LÁ NO AÇUDE DO ANGELIM, por Stella Leonardos
Lá no açude do Angelim
sopra vento vaga-mundo.
- Bem dentro d'alma do açude
no fundo das águas fundas,
existem donzelas lindas
- todas elas encantadas,
bordando vestes de noiva
de uma boda irrealizada.
Das donzelas a mais bela
dirige os vários bordados,
triste Noiva entre as amigas
e as damas de companhia
nesse enxoval de sem-fim,
penar de eterno noivado.
Lá no açude do Angelim
sopra vento de ar profundo.
- Viria esse encantamento
por mera desobediência
de uma filha aos pais? Estranho.
Que mistério tece a lenda?
Fios há fugindo à trama?
Diz que quando o açude sangra
logo à chegada de maio,
saiam sempre as jovens damas
entre os perenes bordados.
E se acaso uma donzela
por descuido ou por desgraça
afunda naquelas águas
será companhia delas
- as bordadeiras eternas -
por toda uma eternidade.
Lá no açude do Angelim
geme o vento, geme fundo.
Stella Leonardos, em
Piauí Rapsodo
Teresina: FCMC, 1996
Este poema se inspirou na lenda mencionada às páginas 75 e 76 do livro de Bugyja Britto: As Historietas do Menino Catônio (As Duas Primas - Um Pequeno Conto) - Folha Carioca Editora, Rio de Janeiro, 1992.
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