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9.12.15

FESTIVAL DE MÚSICA DA CHAPADA DO CORISCO - CHAPADÃO




Em 1995, eu Aurélio Melo e Henrique Costandrade tomavamos umas cervejas em um bar restaurante localizado perto da Praça do Liceu, se não me engano Bar e Restaurante Cearense. Naquele ano existia um Centro Integrado de Arte-Ciarte/Centro, Da Fundação Cultural Monsenhor Chaves, coordenado pelo ator Fábio Costa e o humorista Dirceu Andrade, este sim, em frente a Praça do Liceu. Era um Centro vivo com atividades de literatura, música, dança, teatro, artes plásticas e cinema.

Eu era diretor do Departamento de Arte da Fundação Cultural Monsenhor Chaves, Aurélio era o coordenador de música e Henrique o coordenador do Caminhão da Cultural, um dos mais arrojados programas da Fundação, que era presidida por Dona Eugenia Ferraz. O Caminhão era equipado com som, luz, palco e uma equipe de seis pessoas, servindo a inúmeras associações de moradores, grupos culturais e artísticos, e às atividades da própria instituição, levando música, dança, teatro e cultura popular a diversos bairros de Teresina.

Estávamos exatamente vindo de uma atividade do Caminhão e paramos naquele bar para uma refrescada. Cerveja vai, cerveja vem surgiu a ideia de realização de um festival de música permanente para Teresina, no entanto, um festival que fosse diferente de tantos outros festivais já realizados na capital. A discussão rolou acalorada, e a cerveja, também, mais gelada.

Como diretor da Fundação comprei a ideia na hora. O festival seria realizado com uma nova dinâmica: seriam quatro eliminatórias realizadas nos bairros de Teresina, com a final no centro da cidade; O jurado seria o mesmo para as quatro eliminatórias, e o festival seria realizado com o apoio da associações de moradores e artistas dos bairros visitados. A categorias concorrentes seriam amador e profissional, com premiações distintas. Tudo acertado, precisávamos de um nome, algo impactante que aliasse identidade cultural e que fosse bom de marketing. Veio o veredicto final - Festival de Música da Chapada do Corisco e, como já estávamos chapados de cerveja, veio o subtitulo, chapadão. Assim nasceu o Festival de Música da Chapada do Corisco-Chapadão.

Para viabilização econômica do projeto contávamos com o bom transito de Henrique junto ao então secretario de finanças da Prefeitura de Teresina, Dr. Firmino Filho, por sinal, hoje prefeito da capital. Foi batata. Lançado o edital do festival a área musical de Teresina abraçou a ideia de uma forma surpreendente. Grandes músicos e compositores, cantoras e cantores piauienses participaram do Chapadão, que teve sua primeira edição em maio/junho de 1995.

Bairros como Mocambinho, Dirceu Arcoverde, Parque Piauí, Bela Vista, Piçarreira, Ininga e tantos outros receberam  o evento com festa em praça pública ou nos ginásios poliesportivos. Lembro de nomes consagrados de nossa música que participaram ou foram descobertos pelo Chapadão, como Rubinho Figueredo, Marlon Rodnei, Ostiga Junior, Paulo Utti, André de Sousa, Frank Farias; com shows nos intervalos de Gabi, Terra Francisco, Ensaio Vocal, Miriam Eduardo e tantos outros.

Passados mais de dezoito anos o Chapadão mudou de formato, foi muito modificado, mas ainda continua um grande festival e bastante significativo para a descoberta de talentos na área musical. Neste ano de 2012, eu, Aurélio e Henrique recebemos, no final de sua 18º Edição, realizada no Teatro de Arena de Teresina, uma placa comemorativa pela criação do evento, entregue pelo Presidente da Fundação, o músico e advogado Marcelo Leonardo e pela coordenadora de música, a cantora Luciana. Temos orgulho de algumas coisas na vida. Ter participado da criação do  Chapadão é uma delas.



