"Marujo", por Paulo Veras




Dentro da minha casa
acolho uma velhice 
que me acompanha desde que nasci

O copo de prata de vovó
com seus lábios bordados na borda
Os olhos de uma tia morta
a vigiar-me da moldura oval
A bengala de meu avô
incentivando-me o passeio na calçada
A fruteira de vidro verde
(com frutas de cera)
a decepar-me o apetite
O aparelho de jantar azul
a fornecer-me a penumbra e a sopa
das seis da tarde

Na beira do rio
tem quermesse e eu não posso ir
tem bingo e leilão de peru assado
tem barquinho e rolete de cana

Estou vestido de marinheiro
e só posso navegar no jardim


                                                Porto Alegre, 30/11/1977


em POEMÁGICO: a nova alquimia do verbo
Teresina, Projeto Petrônio Portela 1985


Comentários