31.8.14

DOIS RIOS




há em minha terra dois rios
silenciosos

um
estendido em verde tapete de aguapé
onde não mais trafegam canoas
apenas diminutas criaturas buscando seu pasto

outro
árido tapete árabe
onde todos caminham acima de sua face



Adriano Lobão Aragão
em As cinzas as palavras
Teresina: dEsEnrEdoS 2014

SÃO JOSÉ




estes que talvez aqui não mais se encontram abrigados
em respectivos jazigos que dos herdeiros herdaram
nesta terra se revestem de lembrança e esquecimento

sob a sombra de antigas árvores silêncio tardio
sob o passo lento de transeuntes e de abandonados
gatos leves passos sob céu chuva e nuvem se resguardam

apenas o ponto e o porto em que seus corpos decompostos
inertes se reencontram dispersos nesta mesma terra
semente perene como a noite que lhes protege

sob a sombra destes túmulos nas linhas desta lápide
talvez aqui se revestem de esquecimento e lembrança



Adriano Lobão Aragão
em As cinzas as palavras
Teresina: dEsEnrEdoS 2014

17.8.14

FANTASMAS DO VELHO BALNEÁRIO DOS DIÁRIOS




Fantasmas, fantasias oníricas de viciados em drogas, inumeráveis pichações e imundície velam o antigo casarão de dois pavimentos, abandonado na Praça Ocílio Lago, onde funcionava o Balneário do Clube dos Diários, no Jóquei. Só os despojados, como o idealista, advogado, escritor e jornalista, Kenard Kruel, topariam a proeza de resgatar o prestígio do vetusto patrimônio, transformando-o em centro de manifestações artísticas.  E o show já começou. Exige apoio de autoridades e amantes das artes. Kenard iniciou a limpeza, atende compromissos no local, organiza arquivos da Fundação Nacional de Humor. O médico José Aírton juntou quatrocentos amigos, festejou seu aniversário ali, conseguindo 12 mil reais para a instituição. Construtoras prometem reformas.

A Fundação Nacional de Humor projeta, para breve, show e escola de humor na praça, museu de arte contemporânea, além de festivais de cartuns, caricaturas, quadrinhos.

A geração atual pouco ou nada sabe sobre aquele bucólico prédio e sua praça, urbanizada há algum tempo. A tarefa inicial de Kenard Kruel já espantou boa parte das miragens e lucubrações.

Entre as décadas de 1950 e começo de 60, o Bairro do Jóquei praticamente não existia. Imensa floresta cobria quase toda a Zona Leste de Teresina. Só a velha ponte de madeira, onde, hoje, se ergue a Ponte Wall Ferraz, servia de passagem sobre o Poti. Construiu-se outra ponte, a Juscelino Kubistchek, de concreto, na segunda metade dos anos 50, ligando a Avenida Frei Serafim à Zona Leste. Coronel Miranda, proprietário do jornal O Dia, juntou grupo de notáveis amigos, fundaram o chique Jóquei Clube, com manhãs dominicais lotadas de banhistas, além das corridas de cavalos e tertúlias semanais. Endinheirados adquiriam lotes enormes e arborizados, construíam modernas residências, desfrutavam a noturna temperatura serrana.

O Jóquei Clube atraiu expressivos associados do Clube dos Diários. Em resposta, líderes diaristas, comandados por Moisés Cadah, doutor João França, Edgar Nogueira, general Gaioso, Durvalino Couto, João Carneiro e Camilo Santos Hidd, fundaram o Balneário Clube dos Diários, que se estendia da atual Praça Ocílio Lago à Avenida N. S. de Fátima, onde se ergue um supermercado. Duas piscinas e bar ocupavam o segundo pavimento do prédio. Aos domingos, música ao vivo. Filhos de sócios iam do centro da cidade, de ônibus, lotavam o balneário a partir das 9 da manhã de domingo, até 2 da tarde. Certa manhãzinha, ainda escura, Hermínio Conde, neto de Antonino Freire, governador no início do século XX, dirigiu-se ao Balneário ainda deserto. Num salto do trampolim, faleceu.  Meu cunhado Marcos Hidd, filho de Camilo Santos, parece delirar, recordando um tempo, quando Teresina começava a se esbaldar nos recentes balneários, Jóquei, Diários, logo mais o Iate Clube. Ainda se curtiam deliciosas manhãs, nas praias alvíssimas e límpidas águas do Poti e Parnaíba.   

A Fundação Nacional de Humor tenta resgatar alguns sonhos que se perderam com o crescimento e modernização de Teresina. Se não cuidar, fantasmas e fantasias oníricas cuidarão do lixo.