Ací Campelo,
23 de dezembro de 2012
via blogue do autor

24.11.15

ADEUS, MINHA BELA TERESINA




Estou sendo saudosista com este artigo, com absoluta certeza e, também, com absoluto prazer. O centro de Teresina, minha bela e querida cidade, está ficando desfigurado, feio, cheio de vazios que a fazem sem vida. Semana a semana uma casa de sentido histórico vai ao chão, sem pena e sem dor. E nós ficamos mais pobres de identidade, de sentidos, procurando no pensamento ao menos uma resposta para tanta insanidade. Claro que existem milhares de respostas, mas nós não queremos escutar as respostas que inventam. A nós, amantes dessa cidade e de sua história, gostaríamos mesmo era que ela continuasse com seus casarões particulares, de onde ela começou e de onde gerou sua gente, suas histórias e nossa herança cultural.

Quando eu fui diretor de arte da Fundação Cultural Monsenhor Chaves, da Prefeitura de Teresina nos anos 90, precisamente de 1993 a 2000, foi feito um levantamento completo de todas as casas, monumentos e prédios históricos da cidade. Um trabalho primoroso feito com todo rigor e dentro dos parâmetros de arquitetura e urbanismo. Lembro que o profissional contratado para o trabalho o fez, muitas vezes, durante a noite para não vazar exatamente o seu trabalho, pois serviria para catalogação e preservação histórica. Milhares de fotos foram batidas das casas, prédios e monumentos da cidade, o que gerou uma documentação guardada pela Fundação Cultural Monsenhor Chaves a sete segredos. Coitados de nós. Quando a documentação foi para a Prefeitura de Teresina as casas começaram a cair de uma por uma. Longe de mim qualquer ligação, mas a coincidência foi incrível. Lembram? O centro de Teresina começou a despencar de uns dez anos para cá.

O que nos deixa tristes e impotentes diante de tanta barbárie pela ganância especulativa, é a indiferença de muitos. A gente escuta de pessoas formadoras de opinião de que Teresina é novinha em folha, portanto, não tem ainda memória histórica. Para que conservar casas velhas, prédios velhos caindo aos pedaços apenas de 150 anos? Vai ter memória histórica quando, então? Dessa forma, infelizmente, nunca. Outros, usando de uma bobice sem tamanho a taxam de cosmopolita. Cidade de passagem, onde o novo mais novo do mundo globalizado está aqui no outro dia. Somos antenados mais do que os outros. É tanto que não damos valor ao que é nosso: ao nosso cantor e compositor, ao nosso bailarino, ao nosso artista plástico, ao nosso teatro, aos nossos literatos, ao nosso futebol, ao nosso bumba-meu-boi, ao nosso folclore. Claro, estamos derrubando tudo. Queremos tudo no chão e que nada se levante, só assim podemos louvar e amar ainda mais o que é do outro. Falta a muitos a percepção de que o outro guardou, e vende caro a nós mesmo aquilo que é deles e que eles louvam e amam.

O exemplo que nos deixa de cabeça baixa está em nossa própria região.Vamos aos estados do Maranhão, onde o centro histórico está totalmente preservado e faz um bem danado você andar à noite e ver dezenas de barzinhos abertos em frente a belos prédios e casarões, onde artistas encantam e cantam seus ritmos e folguedos: O Estado de Pernambuco, com seu Recife velho fazendo um contraponto com o Recife novo: A Bahia, onde o pelourinho destila história e cultura por seus corredores pintados de cores fortes e iluminados, e o Ceará, bem aí, onde o Complexo do Dragão do Mar faz convergir em um mesmo espaço a diversidade cultural em todos os sentidos. Nós, aqui não. Somos os tais, os maiores do mundo, não precisamos de história, muito pior de identidade cultural, ainda mais de simples casarões e prédios velhos a atrapalhar o progresso! Progresso que vem em quatro rodas - e tome carros em lugar de gente. Daqui a pouco Teresina será um grande estacionamento. E nós, que gostamos tanto dessa cidade, estaremos enjaulados e condenados a viver de lembranças. Lembranças? Não, para ser melhor, de banzo. Nunca mais veremos Teresina nenhuma.



Ací Campelo,
em 27 de julho de 2009
via blogue do autor