ELIS... & NÓS, Cláudia Brandão




Elis, sozinha, já ocupava um lugar especial no meu coração, por sua voz espetacular e por sua capacidade única de dar vida às canções que interpretava. Aprendi a gostar dela com um dos meus irmãos mais velhos, o Iglesias. Quando,  à Elis, juntou-se o “nós”, no famoso bar da zona leste, meu encantamento foi imediato, não só pelo nome, mas pelo clima de descontração e intimidade com a música de qualidade, marca registrada da casa.

Ainda adolescente, começando a cursar Comunicação, passei a frequentar o lugar e a incorporar aquele espírito descontraído de papos sempre animados, sem pressa alguma, quando podíamos discutir desde as mais simples questões do cotidiano às teorias mais complexas sobre a formação do universo. O tema e a conclusão da conversa era o que menos interessavam. Bom mesmo era ficar ali, ganhando horas ao sabor do acaso, sem nenhum código preestabelecido ou formalidade de qualquer natureza.

Em pouco tempo, o Nós e Elis virou a “praça” dos tempos modernos. Lugar de encontro para quem queria ver novos e velhos amigos e saber o que estava acontecendo na cidade. Era como uma confraria, formada por pessoas que gostavam de arte, cultura e “causos”.

A proximidade física com o pequeno palco onde os artistas se apresentavam fazia com que nos sentíssemos parte do show. Dava até para interagir com os músicos, pedindo a canção da nossa preferência. Tudo atendido na maior cordialidade possível. Lembro do Geraldo Brito, do Netinho da Flauta, da Laurenice França, do Cruz Neto e de tantos outros artistas piauienses que batiam ponto assiduamente por lá.

O lugar era apertado, mas nem por isso desconfortável. Pelo contrário, fazia parte do charme do bar o número reduzido de cadeiras, porque assim circulávamos de um lado a outro, permitindo que todo mundo pudesse encontrar todo mundo. E, cada vez que esbarrávamos em algum conhecido, era motivo para um brinde, uma celebração especial.


Ao pé do balcão, sob a luz do luar, começaram grandes amizades, alguns namoros e, dizem, até casamentos. Também ali se perderam grandes amores. Mas todo bar que se preze precisa mesmo ser testemunha de histórias de amor, tristes ou alegres. E com o Nós e Elis não foi diferente. A mais triste de todas, porém, foi o anúncio do fim do bar. Perdíamos a nossa referência, nosso templo de lazer, ficando em nós apenas a saudade de um lugar em que a boa música embalava nossos encontros, sob o olhar silencioso da pimentinha Elis.



Cláudia Brandão
em "No Nós & Elis: A Gente Era Feliz – e sabia"
Teresina: Gráfica Halley, 2010
Organizado por Joca Oeiras