José Maria Vasconcelos
via blogue do poeta Elmar Carvalho
em 16/08/14

CANTO DO RIO




Chore não
Um rio não morre à toa
Corre na terra e não voa
Rio não é avião
É só um leito assentado
eternamente pousado
entre as agruras do chão

o rio é um berço da infância
onde se banha a lembrança
do nosso corpo molhado
O rio é uma estrada d'água
onde lavamos a mágoa
de um sonho não consumado

Falo do Parnaíba
rio que já faz tempo
vai morrendo pouco a pouco
vai pouco a pouco morrendo

Falo do Parnaíba
que deságua no meu peito
cheio de peixes graúdos
e de Torquatos pequenos

Seus coloridos vapores
as beiras cheias de cores
as margens dos meus amores
e dos mergulhos serenos

Falo de um rio bonito
que existiu noutro tempo
E hoje persiste mito
pela poesia do vento



em MAIS UNS: Coletivo de Poetas
Brasília: 1997

CINE SÃO LUÍS, Geraldo Borges


Estou em Teresina.

Toda vez que venho a Teresina hospedo-me no antigo cine São Luis, ou melhor, no velho  prédio onde funcionava o cinema São Luis na década de cinquenta. Hoje é apenas um hotel modesto próximo a Praça Pedro Segundo, e ao lado do Clube dos Diários. Mudaram a sua arquitetura funcional. No lugar amplo onde existia o auditório construíram quartos com suítes, onde existe também televisão. Mexeram em tudo por dentro. Demoliram a cabine onde o filme rodava e ia se projetar na tela para deleite dos fregueses, demoliram as bilheterias, expulsaram  os lanterninhas, os porteiros, de caras de poucos amigos, e os fiscais que conferiam as nossas carteiras de estudantes. Só conservaram mesmo a fachada, que ainda faz relembrar um pouco o cinema.

O Cine São Luis me faz recordar o meu tempo de menino. Agora quer estou sozinho na minha suíte pego – me a pensar nos velhos faroestes tocadas a ferro e fogo, com cavalgadas  e diligencias, e, às vezes, índios.

Nunca pensei que um dia o Cine São Luis se tornasse um hotel. O pior é que muitos prédios históricos foram abaixo para dar lugar a estacionamentos de carros.

Não dormi bem essa noite. Pois estava com medo de perder o avião, embora tivesse avisado ao recepcionista que me acordasse pelo telefone.

Durante a noite tive um sonho. Sonhei que estava em um castelo, servido por mordomos e criados. Mas a maioria dos hospedes do castelo eram fantasmas, velhos astros e estrelas de filmes em preto e branco da Paramount , da Columbia, da Metro. Eles falavam inglês. E eu tentava traduzir. Parece que estavam dizendo por que diabo o Cine São Luis tinha se transformado naquele castelo mal assobrado. Tudo estava diferente de seu tampo. As pessoas entravam no prédio sem comprar bilhete, sem fazer fila, sem comer pipoca, o prédio não tinha mais cartazes deles nas paredes. De repente no meio da conversa eu vi Marilyn Monroe arribar o  vestido. Vi namorado de mãos dada se beijando no escuro do cinema. No desfile desses fantasmas consegui ver em minha mente uma procissão de estrelas e astros que povoaram a minha imaginação aí pela década de cinqüenta, principalmente os que faziam papeis de mocinho e me fazia sair do cinema com os ombros levantados, e caminhando altivo.

Acordei com o toque do telefone. E tentei relembrar os detalhes do sonho. Com certeza esqueci a metade. Talvez tenha visto muitos filmes, remendado. Levantei. Esfreguei os olhos. Pisei meu sonâmbulo no assoalho. Acendi a luz. E pensei, seria maravilhoso se eu encontrasse Marilyn Monroe inteiramente nua no meu banheiro. Talvez eu não estivesse ainda acordado completamente. A Água fria me traria à realidade. Mudei de roupa. Arrumei a mala e desci. Não deu tempo de tomar café.

Pedi um táxi. Rumei para o aeroporto. Embarquei.

O avião alçou voo. E durante a viagem num esforço de memória e imaginação rebobinei, com direito a fitas quebradas, quase todos os filmes que eu vi no velho Cine são Luis do tempo de minha infância. E só assim comecei a entender porque escolho, para me hospedar, sempre que venho a minha cidade, o velho prédio onde funcionou o Cine São Luis.

Arnaldo Albuquerque - Um Humor Sangrento



Documentário de curta metragem sobre um dos mais importantes nomes da cultura marginal piauiense da década de 1970. Realizado para o curso de graduação em Comunicação Social da Universidade Federal do Piauí - UFPI, em março de 2014.

