É NOITE




É noite,
como todas as noites
indecifráveis
por onde arrastei
minha sombra sinuosa

(sinuosa
e fragmentada
tal as ruas
e avenidas
de Teresina)

por onde eu temperei
minha carne
nos sais da distância
em idade imprópria
para o adeus.

Esta noite
povoada de silêncio
e de vozes
que se eternizam
como música
doída
não é outra
senão
a mesma noite
que outrora
revelou para sempre
o que na matéria se escondia.

Noite
noite de iluminação amarela
noite sem vultos
noite tão somente noite
hoje
ontem
onde eu estive
sentado na janela
do quarto dos fundos
da casa de minha avó
ou à mesa da cozinha
às 03:30h
debruçado
sobre a barca de Dante.

Esta noite
– esta mesma
e eterna travessia
de minhas retinas
em ruínas –
pode ser apenas a angústia
de um dia antes do raiar do dia

ou um alarido surdo
e indecifrável
como todas as luas
por onde arrastei
minha dor sinuosa

(sinuosa
e fragmentada
tal as ruas
e avenidas
de Teresina).



Nathan Sousa
enviado pelo autor

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