15.10.18

Palha de Arroz, Capítulo XXXIX, Fontes Ibiapina


XXXIX

Sobre a ponte metálica do Parnaíba Velho. Os dois guardas ali de lado. Iam com ele até a estação de Timon.

— (Timon... origem grega. Genitivo plural – plural – das honras. Honras de quê?! De quem?!... Diabo, pra que estudei?!...)

Aí pau de Fumo sentiu que se era de um sapo viver chorando de fome ouvindo a sapa velha e seus sapinhos chorando de fome a vida toda, melhor morrer. E o melhor lugar era aquele. Também a hora era oportuna, que o dia não havia ainda amanhecido. Ali nas águas, ele se transformaria num sapo de verdade. E ficaria chorando com os sapos de verdade, esperando um Natal cheio de luzes, para todos os sapos do mundo cantarem de barriga cheia.

Fechou os olhos. Fez de conta que ali era o Poço da Usina. E fez de conta que os dois guardas que estavam ali a seu lado – armados até os dentes – perseguiam-no numa carreira maluca e desatinada. Aterrou os pés e correu. E, da prancha entre os dois vagões, gritou:

— Filhos duma puta!


em Palha de Arroz, 
Teresina: Oficina da Palavra, 2004, 4ª edição