Direção: Francisco Monteiro Júnior, Nícolas Barbosa e Gustavo Rodrollí
Roteiro: Fernanda Grazielly

16.8.14

PRÉDIOS INTEIROS SE ERGUEM NO CÉU DA TUA BOCA II ou segunda visão, Renata Flávia


uma cidade se cria
na poça de lama da avenida
a velocidade dos meus sonhos a atravessam
parte no meio o retrato da cidade diluída
pingos de amor deslizam na minha cara
milhões de pássaros povoam meu céu de boca
multidões dentro dos meus olhos fechados
te sou construída
te sou partida
te sou língua
lambi a cidade partida.


Renata Fláviaenviado pela autora (lustredecarne.zip.net)

PRÉDIOS INTEIROS DE ERGUE NO CÉU DA TUA BOCA I, Renata Flávia


cada verso deflagrado
escorre avenida, esgotos
todo personagem que escolho
respinga delírio, asfalto
monstros disfarçados
paradas de ônibus
bêbados ensaiando passos malabarizados.
poças de neon brilham no asfalto preto
cidade refletida respinga
na cara, língua desliza
lama, desejo
beijo a cidade, deliciada
atropelada pelas chuvas de janeiro.


Renata Flávia
enviado pela autora

PRAÇA DA COSTA E SILVA, Renata Flávia


de olho no Parnaíba,
o poeta se eterniza
numa sedutora
escuridão de orgias.


Renata Flávia
enviado pela autora

PRAÇA SARAIVA




praça dos loucos por deus ou sexo
dos infames, dos clérigos
praça saraiva decaída
mantém viva almas estudantis que burlam aula
almas amáveis que namoram em jaulas
guardada entre grades impostas
entre grades que insulta
te agride, te repulsa
praça saraiva dos loucos por deus
ou sexo



Renata Flávia
enviado pela autora

11.8.14

O oleiro, Graça Vilhena


um dia viu
no fundo da fornalha
que sua vida secara
entre os potes


em PEDRA DE CANTARIA
Teresina, Nova Aliança e Entretextos, 2013

16.4.14

NATAL EM TERESINA, Gregório de Moraes


Amo esta gente. A terra, seus destinos...
Os mangueirais, o Mafuá contente
Amo este sol que nasce de repente
Glebas que cantam tão sagrados hinos

Natal no povo. Repicar de sinos
As sombras deslizando lentamente
Luzes no altar, no coração da gente
Cantos de amor, cheios de fé, divinos!

Natal de minha terra para o mundo
Um coração repleto de venturas
Dizendo: Deus, no vento, nas alturas.

É o simbolismo deste amor fecundo
Que se revela até nos arvoredos
Como entre nós no entrelaçar de dedos.


Gregório de Moraes
em Auroras Perdidas
Rio de Janeiro: 1970

14.4.14

chuva® em teresina [ modo de usar ] ou [ o produto pra tomar ]




pesquisas confirmam que chuva® se apresenta na forma de pequenos caroços d’água que demoram que só... pra cair por aqui (ou virar um toró). haveria múltiplas aplicações para chuva® – porém existe o problema d’ela quase nunca aparecer, não podendo, assim, ser aplicada. sob esse céu-sol que sua nossa cidade, chuva® é um raro chiado, mas, quando chuvisca, bochicha e remexe a linguagem: pau d’água, pancada, ou procela varada, só com muita reza braba. seu joaquim, raimundim e seu vizim pedem um pouco de chuva® – acuda! mas veio foi um sereno e piorou o momento (repara o veneno): farelo d’água com sol de rachar faz é abafar; esquenta tudo e, mais ainda, a moleira que azucrina. estudos recentes atestam que chuva® é um cochicho – chiado baixinho, na boca do povo, talvez um boato que some de novo, um conceito empenado, bololô esculhambado, relaboque de desejos inventados: quem quer que chova está dentro de casa e não lavou roupa; quem não quer chuva® tem alguma mordomia ou resolve algo na rua. e, dependendo do que a pessoa está fazendo, ela muda o pensamento. neste entretanto de labacé e confusão, não há contraindicação: alguns fazem mandinga; outros passam os queixo, em teresina, dirdobrando – se não tem chuva® ou mar, vamos prum bar. ou vamos pra uma rede – uma rede social – de armador virtual brutal e total: no facebook compartilha-se a vontade por chuva®, até ciberprometendo pagar uma promessa, contudo, pós-moderna porque, o santo, depois a gente acerta; ou toda teresina trova no twitter toneladas da hashtag #chuvathe – entrando para o trending topics da tiração de "onda". e quem faz roça clama chuva® pra tentar matar a saudade da fartura. diz-se, apenas por aqui, na capital do piauí, chuva® tem o princípio ativo mais charmoso disponível – o de antever o incrível, o sublime intransferível – olhar pro céu, esperançoso, e o poema de um verso só dizer: tá bonito pra chover.



