7.11.16
SONETO DO RIO PARNAÍBA, Odilon Costa, filho
A primeira visão que dos teus olhos
minha voz arrancou sobre o jardim
foi das águas ao luar e das canoas
que viram minha infância e tua infância.
E há, neste anseio sempre renascente
de unir as nossas almas num só corpo,
uma repetição dos aconchegos
do Parnaíba com as lavadeiras.
Naquele tempo, nupciais e puras,
as mulheres vestiam-se de peixes,
uma camisa ou nada sobre a pele,
nádegas, peitos, púbis ofertados,
e o rio era possuído e as possuía
no mergulho auroral entre os barrancos.
Odilon Costa, filho
Poema da série "Arca da Aliança"
Publicado em CANTIGA INCOMPLETA
Rio de Janeiro: José Olympio, 1971
CIDADE PACATA, Nathan Sousa
ao poeta Paulo Machado
Não há galos para despertar
as manhãs escaldantes de Teresina,
mas há fumaça e buzina na Barão de Gurguéia,
com carros tirando fino
no vendedor de pamonhas.
Pamonha de milho,
doce ou salgada,
para o desjejum - grita
o vendedor.
Às quinze horas
Antonio do Quebra Queixo
bate a mala de madeira
(insistindo em tornar a vida doce)
com a masca de fumo na boca.
No bar do Chico,
Gladstone Sucupira pede uma moeda
para jogar na máquina caça-níquel,
dois cigarros Derby
e a caixa fósforo
(emprestada)
disparando
um de seus delírios
ao me avisar que Eric Clapton
trocou sua guitarra
por um saco de mangas de fiapo,
roubadas em Timon.
Willamy France, o Pinto,
faz um olhar espantado
e me pergunta:
como assim, totalmente?
À noitinha, o mesmo
vendedor de pamonhas
tornar a passar
depois de um dia inteiro
tirando fino
na morte.
Nathan Sousa
em O PERCURSO DAS HORAS
Edição Independente, 2012
Assinar:
Postagens (Atom)