15.10.18

meu coração é vazante de rio, Carvalho Neto


lágrimas de Deus ou do diabo
correm nesse rosto argiloso
nesga de sofrimento
peixe e farinha
campos, luas, sumidouros
ninguém vai sofrear meu coração
quando na invernia da memória
eu ouvir a rapsódia amarantina
porque meu coração é vazante de rio
onde plantaram dois alqueires de medo
dez de solidão
sob a verdura das levadas estarei
mansamente louco
porosamente outonal.


Carvalho Neto
Em "Da Oportuna Claridade",
Zodíaco: Teresina, 1997