Thiago E
em Revista Piauí Terra Querida  
Agosto de 2012

Thiago E - síntese biográfica





Thiago E nasceu em Teresina, PI (1986). É poeta de testes, músico, layoutman. Autor de Cabeça de Sol em Cima do Trem (livro e disco). Integra a banda Validuaté, com a qual lançou os álbuns Pelos Pátios Partidos em Festa, Alegria Girar, Este Lado Para Cima e Validuaté ao vivo – DVD e CD. Graduou-se em Letras na UFPI. É editor da revista Acrobata.

11.4.14

RIO PARNAÍBA




O rio Parnaíba segue. A corrente de água vai rápida. A poluição da cidade se faz sentida em plásticos. Mulheres levam e lavam roupas, meninos nus e meninas peladas correm pela beira do rio, eles riem. Adolescentes tecem olhares para adolescentes. Na ponta da beira do rio, surge dona Rita.
 
Dona Rita tem 29 anos e mora na beira do rio Parnaíba. Ela tem cabelos lisos negros, olhos grandes arredondados, pernas grossas, canelas finas e raspadas, coxas douradas, rosto de inocência. Usa sandália de couro e tem cintura fina esculpida. Ela mora com o marido e dois filhos e é bem cuidadosa com a beleza.
De noite os vizinhos se chocam com o amor que vem do seu quarto. Por esse motivo, ela lava a roupa afastada das outras mulheres. E pelo fato de atrair todos os olhares de admiração e desejo, ela atrai inveja. Pro bem ou pro mal, prefere ficar distante das outras lavadeiras. Já insistiu em estar junto, mas elas a ignoram e a olham com desprezo.

Com um pouco de fome, vai Rita trabalhando como dona de casa, fazendo comida (quando tem), cuidando dos filhos, da limpeza da casa, ajudando o marido a catar lixo na rua, ajudando o marido a aguentar a realidade fadada da vida, contanto historinhas de fadas e duendes de outro mundo para os seus filhos, com o peso do olho dos outros nas costas, com o peso do olho dos outros na bunda, nas coxas, vai Rita com o peso das roupas na cabeça, com calos na mão, com a boca carnuda, com a vida torta como a sua assinatura. Lá vai lavar as roupas na beira do rio, mulher de fibra, mãe assídua, com jornada tripla. Multiplicada a outros fatores e motores presentes nela.

Além de viver abaixo da linha da pobreza, Rita, com a saia acima do joelho, até o meio de suas coxas, agacha-se e esfrega uma roupa noutra. “Lavar, lavar, lavar, pra cuidar da casa, da família...” – cantam as outras lavadeiras, longe de Rita. O sol brilha, uma brisa assovia a música. Hoje é quarta-feira. Hoje é dia de Rita. O rio segue e segue belo. Muito mato ao redor e, ao longe, o som das outras lavadeiras cantando. Um som estranho no meio do rio. “Oxe, diacho, o que foi isso?”. Rita pensa, espreita e volta ao seu ofício. As lavadeiras cantam, lavam. A brisa canta, uma sensação de paz domina o lugar, um passarinho passa voando, parecia fugir, mas voava lindamente. Uma flor desabrocha, bem ao lado de Rita, ela não percebe esse fato. Está distraída, concentrada, pensativa (pensando em coisas que eu nunca saberei), linda, com fome, cansada, preocupada com os filhos e com as criancinhas, que viu ontem na TV, morrendo de fome em algum país africano. Coxas douradas molhadas com a água do rio, muito sabão de coco, muita vontade de cortar o cabelo, vontade de estudar, vontade de viver. É Rita levando, lavando, sendo lavada...

