15.10.18

OS CARNAVAIS, A. Tito Filho


MONSENHOR JOAQUIM CHAVES escreveu que o carnaval teresinense até 1959 “era mui modesto e consistia quase que exclusivamente no entrudo” – o entrudo brutal, das bisnagas, que esguichavam água suja, vinagre e outros líquidos; os limões de cera, as cabacinhas, que se derramavam em roupas e cabeça. O entrudo era sujo e grosseiro: usavam-se nele até baldes, bacias e gamelas dágua de mistura com porcarias.

Em 1859 começou a desaparecer o entrudo. Houve o primeiro carnaval em Teresina. Fundou-se uma sociedade carnavalesca. Brincou-se de domingo a terça-feira. Bailes de máscaras no Teatro Santa Teresa. Desfile de música e cavalheiros mascarados pelas ruas. Rapazes já se fantasiavam de mulher.


1860 a 1862

Folguedos bem animados. Domingo, 19 de fevereiro, mascarados a cavalo e a pé percorreram a cidade. Na terça-feira, baile no Santa Teresa. Os anos seguintes, 1861 e 1862, não ofereceram novidade.


1863 a 1869

Local dos principais folguedos: lardo da Saraiva, hoje praça Saraiva. Muitas figuras grotescas percorriam as ruas, com bandas de música e foguetório.


1870

Surgiu a Sociedade União: quarenta sócios. Folguedos no domingo, 27 de fevereiro, praça Saraiva, 16 horas. Mesma hora, segunda-feira, na praça do Quartel. Primeiro de março, baile. Um grupo de 12 foliões andou pelas ruas, de calça, colete, paletó de brim branco e barrete verde.


1871 a 1892

Carnavais com rico sortimento de máscaras, gorros e bonés. Bailes e passeatas.


1893

Animadíssimos festejos. Apareceram dois clubes carnavalescos, que se saíram galhardamente.

CLUBE DOS FENIANOS. Realizou formidável zé-pereira. A cidade em peso prestigiou o baile de ricas fantasia, nas quais primava o outo, a seda e o veludo. Salões esplendorosos. Festa deslumbrante que durou até 2 da madrugada. Terça-feira gorda houve marcha triunfal pelas ruas: banda de música, corneteiros e tambores. Pelotão de cavalaria. Carros alegóricos. Mascarados. Uma carruagem de garotas fantasiadas. Depois do desfile, piquenique.

O outro clube, chamado Fênix, deu recepção ao Príncipe de Carnaval, em duas grandiosas marchas triunfais e um suntuoso baile.


1894

Pomposo programa do Clube do Fenianos. Dois grandes bailes, domingo e 3ª feira, ambos na Câmara dos Deputados. Entusiasmo inexcedível. fantasias ricas e deslumbrantes. Música ruidosa. Muito luxo e elegância. No primeiro baile, por exemplo, Dona Mundinha Rosa fantasiou-se de Aurora: vestido de seda cor-de-rosa, decotado, coberto de gaze branca estrelada. Rodas prateadas na fronte. Custoso diadema no alto da cabeça. Luvas de seda cor-de-rosa, bonito cinto, delicados sapatos prateados, meias de seda cor-de-rosa. estava acompanhadas das filhas Dedita e Déia. No segundo baile, apresentou-se de Cigana, saia de veludo carmesim, com larga barra de veludo preto. Enfeites dourados, preso por largo fio de ouro, com triângulos, chaves e compassos. Sapatos pretos, meias de seda encarnada.

Dona Sinhá Avelino compareceu no primeiro baile fantasiada de Água. Trajava vestido de cetim azul com larga barra de cetim branco, em que se viam pintados peixes e mariscos. Meio corpete com escamas douradas. Volta e pulseira de coral. Coroa de musgo e uma grande estrela-do-mar.


em OS CARNAVAIS DE TERESINA (1972)