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7.11.16
SONETO DO RIO PARNAÍBA, Odilon Costa, filho
A primeira visão que dos teus olhos
minha voz arrancou sobre o jardim
foi das águas ao luar e das canoas
que viram minha infância e tua infância.
E há, neste anseio sempre renascente
de unir as nossas almas num só corpo,
uma repetição dos aconchegos
do Parnaíba com as lavadeiras.
Naquele tempo, nupciais e puras,
as mulheres vestiam-se de peixes,
uma camisa ou nada sobre a pele,
nádegas, peitos, púbis ofertados,
e o rio era possuído e as possuía
no mergulho auroral entre os barrancos.
Odilon Costa, filho
Poema da série "Arca da Aliança"
Publicado em CANTIGA INCOMPLETA
Rio de Janeiro: José Olympio, 1971
15.4.16
ONDE UMA BARCA VEIO A POETA BUSCAR (A MANDADO), Luiz Filho de Oliveira
– psiu! – diz seo rio –
vamos passear em mim
enquanto eu não vou... sim?
– sim – disse a mavioso convite (e mais disse!) –
vou embarcar assim sem a tal da catacrese – rio nativo
e navegar-te rio de muitos dito rio de minha terra
nossa! tanta terra! de tantos poetas & de gente tanta
que rio – rio – porque te-reverso uma margem apenas
emerso duma taba de imenso contentamento poti
como um piaga a desafiar-te-desafinar – rio grande
pois sei: és do filósofo antigo
o não-mesmo-rio-porque-passaste
e depois que a tua ira foi apascentada por Leonardo
– estando poeta-mentecontínua-revolucionário –
ficou mais fácil ir ter contigo ao teu catre alegorizado
mesmo agora em estado leito lento paciente porque
se canos & projetos já te-levaram as lavadeiras – rio dejeto
a largo canto canto o largo das águas em verso de monge velho
mas à margem de tuas melhores canetadas – rio verba
aquiagora levas a hidromassagem aos motéis urbanos (um caso)
onde secamente em programas as garotas falam falsas propagandas
beiravidando contra o rumo do mundo de Mundoca novamente
e marginália mundana a cidade ainda te-reduz (o descaso)
de água e cais e caminho e mesa e banho
a esgoto latrina lixeira tema de campanhas
campanas pro dinheiro mesmo!
não mais Letes (esquece!)
nem Estiges nem Infernos (estigmas do poético)
nestes versos te-quero música apenas: let’s play that!
e mais que o mar da costa – rio dádiva
vem e silva selvas de brisa vivas
e se o mar é longe e longo em linha
tu – rio – és doce e não amaro a toda a vida
linguagem para tudo quanto praias:
praio doce coroa & brotinhos
no averedado da verdade de teu chão – rio – caminho
e em filme grave gravo estas palavras em eco
lógico: não caço garças nem choro em coro
só aporto lado a lados: leito ladino (trino) se
margem a margens (imagens emergindo)
te-desavesso os versos líquidos – rio fio
todavia se a nado não cheguei a
nada de novo sob teu céu sobre as águas
liquido: aceito passear em ti nessa barca
por onde tropica o sol destas praças
(veio)
– tá pronto, seo moço?
(rio)
(De Teresina a Timon, sôbolo rio Parnaíba, abarcando-o.)
Via Deleituras em 25 de novembro de 2009
10.4.16
VOLLEY BAR, William Melo Soares
volley bar
rock e pelada
coroas do parnaíba
nêgo valti
dava o mote
piau frito
e outras coisas
o pôr do sol
o sorriso
menina flor da paisagem
Piedade oferecia
rabo de tatu gostoso
volley bar
sorriso e farra
vida efêmera
eterna areia
volley bar
sorriso e farra
vida efêmera
eterna areia
volley bar
gente bonita
lâmina d'água
à flor da areia
William Melo Soares
em Nadança dos Peixes - Antologia Provisória
Teresina: Bienal, 2015
12.1.16
TERESINA VISTA DA COROA DO RIO PARNAÍBA, Chico Castro
da coroa do parnaíba
vejo teresina se mexer
indiferente flor na ponta de um fuzil
com todas as suas dores e seus apitos
vejo teresina se mexer
da coroa do parnaíba
depositário de tensões da semana:
peladas, barracas, flertes, putas
e da polícia que impede
os bêbados morrerem mais cedo
como se a vida que teresina
face a face impõe
fosse vida, fosse via
de coroa do parnaíba
vejo teresina se mexer
sem nenhum devir.
Chico Castro
em CAMISA ABERTA e OUTROS ASTRAIS
Teresina: 1976
Teresina: 1976
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