Em frente à Rita, uma sombra se forma debaixo d’água. Quando ela percebe, e vai de olho na sombra, um homem branco e nu sai do rio com os braços abertos. Rita, assustada, tenta virar-se e correr, mas ele está perto demais e a puxa pelos pés. Ela cai e bate a cabeça no chão. Debatendo-se, gritando, tenta levantar-se. O agressor, todo molhado, babando e com olhos vermelhos, agarra os cabelos e bate duas vezes o rosto dela no chão. Ela sangra e grita. O homem nu bate pela terceira vez a sua cabeça. Ela já não grita mais, chora. Ele a puxa pelo cabelo da nuca, puxa a vítima para dentro d’água. Antes de desaparecerem no rio, ela grita novamente, uma das lavadeiras ouve seus gritos e entoa o canto das outras lavadeiras para que o som fique mais alto. Rita afunda na água e desaparece. No rio Parnaíba, bolas de respiração flutuam e somem. Rita segue, o rio segue, a vida segue, e é levada, lavada, esquecida. 

TERESINA




São entranhas as suas bocas
Mas não estranho seus muros.

Por dentro da minha casa
Planejo um futuro para ti
THE.

Por que é Teresina e não Teresinha?
Dou-me melhor com as mulheres
Que com as cidades.



José Augusto Sampaio
Desigual, 2012

JOSÉ AUGUSTO SAMPAIO - síntese biográfica


“A literatura é a minha salvação pessoal
e liberação dos meus demônios."


José Augusto Couto Sampaio Neto nasceu em 28 de outubro de 1983, na cidade de Alagoinhas, interior da Bahia, onde viveu até os sete anos de idade. Depois, mudou-se com a família para Juazeiro da Bahia, divisa com o Estado de Pernambuco, ao lado da cidade de Petrolina. Ambas as cidades banhadas pelo Rio São Francisco. Aos 18 anos, mudou-se para Salvador, Bahia, junto à família novamente. Cursou Publicidade e Propaganda na Universidade Católica de Salvador. Casou-se aos 24 anos e mudou-se para Teresina, Piauí, onde reside e trabalha como publicitário, produtor e escritor.

Publicou em 2010 os livros “O outro lado do olho”, de poesia (para ler clique aqui) e “Imagine alguém te olhando do escuro”, de contos curtos (para ler clique aqui). Em 2011, publicou “Narrativas do horror cotidiano”, livro com três contos longos (para ler clique aqui). Em 2012, no Salipi (Salão do livro o Piauí), publicou “Desigual”, segundo livro de poemas (para ler clique aqui). Em 2013 publicou “afetos, abismos & engenharias”, terceiro livro de contos (para ler alguns dos contos clique aqui) e O Livro das Iluminações de Tassiano Simões, sob o pseudônimo Tassiano (para ler clique aqui). [+] informações: facebook / blogspot.

10.4.14

AS VOLTAS DA PRAÇA PEDRO II, de Barros Pinho



praça pedro II
há quanto tempo não te vejo
só converso contigo
com os olhos na infância
em dúvida nos braços da adolescência
nos beijos rápidos da namorada fugidia
entre um e outro fícus benjamim
no tempo que se volta na busca
de outras voltas nunca
a derradeira no começo dos sonhos

praça pedro II guardo de ti
a leitura de muitos olhos atônitos
em tudo havia a inocência em flor
desejos dispersos no esperar
espera que nunca se confirma
até dizer que teresina vive
sempre dentro de mim



Barros Pinho
em Planisfério 2ªed.
Teresina: Corisco, 2001


9.4.14

Barros Pinho - síntese biográfica




José Maria de Barros Pinho (Teresina, 25 de maio de 1939 / 2012). Poeta, contista, político (Prefeito de Fortaleza/CE entre 1985 e 1986). Principais obras: Natal de barro lunar e quatro figuras no céu (1960), Planisfério (1969), Circo Encantado (1975), Natal do castelo azul (1984 ) e Carta do Pássaro (2004). A Viúva do Vestido Verde, publicado pela Record, foi cotado para o prêmio Jabuti de Literatura. Carta do Pássaro, reconstitui sua infância no engenho de seu avô, às margens do Rio Parnaíba, no Piauí. Membro da Academia Cearense de Letras.

8.4.14

DOPADO NO CORAÇÃO MERCADO




são os peixes das casas mortas, sem curvas
                                                          e sem virgindade
eles não têm receitas paras os comprimidos,
eles não têm doutores que curem nuvens.

eu disse a truffaut o que queria
e ele olhou como se tudo que pedi
fosse pouco para um dia.

não morro de nada
converso com os invisíveis e eles me agradam
são ternos e isósceles
escapam e pedem misérias
ficam na beirada e vazam
ouvem as parees e dizem:
tenho um quarto sem nada.
e digo:
tenho desenhos no tornozelo.

passamos os muros e as extensões
existe o que se espalha na rua
as pessoas recebem os passes e os acordes
se assustam com a poesia em caixas de remédio.



Demetrios Galvão
em Insólito 
Fortaleza: Editora Corsário, 2011