemer e a soluçar o force... 

E nessa fúria atroz, desesperada,
lança-se em ondas contra o cais, e torce
o dorso imenso e, logo, se destorce, 
no contraste de irônica risada! 

Sobre o mar de nós dois, se me debruço, 
pela expressão de angústia e desafio
vejo nele um irmão, na dor que embuço. 

Mas se somos irmãos no desvario
por que sorris, ó mar, quando eu soluço? 
por que choras, ó mar, quando me rio? 



J. Ribamar Matos (1946-1974)
em POEIRA DE ESTRADA
Oeiras, Piauí: 1984


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