8.4.20

Passou por mim, Alex Sampaio


Não era um marginal. Não estava triste. Não era equina. Não havia conotação sexual. Era sorriso. Pulos. Era no Centro da Capital. Na rua. Na avenida. No centro do capital. Não era silêncio noturno nem underground. Era barulho. Sol. Dia. Era carnaval.

Homem. Saia. Pintura de índio no rosto. Homem. Seios falsos. Salto alto. Batom.

Fevereiro. Marcha. Mas no diminutivo. Sem ordem militar. Caos do espontâneo. Popular. Marchinha.

E uma pessoa travestida passou por mim.

Passou. E o que ficou na minha visão foi o muro da cidade. Passou. Muro. E no muro a pichação. Não era um marginal. Era ação social.

E um colorido passou por mim.
Passou. E oque ficou na minha visão foi o contemporâneo.
Arte.

Um muro pichado em parte. Era o caos do espontâneo.

E um religioso passou por mim.

Tinha os olhos pintados. Tinha mãos em posição de reza. E corpo em folia.

Debaixo do braço e das fogueiras muitos livros são sagrados.

Assim como aquele que pregou a verdade “a verdade vos libertará”, assim pregava a dúvida livre pelo ato de duvidar.


Alex Sampaio
Em "Ressuscito na cidade suicida"
Teresina, 2017