15.10.18

Entrevista com o poeta Carvalho Neto, por Elias Paz e Silva



João Ribeiro de CARVALHO NETO nasceu em Amarante (PI), em setembro de 1944. Estudou em Teresina, São Luís, Salvador e Fortaleza, participou do movimento estudantil e graduou-se em Odontologia na Universidade Federal do Ceará.

Funcionário público, reside em Teresina (PI) onde trabalha no Programa Saúde da Família.

É autor dos livros: Variantes do Berro (1978); Arquitetura do Ser (1982); Da Oportuna Claridade (1997); no prelo Remansos (2008).

Participou das antologias: Baião de Todos – Editora Corisco (PI); Visão Histórica da Literatura Piauiense – Herculano Moraes; Nordestes – Fundação Joaquim Nabuco (Recife – PE); Antologia Poética – Projeto Mão Dupla (PI-CE); A Poesia Piauiense no Século XX – Assis Brasil.


Entrevista com o poeta Carvalho Neto

Elias Paz e Silva – Como nasceu o “poeta” em ti? Em que momento “houve luz”?
Carvalho Neto – Quando entendi que ao ser escolhido pela poesia, a eterna linguagem do mundo, o ser poeta significava compartir. Fiat lux!

EPS – Testemunha e participante ativo da militância estudantil nos “anos de chumbo”, o que nos tem a contar à nossa geração?
CN – Que a educação é fundamental na formação de uma sociedade livre e democrática.

EPS – Você já se libertou dos fulgores da década explosiva de 60 ou relâmpagos de sonhos ainda reverberam agora, depois dos 60 anos?
CN – há que se falar da aurora
da minha
da tua vida.

EPS – Como se dá o seu processo criativo, como nasce a poesia em ti?
CN – Só escrevo quando tenho vontade. Para mim é importante o gesto, o ser-em-si, meu quintal.

EPS - Companheiro-amigo de Torquato (Neto) na adolescência, o que nos tem a testemunhar do agora nome de Campus Universitário?
CN – Devo ao Torquato o gosto pela poesia, quando apresentou-me versos de Vinícius de Moraes. Ícone do movimento tropicalista, merece a homenagem. Poetar é correr o risco (Torquato Neto).

EPS – Você diz mais em prosa ou verso?
CN – Um dedo de prosa
O verso é meu universo.

EPS – De “Variantes do Berro” (1978) até “Alegoria” (2008), o que permanece, esteticamente, no Homem-Poeta e qual o fio de continuidade ou ruptura em sua poesia?
CN – O espaçamento entre livros é grande porque produzo pouco. A gente renasce em cada livro, portanto não há ruptura. Há sim, hiatos de agonia.

EPS – Entredentes, é bom desafinar o coro dos tristes? Ou você não rima poesia com alegria?
CN – uns fazem versos na argila
outros no aço
eu me satisfaço
em fazer versos sem cor
se é que faço
está na flor?
na tua boca
no teu delírio...
como posso
se já é um martírio esse morrer de amor?

EPS – Qual o maior (ou os maiores) presente que a vida-poesia lhe deu?
CN – O de poder mergulhar no universo interior abrindo trilhas para a sensibilidade, respeito às diferenças, musicalidade e principalmente para liberdade.

EPS - Dono de um estilo singular, reconhecidamente bem elaborado, de ti se pode dizer “o estilo é o homem”?
CN – Segundo Graciliano Ramos, estilo é o jeito. Concordo.

EPS – Ex-boêmio, líder estudantil, bêbado de sonho, dentista, pai de família, como conciliar o estro artístico com a ética humanista?
CN - Procurando ser transparente, ético, com compromisso social.

EPS – Leitor de clássicos da literatura rebelde sessentista, o que você diz ao leitor atual e à geração de leitores do futuro?
CN – dos corredores do tempo
saí batido, deserto, verdadeiro.
ansioso
digo para mim
em verso quase inteiro
confesso
faria tudo de novo.



Entrevista realizada por Elias Paz e Silva

Publicada originalmente em Overmundo