"A joia da musa esquecida: Uma visita ao Clube VTS, bar/restaurante que funciona há mais de 60 anos no centro de Teresina", por Paulo Vinícius Coelho






Há muitos anos, ouço o amigo Antônio Ferreira falar com saudosismo e afeto do Clube VTS, restaurante/bar encravado no desamparado centro de Teresina. Ao visitar a confraria no último final de semana, tive a oportunidade de atestar algumas peculiaridades. Todo botequim, aliás, precisa das suas. Primeiro, é preciso dizer que o VTS funciona como um alento em meio ao abandonado centro da capital piauiense.

Poucos dias antes de visitar a cidade, conheci o blog Musa Esquecida, dedicado a relatos sobre a vivência em Teresina. Se a cidade é essa musa, seu centro é, sem dúvida, a parte mais negligenciada do corpo. Contudo, o pescoço ainda ostenta uma joia: o VTS. A sigla, afinal, carrega o nome de seu patrono: Vicente Trindade dos Santos.

O “VT’’, como é chamado pelos clientes que conheci, viveu a mesma saga de tantos outros brasileiros, penalizados pelo êxodo rural. Ainda adolescente, partiu do interior do Maranhão rumo a Teresina em busca de melhores oportunidades. O timoneiro do botequim resume: “quando eu trabalhava na roça, ficava me escondendo debaixo das árvores e minha mãe sempre dizia que desse jeito eu ia ter que gostar de estudar’’.

Apesar de não ter tido tanto êxito na carreira acadêmica, VT considera que o expediente de marceneiro, função que ele exercia antes de fundar o clube, era melhor e mais proveitosa que a lida no seu local de origem. “Na marcenaria pelo menos tinha sombra’’ sentencia.

Foi justamente consertando instrumentos musicais, entre outros artefatos, que Vicente se aproximou de artistas e da canção. Posteriormente, o VTS abrigou um sindicato informal de instrumentistas, de modo que, quando alguém queria contratar um show, uma das opções era ir direto ao estabelecimento consultar a disponibilidade de quem estivesse por lá.

Li no Musa Esquecida que o próprio Vicente é um exímio violonista. Ele disfarçou, mas me prometeu que quando eu voltasse ao clube prepararia algo especial: “basta você dizer o que gosta de ouvir que eu vou providenciar a música pra te deixar assanhado’’.


Antônio e VTS


Além da boa música e da perspicácia de seu dono, que o leitor certamente já percebeu pelas aspas, o VTS tem outro grande símbolo: o peixe. O preparo é tão lento quanto os passos do já octogenário Vicente, mas, ele justifica: se fosse fácil todo mundo faria igual. E o peixe do VTS, definitivamente, é distinto. A receita foi aprimorada quando o dono do clube foi diagnosticado com cálculo renal e recebeu a recomendação de priorizar o peixe na dieta. Hoje, é o carro-chefe da casa. “Tem gente que vem dos Estados Unidos pra comer esse peixe’’ garante.

Mas não pense o leitor que o acesso a essa joia da musa esquecida é simples. O VTS é mesmo um clube: você só entra se for indicado por alguém. A seletividade se deve ao objetivo de Vicente de garantir a segurança, tranquilidade e a confraternização entre amigos. Aos que insistem, Vicente manda o recado: “aqui quem manda no bar sou e o cadeado ali da porta.”





Paulo Vinícius Coelho
em 19 de março de 2025


Comentários